Exército pede a médicos do IML que ajudem GTT a identificar ossada de militantes
Saulo Araújo
Seis peritos do Instituto Médico Legal (IML) do DF fazem parte de uma das missões mais complexas do governo brasileiro: identificar corpos de integrantes da guerrilha do Araguaia, passados quase 40 anos do confronto. A equipe se juntou, em agosto deste ano, a militares do Exército, agentes da Polícia Federal, pesquisadores e observadores autônomos para compor o Grupo de Trabalho Tocantins (GTT).
O GTT foi criado por meio de uma portaria do Ministério da Defesa para fazer valer o cumprimento de ordem judicial expedida pela Primeira Vara Federal do DF, que determinou à União fossem procurados os restos mortais de guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PC do B). A ação foi movida por familiares dos desaparecidos.
EXPERIÊNCIA RECONHECIDA
O trabalho dos peritos é considerado um dos mais importantes da operação e eles não foram escolhidos por acaso. A experiência em atuar na identificação de corpos em acidentes de massa, como na tragédia com o avião da Gol, em setembro de 2006, que caiu na Floresta Amazônica, matando 154 pessoas; e no incêndio que vitimou mais de
300 pessoas num supermercado de Assunção, capital do Paraguai, em 2004, credenciaram os profissionais a participarem da missão no Araguaia.
Apesar das viagens constantes para a região e a distância da família, eles garantem que se sentem honrados por serem lembrados. "Fomos convocados pelo governo brasileiro para trabalhar num caso que faz parte da história do País e isso nos deixa muito orgulhosos. Além de poder colaborar, estamos representando o Distrito Federal e uma instituição bastante respeitada que é o IML de Brasília", destaca o chefe do Laboratório de Antropologia Forense, Ricardo Frade, que também é coordenador da equipe.
O trabalho dos membros do GTT é feito em conjunto. Uma equipe de pesquisa identifica familiares e moradores da região que podem contribuir com informações de onde possam estar enterradas ossadas de guerrilheiros. Após essa triagem, geólogos determinam um polígono e iniciam uma varredura com um aparelho chamado GPR, espécie de radar de solo. Quando o equipamento acusa algum pico de variação no
terreno, é bem provável que ali possa estar enterrado um ex-guerrilheiro. É aí onde entra o trabalho dos legistas do IML do DF. Uma vez identificado o local, eles coordenam as escavações. Ao acharem uma ossada, fazem o confronto com dados fornecidos pelos parentes das vítimas, tais como exames dentários ou doação de material genético. Apesar dos esforços, a equipe tem ciência de que a missão será
árdua por duas questões: o tempo passado do evento e as mudanças geográficas na região. "A geografia do lugar mudou muito. As florestas foram devastadas e muita coisa virou pasto. Quanto mais mudanças, mais difícil se torna a operação", diz Ricardo Frade.
NOS RASTROS DA HISTÓRIA
O trabalho de campo do GTT termina no próximo mês, devido à chegada do período chuvoso. Depois, a apuração dos fragmentos de ossadas colhidos no local onde se deu a guerrilha ocorre em laboratórios. O médico-legista Elvis Adriano de Oliveira, 46 anos, que trabalha na área desde 1993, também considera a vasta experiência da equipe de Brasília o fator principal para a seleção e lembra que a responsabilidade é muito grande.
"Nossa experiência em acidentes de massa nos credenciou para trabalhar num caso tão delicado. É um trabalho complexo e que requer muita atenção mas, ao mesmo tempo, gratificante, pois estamos contribuindo para resgatar uma parte da história do Brasil", afirma.
AMPLIAÇÃO DE ÁREAS
As primeiras escavações de solo ocorreram no dia 12 de agosto, nos seguintes locais: fundos de onde hoje é a sede do Departamento Nacional de Infraestrutura (DNIT) de Marabá, Fazenda Água Fria, em Brejo Grande e Sítio Tabocão, na localidade de São Domingos do Araguaia. Todos os municípios ficam no Pará.
A meta inicial do GTT Araguaia era fazer buscas em 14 áreas do Pará e Tocantins. No entanto, a equipe ampliou o número para 19, por encontrarem novos locais com indícios de restos mortais de Guerrilheiros.
O professor do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB), Welintom Rodrigues Borges, também integra o grupo. Ele e o técnico do Laboratório de Geofísica Aplicada, Péricles Macedo, são os responsáveis por operar o GPR, que rastreia o solo à procura de informações importantes para os médicos- legistas do IML. O especialista também se sente honrado. "Me sinto orgulhoso porque são muitos especialistas que poderiam desenvolver esse trabalho. Também é uma honra representar a UnB numa missão tão importante", diz o professor. Ontem à noite, quatro membros da equipe embarcaram para cumprir a última etapa da Missão Araguaia. Os outros dois participantes do GTT viajam amanhã.