No início dos anos de 1950, a explanação dos teoremas sempre terminava com o CQD. E, quando nas provas conseguíamos finalizar a demonstração de um problema com a referida sigla, era a certeza do acerto.
Passaram-se os anos e o velho CQD terminou esquecido para ressuscitar, em todo esplendor e glória, quando da leitura de uma reportagem do jornal carioca “O Globo” (edição de 14 de agosto) que, por sua vez, repassava uma entrevista dada por Alfonso Cano, à revista colombiana “Cambio”, via internet.
Conforme a revista, Alfonso Cano assumiu o comando geral das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em março de 2008, após a morte do líder histórico da guerrilha, Manuel Marulanda. Ele lidera o grupo no momento em que este está acuado, mas ainda resiste”.
Em determinado trecho, o seguinte diálogo:
Cambio: O que significam Venezuela e Equador dentro de sua estratégia política?
CANO: É o sonho bolivariano de uma pátria grande que integre todos os povos da América Latina e do Caribe, que desate seu potencial de modo soberano e nos posicione diante do mundo como uma grande nação.
Tal assertiva significa que as FARC consideram-se parte integrante do sonho bolivariano, alimentado por Hugo Chávez (com o aberto apoio de Fidel Castro), de reconstituir a Grande Colômbia (Venezuela, Colômbia, Equador e Panamá), além de unir os países da América Ibérica numa única e grande nação. Tal objetivo corresponde, sem tirar nem por, aí sendo incluído o Brasil, ao objetivo manifestado pelo Foro de São Paulo desde a sua criação.
Por pertinente, convém não esquecer que Simon Bolivar, responsável direto pela independência da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívioa, buscava a criação de uma federação de nações da América Espanhola, a fim de garantir prosperidade e segurança após a independência, uma vez que ele temia o “imperialismo brasileiro”.
Podemos, assim, considerar que o sonho bolivariano de Chávez e o Foro de São Paulo são os dois longos braços um só movimento inspirado por Fidel Castro e que busca a implantação do comunismo em terras das Américas Central e do Sul. Para alcançar tal desiderato atua como uma pinça, com dois longos braços aparentemente distintos.
Um deles, o chavista, age de forma grosseira, violenta e atrabiliária, bem de acordo com a personalidade do seu dono: cerceia as liberdades fundamentais, domina o Congresso, atrela a economia e o ensino ao Estado, censura a imprensa, seus milicianos agridem os opositores (bem ao estilo dos camisas pardas de Hitler) e ainda usa o dinheiro do petróleo para comprar apoios e consciências (bem próximo, temos o exemplo argentino e, um pouco mais distante, o de alguns países centro-americanos).
O outro braço, o Foro de São Paulo, embora também de inspiração castrista, nasceu e cresceu no Brasil, mais especificamente no Estado e cidade de mesmo nome, por iniciativa de um partido político cujo corifeu, nos dias que correm e por artes do regime democrático, preside o País. É o braço “democrático” que, coerente com seus princípios internacionalistas, defende a criação de organismos capazes de ensejar a integração dos países da América do Sul. E, em nome de tal integração, a fim de não parecer “imperialista”, o Brasil vem abrindo mão de ponderáveis parcelas da sua soberania e da defesa dos seus mais lídimos interesses.
Fazendo a ostensiva ligação entre os já citados braços, a figura de Marco Aurélio Garcia, também conhecido por MAG. Dele, diz-se ser a eminência parda do atual governo brasileiro, no qual figura como assessor para assuntos internacionais, com poder e influência que superam, de muito, os do ministro das Relações Exteriores.
A pretendida integração foi oficializada em 8 de dezembro de 2004, quando os presidentes ou os representantes de 12 países sul-americanos assinaram a Declaração de Cuzco, anunciando a fundação da Comunidade Sul-Americana de Nações, hoje União das Nações Sul-Americanas (UNASUL). Como observadores, estavam presentes representantes do Panamá e do México. Na ocasião, foi anunciada a intenção de modelar a nova comunidade segundo a União Européia, incluindo passaporte, parlamento e, no futuro, moeda.
O episódio da instalação de bases dos EUA na Colômbia mostrou a quanto andamos em termos integracionistas: enquanto Chávez brandia o antiamericanismo tão caro às esquerdas de forma guerreira, reafirmando sua disposição de ir à luta em defesa da independência sul-americana, Lula, mais diplomático, exigia explicações do presidente colombiano e dos EUA, além da garantia de que as aeronaves norte-americanas não viriam a sobrevoar outro território que não o colombiano. Ambas, atitudes supinamente ridículas, mas que, ao fim e ao cabo, deixam às claras o íntimo relacionamento entre os braços já mencionados.
Como queríamos demonstrar.
(*) Osmar José de Barros Ribeiro é tenente-coronel reformado do Exército Brasileiro.