Pelo menos 12 profissionais ficaram feridos quando se manifestavam contra ou cobriam reforma da Educação
CARACAS. Aliados do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, atacaram ontem em Caracas cerca de 50 jornalistas de meios independentes que estavam cobrindo o debate sobre a reforma da Educação do governo - que poderia ser aprovada ainda ontem na Assembleia Nacional - ou distribuindo folhetos contra o projeto. Houve agressões com socos, chutes e pauladas em pelo menos dois pontos da cidade e vários profissionais ficaram feridos, sendo ao menos cinco, que foram levados de ambulâncias a centros médicos, gravemente.
Para colegiado de jornalistas, democracia acabou
Doze jornalistas da Cadeia Capriles ficaram feridos, sendo vários do jornal "Últimas Noticias". Marcos Ruiz, jornalista da publicação, disse que foi atacado a socos e pauladas por quatro agressores. Gabriela Irribarren, redatora do mesmo jornal, e Jesús Hurtado, jornalista do "El Mundo Economía", sofreram ferimentos no crânio.
- Chegaram com uma atitude violenta e nos disseram que esse era um espaço chavista e que deveríamos ir embora. Logo se juntaram a eles outros manifestantes do governo e, com paus, começaram a nos perseguir - disse Patricia Marcano, outra jornalista atacada do "El Nacional".
O Colégio Nacional de Jornalistas (CNJ) da Venezuela divulgou ontem uma nota de repúdio informando que os profissionais que protestavam pacificamente contra a Lei Orgânica de Educação e a favor da liberdade de expressão foram feridos em várias partes do corpo.
Entre eles, também estão Cesar Batíz, Ubaldo Arrieta, Fernando Peñalver, Greky Bolanhos, Sergio Moreno, Alejandro Álvarez, Gleisys Pastrán, Ileana García e Octavio Hernández, segundo reportou o "El Nacional".
O Colégio Nacional de Jornalistas também denunciou agressões físicas a dois cinegrafistas da Globovisión e a um da Rádio Caracas Televisión Internacional que, de manhã, cobriam na Assembleia Nacional, controlada por Chávez, a discussão sobre o projeto.
Para o CNJ, não há mais democracia na Venezuela.
"A selvageria com que foram atacados é uma ação fascista e por isso responsabilizamos o governo nacional por seu constante uso de linguagem bélica de ameaças e ódio", diz um comunicado do CNJ. "Denunciamos ao mundo que a democracia da Venezuela já não está mais em perigo, foi arrasada e destruída quando foram feridos 12 jornalistas da Cadeia Capriles."
Criação da doutrina bolivariana
O projeto pretende mudar totalmente o sistema de ensino venezuelano, da pré-escola à universidade, introduzindo o que o texto chama de "Doutrina Bolivariana". A proposta é adequar o ensino aos princípios socialistas, transformando as escolas em centros de reunião das comunidades sob a supervisão de pessoas pagas pelo governo, e dando ao governo federal o poder de definir as carreiras que os estudantes universitários deverão seguir.
O projeto foi inicialmente aprovado em 2001, mas acabou não sendo aplicado por pressão sociedade civil. A proposta em discussão agora sofreu adendos ao projeto original.