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Artigos-->Cinismo federal, molecagem municipal -- 05/08/2009 - 09:05 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escaras de Sarney nos escândalos do Senado



José Nêumanne



O Estado de S. Paulo - 5/8/2009



Ação do filho deixa claro que o pai só vê na imprensa arma na luta pelo poder



Na abertura de O 18 Brumário de Luís Bonaparte, o velho Karl Marx apropriou-se de uma máxima do mestre Georg Friedrich Hegel, de que a História sempre termina por se repetir, acrescentando que normalmente ocorre como tragédia, mas se repete como comédia. No Brasil, drama e farsa parecem andar sempre de mãos dadas, mesmo quando um prevalece sobre a outra e vice-versa. Não restam dúvidas, por exemplo, de que os escândalos sucessivos que desgastam a já combalida imagem do Senado da República, das cotas de passagens aos atos secretos, terminando com os negócios suspeitos das empresas dirigidas pelo filho do presidente da Casa, resultam da já notória tragédia institucional brasileira. Mas ela também pode provocar momentos capazes de superar a comicidade dos grandes humoristas nacionais, de Martins Pena do teatro imperial a Chico Anysio na televisão desta República atual.



Difícil é resistir ao riso, por exemplo, quando se toma conhecimento de que o presidente do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), deputado Michel Temer (SP), abandonou o conforto de uma licença para assinar, em cumplicidade com sua substituta no cargo e colega de Câmara, Íris de Araújo, uma nota oficial em que o partido recomenda aos críticos de sua postura que vão embora. E que não demorem, mas o façam “o quanto antes”. O ridículo da proposta mora em todas as evidências elementares de que o PMDB, por mais cínico, venal e submisso que seja ao poder que emprega e às prerrogativas dos cargos federais, se reconhece sem autoridade para expulsar os senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS). Por isso, pede que se imolem no altar do oportunismo por terem cometido o único crime sem perdão no jogo sórdido da política nacional contemporânea: o da coerência com princípios. Se não os expulsou, mas pede que eles saiam, e logo, a cúpula dirigente do partido certamente passou o recibo de que as exceções à regra do fisiologismo mancham a agremiação com a alvura dos compromissos deles com a história dela. Um partido indigno de suas antigas tradições precisa ocultar a própria indignidade poupando os dignos do convívio com ela.



A cúpula dirigente não pode, contudo, ser acusada de incoerência em relação a seu militante mais controverso. A nota oficial emanada das mãos suaves de literato do presidente do Senado a respeito da violação da liberdade de informação pedida pelo filho Fernando e concedida por um protégé, o desembargador Dácio Vieira, é um primor de desprezo à verdade dos fatos e à inteligência das pessoas. Vamos aos fatos: Fernando Sarney é o encarregado dos negócios do clã chefiado pelo pai, que se orgulha de um feito em sua biografia - o de nunca haver processado um jornalista no exercício da Presidência da República -, embora tenha mentido na nota ao omitir que, após ter saído do governo, processou João Mellão Neto, articulista desta página, pedindo reparação por injúria. Indiciado pela Polícia Federal (PF) na Operação Boi Barrica, o filho empresário foi à Justiça reivindicar que o cidadão brasileiro não tome conhecimento das acusações que pesam sobre sua cabeça e, por consequência, mancham a reputação da insigne figura paterna.



Com a ilusão de que, ao não abençoar o impulso censório do filho, conseguirá salvar do incêndio dos escândalos atuais nobres posturas do passado, o presidente do Senado não apoiou publicamente o gesto do censor que gerou, mas também não o desautorizou. O homem que dava valor aos símbolos a ponto de tirar a naftalina dos jaquetões para fazer contraste com os moletons do antecessor, o último general do regime militar, João Figueiredo, não prestou a mínima atenção ao tiro que o filho lhe deu no pé, ao impedir com uma ordem judicial que a sociedade tome conhecimento das denúncias de gestão temerária.



O risível nessa nota escrita e assinada por um varão que faz praça do próprio estilo na escrita é que ele passa por cima de algo muito mais relevante que o decoro no traje de um chefe político no Estado Democrático de Direito: o pundonor no comportamento. O vice-presidente da Associação Nacional de Jornais e responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão, Júlio César Mesquita, lembrou, ao condenar a decisão infeliz do desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que o presidente do Senado é jornalista e proprietário de jornais. Por isso, ao permitir que o filho ressuscite um dos monstros mais abjetos da violação da liberdade do tempo da ditadura militar, à qual Sarney também serviu - a censura à imprensa -, ele permitiu à opinião pública uma dúvida a seu respeito: será o jornalismo, para ele, um ofício ou só uma oportunidade de exercer o mando político?



Mais que os escândalos do Senado, as escaras que prejudicam Sarney e seus pares foram abertas por seus herdeiros e serviçais. Se Fernando Sarney não tivesse conseguido de Dácio Vieira permissão para proibir o noticiário a respeito das dúvidas que a PF tem sobre sua honradez como empresário, o País não tomaria conhecimento de que no Poder Judiciário brasileiro a gratidão ao empregador pode substituir a garantia da imparcialidade do julgador. Feito desembargador, o ex-funcionário de confiança na gráfica e ex-consultor jurídico do Senado não se considerou impedido por suspeição e cometeu a “afronta à liberdade de imprensa” que dois outros juízes já haviam negado anteriormente. Nada do que puder vir a beneficiar José Sarney em sua permanência na presidência do Senado pelo tempo que conseguir ficar (seja breve ou seja longo) compensará o tiro que o filho lhe deu no pé, ao deixar claro que do jaquetão presidencial ele tirou a naftalina, mas lhe restou o ranço do patrimonialismo coronelista malsão que continua fazendo da política brasileira uma atividade imprópria para gente de bem.



José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde



(artigo publicado no Estado de S. Paulo de quarta-feira 5 de agosto de 2009, pág A2)





E meu suelto para a página dois do Jornal da Tarde hoje [4/8/2009]:



A opinião de José Nêumanne



JORNALISTA E EDITORIALISTA DO JORNAL DA TARDE



Fretados: “factóide” com espírito de porco



A interdição do tráfego de ônibus fretados nas ruas centrais de São Paulo lembra as peças que o ex-prefeito do Rio César Maia gostava de pregar, só que não tem graça e não é inteligente



O qüiproquó causado pela interdição da Prefeitura da Capital ao livre tráfego de ônibus fretados por particulares para irem ao centro da cidade é um exemplo atualizado daquilo que o ex-prefeito do Rio César Maia batizou de “factóide”. A ideia é mais ou menos a seguinte: quando o gestor público se sente ausente do noticiário a ponto de se arriscar a cair no ostracismo perante o seu público, deve inventar qualquer coisa, mesmo que seja uma quimera, algo inviável, contanto que leve os meios de comunicação a noticiá-la. A diferença mais importante, contudo, entre os “factóides” de César Maia, que chega a ser meio maluco de tão inteligente, e o episódio dos fretados paulistanos é que este não tem graça nem é um prodígio de inteligência, além de prejudicar a vida de muita gente que nada tem a ver com as ambições políticas do prefeito Gilberto Kassab e do secretário de Transportes, Alexandre de Moraes.



Para começo de conversa, os ônibus fretados não são o maior entrave ao fluxo no trânsito em São Paulo. Só que, de fato, representavam um problema para o tráfego localizado de algumas regiões centrais ou próximas ao centro. Como resolver esse problema? A autoridade encarregada do combate ao caos urbano deveria mandar às ruas congestionadas por culpa dos excessos dos motoristas desses tais veículos guardas devidamente autorizados a fazê-los circular e impedir que continuassem tumultuando o tráfego. Isso é lógico, mas certamente não é cômodo, entre outros motivos porque os guardas de trânsito hoje limitam-se a multar.



Na cabeça do advogado Alexandre de Moraes, que dirige o transporte na maior e mais congestionada cidade do País com a mesma qualificação que teria para chefiar a operação de subida de um foguete em Cabo Kennedy, na Flórida, faiscou, então, o lampejo genial. Para que mandar guardas organizar o trânsito se a autoridade pode simplesmente proibir que os ônibus continuem parando onde sempre pararam? A pedir um estudo técnico capaz de dar uma solução definitiva preferiu mudar o problema de lugar, como isso representasse uma solução. E com a vantagem adicional de ter um pretexto politicamente correto para tanto: por que privilegiar os fretados com passageiros de classe média, se o povão continua penando no inferno do transporte coletivo?



O inventor dos “factóides”, César Maia, não deve ser inculpado por essa peça de humor de mau gosto que a Prefeitura paulistana decidiu pregar nos usuários dessa modalidade de transportes. Se não têm competência para resolver o problema do transporte coletivo, pelo menos deveriam poupar a população de tais brincadeirinhas com espírito de porco.



(publicado no Jornal da Tarde, terça-feira 4 de agosto de 2004, pág. 2A)





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