Organização espera que Venezuela não cumpra promessa de congelar relações diplomáticas e comerciais com a vizinha Colômbia
Envolvida nas negociações em Honduras após o golpe de Estado que derrubou o presidente Manuel Zelaya em 28 de junho, a Organização dos Estados Americanos (OEA) mudou o foco ontem para outra crise na América Latina. O secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza, se disse preocupado com a decisão de terça-feira do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de retirar seu embaixador em Bogotá e congelar as relações com a Colômbia.
O conflito entre os dois países não é novo. O pomo da discórdia da vez são armas suecas encontradas em um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que comprovariam a ligação do governo venezuelano com a guerrilha. O anúncio enfureceu Chávez.
“Espero que seja possível dar início a um diálogo para que ambas as partes discutam suas diferenças em um clima de fraternidade, que é como devem ser tratadas as diferenças entre países irmãos”, afirmou Insulza, que está na Costa Rica, em nota.
O vice-presidente da Venezuela, Ramón Carrizález, descartou ontem o fechamento da fronteira com a Colômbia. No Estado de Táchira, na divisa entre as duas nações, ele admitiu, porém, que o comércio com o país vizinho será reavaliado:
– Não cederemos à chantagem.
Na Colômbia, os empresários já demonstram preocupação com o anúncio feito por Chávez. O presidente da Comissão de Assuntos Fronteiriços da maior organização empresarial colombiana, Isidoro Teres, disse que a medida “gera um certo pânico em alguns setores da população”.
– A Venezuela é nosso principal mercado, e conquistar novos mercados não é algo que possa ser feito imediatamente (veja quadro) – acrescentou Iván Amaya, presidente da Associação Colombiana de Produtores de Têxteis (Ascoltex).
Brasil está disposto a reconciliar vizinhos
Já o presidente da Federação das Câmaras de Empresas e do Varejo do Estado de Táchira, José Rozo, ressaltou que a possível redução ou corte no comércio com a Colômbia “golpeará os setores mais vulneráveis” da Venezuela, porque o comércio entre os dois países gera 20 mil empregos diretos e indiretos apenas no lado venezuelano.
Também ontem, o governo colombiano afirmou que tinha advertido a Venezuela desde 2 de junho sobre os lança-foguetes do tipo AT4 encontrados com as Farc. Segundo a imprensa local, essas armas foram encontradas em julho de 2008, e sua origem pode ser comprovada pelos números de série. O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, disse ontem que o Brasil país está disposto a trabalhar para “recompor” a confiança entre Venezuela e Colômbia.
Nos últimos dias, ambas as nações já vinham se desentendendo devido a um novo acordo militar que o governo colombiano negocia com os EUA e que inclui a cessão de três bases militares no país aos americanos.
Caracas
Uma discórdia, dois perdedores
Hugo Chávez cortou relações com a Colômbia após denúncia sobre armas das Farc e prometeu, também, congelar comércio bilateral:
1 Segunda-feira, a Colômbia confirmou ter apreendido com as Farc lança-foguetes de fabricação sueca pertencentes à Venezuela. Bogotá cobrou “vigilância externa”. A Suécia também alertou Caracas.
2 A Venezuela disse que a acusação é uma cortina de fumaça para justificar um acordo militar entre EUA e Colômbia, do qual Chávez reclamara na semana passada. Na terça-feira, a Venezuela decidiu congelar as relações econômicas e diplomáticas com o vizinho.
3 A Colômbia revelou que já havia informado Caracas sobre as armas em 2 de junho, sem obter resposta. O governo Chávez negou que arme as Farc e especula que a guerrilha pode ter obtido os lança-foguetes em um ataque a militares na Venezuela, em 1995.
DEPENDÊNCIA MÚTUA
- US$ 7 bilhões foi o total do comércio bilateral em 2008, com saldo de US$ 5,7 bilhões para a Colômbia.
- 17,7% das exportações colombianas vão para a Venezuela, seu segundo mercado. O primeiro são os EUA, com 33%.
AS CONSEQUÊNCIAS DA RESTRIÇÃO COMERCIAL, SE ELA FOR IMPOSTA
- Na Colômbia
Prejuízo para os setores de alimentos, têxteis e plásticos, entre outros.
- Na Venezuela
O mercado sofrerá ainda mais com a escassez de produtos alimentícios, apesar de Chávez pregar a substituição de fornecedores.