Discípula bastarda do filósofo holandês, a uspiana Marilena Chauí mostra que é filha legítima de Marx e transforma Espinosa num militante do MST. Foi desnuada por Olavo de Carlhavo nesse texto (clique aqui - http://www.olavodecarvalho.org/convidados/jmaria2.htm)
Por Jarbas Passarinho
A primeira vez que troquei ideias com Lula foi pelo rádio, entre São Paulo, onde ele estava, e Brasília, onde eu era senador no fim do segundo mandato. Fora ministro do Trabalho, em 1967-1969. Falamos a respeito de greve. Eu solucionara três. A primeira, dos canavieiros em Pernambuco, resolvida sem qualquer violência. Resultou na criação do Plano Básico da Previdência Rural, com a devida fonte de custeio. Benefício previdenciário inédito no Brasil.
A segunda, com os metalúrgicos de Minas Gerais (Contagem), também pacificamente negociada. Deu origem a um abono, que corrigiu a perda dos trabalhadores, que reconheci, no dissídio anterior, baseado na inflação superior à prevista, aprovado pelo presidente Costa e Silva, o que se tornou permanente pela lei que compensava a subestimação da inflação no Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg). Faz pouco mais de um ano que um estudante da Escola de Minas de Ouro Preto me entrevistou confessando que, ao dialogar com os grevistas na sede do sindicato, quem debateu comigo não fora trabalhador, mas os universitários infiltrados entre eles. Em relatório recente, afirmam que a greve acabara “porque o ministro preferiu o diálogo à violência”.
A terceira, em Osasco, São Paulo, novamente de metalúrgicos. Já não se tratava de reclamação de salário, pois a solução de Minas abrangia a política salarial. Foi exclusivamente política, com ocupação das fábricas, a exemplo do que ocorria na França, em 1968. Dirigida por comunistas ávidos de derrubar o governo, o que está por eles descrito no livro A esquerda armada no Brasil, premiado em Cuba.
No diálogo com Lula perguntei-lhe como via a greve política e os piquetes. Dele ouvi, literalmente, que só se serve de piquetes quem não tem capacidade de liderança. Os piquetes continuaram findo o ciclo militar. Surgiram, depois, até os arrastões que retiram, à força, os que estão no trabalho. O que tem acontecido na USP, com a ação violenta de alunos e funcionários, é tudo, menos prática democrática, mas sua contrafação.
Os universitários da USP interrompem reunião de trabalho dos professores, que se retiram. Sitiam e depredam a reitoria. Impedem o acesso à Cidade Universitária. Expulsam os servidores do restaurante e negam aos colegas pobres o bandejão de menos de R$ 2, “porque a falta do almoço deve ser solidária com a greve”. Adotam procedimento de fascistas e, segundo o Estadão, geram “uma crise deflagrada por uma minoria de sindicalistas, professores e estudantes vinculados a grupelhos políticos radicais e sem representatividade”. Lembram as tropas de choque da origem do nazismo, as SA, encarregadas de dissolver reuniões que desagradavam ao partido e agredir oradores adversários.
A baderna levou à requisição da PM para restaurar a ordem e proteger os edifícios da reitoria e institutos antes depredados. Um suposto líder dos baderneiros desafiou: “A reitora disse que só tira a PM do câmpus se nós retirarmos o piquete, mas reafirmamos que o piquete é uma arma histórica dos trabalhadores”. Esse elege o piquete “arma histórica” porque, como disse Lula, não é líder. Outro estudante, provavelmente esquerdista, contrário à greve, diz que quem a promove “é a massa burguesa de classe média que está desconectada do mundo”. É uma novidade a diferenciação do estudante, se marxista, já que Marx separa taxativamente a burguesia, “fonte de todos os vícios e maldades”, das classes médias, ainda que distinga o burguês do pequeno burguês, mas não os considera classe.
O surpreendente, pelo menos no Brasil, é a submissão da burguesia aos revolucionários talentosos. Presta-lhes as maiores homenagens, em si justas no que tange ao mérito intelectual, mas não diminuem sequer o desprezo que eles lhe dedicam. Sempre que oportuno, repetem o preceito marxista de que a história da sociedade existente até agora é a história da luta de classe. Toleram a burguesia que os lisonjeia, enquanto não erigem a sociedade sem classes. Não perdem chance para catequizar.
O festejado crítico literário professor Antonio Candido (ele exige assim ser grafado o nome, sem sinais diacríticos), recebe constantes homenagens e múltiplos títulos das instituições burguesas que ideologicamente abominam. Dele li — e a tenho em meu arquivo — entrevista de profissão de fé marxista, à qual não falta o apêndice da práxis leninista. Defende a luta armada “se necessário” a fim de instalar o regime socialista, para não dizer comunista. Contrário à presença da PM no câmpus universitário, disse: “A presença da PM é a violação do direito sagrado de opinar”. Direito que não existiu no regime de seu agrado, varrido da Europa mas sobrevivente no Terceiro Mundo. Passa, a seguir, à incitação: “Atuem, exagerem, sejam justos e injustos. Aproximem a faculdade da realidade social”.
A filósofa Marilena Chauí, célebre pelo conhecimento da obra de Spinoza, que pregou a liberdade e a democracia, também ataca a presença da PM, em que vê “a repetição interminável do autoritarismo e da repressão”. No caso, em vez da liberdade, defendeu a licença, com essa incompatível. Igual ao mestre que admite a luta armada para a vitória do socialismo tirânico, aplaudiu a violência, justificando-a: “A greve não faz outra coisa que defender a universidade”. Recomendou-lhes: “É preciso ir além das palavras de ordem contra a reitora. Temos de pensar numa maneira de desestruturar essa gestão vertical”. Essa maneira, ela pode obter no pensamento de Lula, de quem disse, certa feita, à beira da veneração: “Quando Lula fala, o mundo se ilumina”.