Da guerrilha à doença, o que se viu foram práticas exploratórias da confiança alheia, sempre na busca de uma estratégia perfeita à conquista da preferência nas urnas. O drama vivido por Dilma Rousseff vem sendo encarado - pelo presidente da República, por seus simpatizantes pertencentes ao partido e por ela - como uma forma porca de sensibilização emocional visando à eleição presidencial de 2010. O martírio enfrentado por milhares de famílias do mundo todo, agora é transformado em expediente de marqueteiros voltados ao inescrupuloso hábito de fazer tudo em prol do escárnio mental de quem vota.
Uma coisa é certa, a descoberta - há quem diga repentina - da enfermidade na ministra, rendeu-lhe páginas de revistas e jornais, de maneira só vista na ocasião em que Pedro Collor resolveu bancar o Robin Hood à brasileira. Não quero pensar que o anúncio do quadro clínico de Dilma está na mídia para apagar sua imagem de guerrilheira do passado. Caso contrário, estamos diante daquilo que se pode chamar de banalização do sofrimento alheio - não da ministra - mas dos que sofreram e sofrem as consequências de uma doença que destrói não só o físico, como também o psíquico, os desdobramentos da autoestima e a perspectiva moral de sobrevida. Agora, imagine usar isso para ganhar votos... Já vi muita gente conhecida passar por um câncer, vencê-lo - ou infelizmente não - sem que ninguém soubesse de seu sofrimento em nível nacional. No que sei, quimioterapia é “o método que utiliza compostos químicos no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos”, contraindicado à ausência de popularidade, como a da ministra, por exemplo.
Uma tarde no pet shop seria de todo o suficiente, sem a necessidade de tamanha exposição no pior estilo Joana D’Arc de ser. Um banho, uma tosa e uma funilariazinha no rosto, já foram capazes de transformar a aparência da candidata ao Palácio em 2010. É claro que não poderemos contar com algo parecido Gisele Bünchen ao lado de Lula, tentando a sucessão, mas, já estava de bom tamanho a considerarmos que Lula também não parecia com DiCaprio, quando eleito presidente do Brasil pela primeira vez.
Não demora e anunciarão algum candidato ao governo do Estado em tratamento contra a gripe suína, ou candidato a deputado na luta contra a “parvovirose”, sindicalista com sarna e candidato a vereador martirizado pela enxaqueca. Tudo pela busca de evidência na mídia. Por que o vice-presidente da República José Alencar não anunciou a doença - já com metástase - enquanto candidato ao cargo atual? Porque teve caráter! Justamente o que falta aos responsáveis pela caminhada da ministra à rampa do Planalto. Esperar o quê de um País governado por especialistas em fazer de coisa séria, estratégia de campanha? Mais oito anos de governo, só isso. Se depender de Lula, a capital do Brasil vai se chamar “Ronaldo”, em breve. Realmente não vejo motivo para Dilma Rousseff – ou um tal “sei lá o que” Mendonça – estampar o rosto recém-consertado na mídia nacional. Parece até que consertaram propositadamente. Acharam que Dilma tem chances de ser a primeira mulher a vencer uma eleição presidencial? Bom, se acharam, não precisava explorar uma situação como essa.
Aqueles que lutaram pela democracia – com certeza absoluta – não pensavam que daria no que deu. Quando do artigo sobre Lula, vieram críticas por ter dito que o presidente descendia de um calango. Então, quero me retratar publicamente e pedir desculpas ao... calango! De fato o réptil não fez por merecer a comparação com o presidente. Em discurso recente, um general empossado pregou saudade do regime militar, quando tantas barbáries políticas não ocorriam. Não concordo, até mesmo porque se não havia corrupção e afronta à confiança do povo, por outro lado existiam mortes, censura, autoritarismo e muita gente sumida por buscar o governo do povo. Numa coisa concordo com o general: não vamos sentir saudades da era Lula.
Companheiro é o escambal! Tratar o povo como palhaço, ou até mesmo teste de aceitação perante a falta de alternativa de quem descobriu que voto não se transfere, é mais ridículo do que fazer publicidade com um câncer.
Não critico o PT em si, mas muitos integrantes, como o presidente, por exemplo, que se dissociam de filosofias partidárias e buscam o melhor para tudo, menos para o povo. Em todo lugar vão existir anomalias tais, que mesmo assim, não maculam uma totalidade. O Brasil anda na contramão de um desenvolvimento legítimo e capaz de superar a pecha de País colonizado durante algum tempo. Resquícios da ditadura ainda existem onde menos imaginávamos e cicatrizes da época em que não existiam normas democráticas, permanecerão. Não podemos aceitar que muitos dos que se dizem militantes contra um regime ditatorial no passado, tragam as mesmas práticas para o presente, argumentando a necessidade de um Estado Democrático de Direito. É pura contradição.