Arquidiocese do Rio compra apartamento avaliado em R$ 2,2 milhões
Folha de S. Paulo - 9/5/2009
FÁBIO GRELLET
da SUCURSAL do RIO
A Arquidiocese do Rio de Janeiro comprou um apartamento de aproximadamente 500 m², avaliado em R$ 2,2 milhões, no Flamengo (zona sul da cidade), que poderá ser usado pelo ex-arcebispo dom Eusébio Scheid, que deixou o cargo em abril.
Dias após o novo arcebispo, dom Orani Tempesta, saber da compra, a instituição anunciou que o padre Edvino Steckel foi afastado, anteontem, do cargo de ecônomo (responsável pela gestão dos bens da arquidiocese).
Oficialmente, a arquidiocese nega que o afastamento tenha a ver com a compra do apartamento.
O próprio padre teria pedido para deixar o cargo, durante uma conversa com o arcebispo, no último domingo - antes de dom Orani saber sobre a compra do imóvel.
A Folha apurou, no entanto, que o arcebispo chegou a adiar uma viagem à Alemanha para discutir o assunto com seus auxiliares. Teria partido dele, após essa reunião, a decisão de afastar o ecônomo, que mantém os cargos de diretor da rádio Catedral e de reitor da igreja Nossa Senhora do Parto, no centro do Rio. Dom Orani viajou ao exterior anteontem.
Após deixar o cargo, o ex-arcebispo passou a morar em São José dos Campos (97 km de SP).
Quando estiver no Rio, poderá usar o imóvel. Segundo o padre Leandro Cury, assessor de imprensa da arquidiocese, a aquisição do imóvel foi um negócio normal, já que ele "pertence à arquidiocese".
Ele afirmou que dom Orani recebeu no domingo o pedido de demissão do padre e nos dias seguintes
se reuniu com o conselho administrativo, o colégio de consultores e os bispos auxiliares.
Só depois anunciou que aceitaria a renúncia. "Do ponto de vista ético, diante do que a igreja prega, é uma contradição [a arquidiocese comprar o apartamento]", diz o filósofo Luiz Felipe Pondé, colunista da Folha.
"Mas a Igreja Católica sempre valorizou a aquisição de patrimônio, como se demonstra pelo Vaticano, e é também por isso que se mantém há tanto tempo." O novo ecônomo é o monsenhor Abílio Ferreira da Nova, pároco da igreja de Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima. Ele já assumiu o cargo, e terá como
auxiliar o administrador Cândido Feliciano da Ponte Neto - ecônomo na gestão de dom Eugenio Sales, arcebispo de 1971 a 2001. O padre Steckel não foi localizado ontem.
A reportagem também não conseguiu ouvir dom Orani, que continua no exterior.