CHÁVES COMPLICADO PARA PAGAR AS ESTATIZAÇÕES QUE FEZ, COM A QUEDA DOS PREÇOS DO PETRÓLEO.
Seu governo enfrenta dificuldades fiscais para fazer frente às estatizações
Sexta-feira, 5 de dezembro de 2008 - Tradução de Francisco Vianna
Fonte: Jornal argentino La Nacion
MIAMI – Agoniado pela brusca queda no preço do óleo cru, o governo venezuelano do presidente Hugo Chávez está enfrentando dificuldades fiscais para cumprir seus compromissos de pagamento de bilhões de dólares pelas nacionalizações de empresas de capital estrangeiro, entre as quais uma fábrica de cimento mexicana, uma siderúrgica com investimento argentino e um banco espanhol.
Com o petróleo venezuelano sendo cotado a uns 36 dólares o barril, o governo de Caracas está adiando, pois, os investimentos multimilionários em países aliados como a Nicarágua e o Equador, o que prenuncia uma severa restrição às suas arrecadações fiscais para 2009, que poderá golpear a popularidade de Chávez.
A administração ‘chavista’ viu-se compelida em adiar, até janeiro, o fechamento da compra da sucursal venezuelana do conglomerado bancário espanhol Santander, por falta de disponibilidade de fundos por parte do Banco Central da Venezuela. Ao mesmo tempo, não pode cumprir com os compromissos de pagamentos pela compra de fábrica de cimento francesa LAFARGE, a suíça HOLCIM e a mexicana CEMEX, que concentram mais de 90 por cento da produção de cimento no país. Segundo fontes consultadas, o governo estaria negociando um preço mais baixo desses conglomerados de produção de cimento, com o argumento de que o impacto da crise financeira mundial afetou também o valor real destas empresas.
Por outro lado, após vários meses de negociações, Caracas não consegue honrar seu cronograma de pagamentos por 60 por cento das ações da siderúrgica SIDOR, em mãos do consórcio argentino TERNIUM. "Desde que estas nacionalizações foram anunciadas, o governo vem adiando os prazos de pagamento porque os fundos fiscais não são capazes de quitá-los”, disse Orlando Ochoa, economista independente residente em Caracas.
Segundo Ochoa, estima-se que o governo de Chávez deverá desembolsar algo em torno de 5 bilhões de dólares para cobrir os compromissos das estatizações. O economista indicou que, em que pese o fato do gobierno contar com um fundo de poupança fiscal da ordem de 20 bilhões de dólares “em recursos líquidos confirmados”, existem fortes indícios de que essa poupança será parcialmente usada para pagar as vultosas compras que Chávez fez junto ao governo de Putin, da Rússia, e também para suavizar o impacto do déficit fiscal na economia venezuelana – agravado entre outras coisas pelas citadas compras – nos primeiros dois meses de 2009, quando o governo planeja realizar o referendo sobre a reeleição presidencial. "Chávez vai tentar ganhar o referendo o mais rápido possível, antes de tomar medidas como a desvalorização da moeda ou o aumento de impostos, que podem ter graves conseqüências políticas e sociais na Venezuela”, avaliou.
SALÁRIOS EM PERIGO
Alexander Guerrero, analista financeiro e colunista do diário ‘El Universal’, de Caracas, considerou que "com a queda do preço do petróleo, tudo na Venezuela está em perigo, até o pagamento dos funcionários públicos”. "O problema é que não há forma de determinar se o governo tem poupanças suficientes para agüentar a queda dos preços do petróleo nos patamares que estão atualmente por muito tempo”, acrescentou. Segundo Guerrero, a situação fiscal da ‘Electricidad de Caracas’ e da ‘telefônica CANTV’, nacionalizadas em anos anteriores pela administração chavista, vai começar a requerer injeções de dinheiro novo em 2009, porque "deixaram de ser empresas privadas e passaram a estatais, subsidiadas pelo alto preço do petróleo, na ocasião”. E, apesar disso, tais investimentos não foram feitos.
O impacto negativo dos preços do petróleo venezuelano está causando também sérios problemas aos aliados de Chávez no continente. O mandatário venezuelano poderá ver-se impossibilitado de financiar um déficit de 100 milhões de dólares que o governo do presidente nicaragüense, Daniel Ortega, mantém em cheque, após ter os organismos multilaterais de crédito dos Estados Unidos e da Europa suspendido seus desembolsos, sob o argumento de que houve fraude nas recentes eleições municipais no país.
Adicionalmente, um alto funcionário da estatal petroleira PDVSA anunciou esta semana que a Venezuela suspenderá por hora o financiamento de uma nova refinaria na Nicarágua e de outro complexo de refino de petróleo no Equador.