Não vejo nenhum problema em o Estado dar ensino religioso - desde que se ensine catolicismo para católicos, protestantismo para protestantes, espiritismo para espíritas e assim por diante. Neste caso, a religião só deveria ser ensinada por um teólogo da respectiva religião, não por um sociólogo, um antropólogo ou um professor de História. O que não pode ocorrer é a escola ensinar, digamos, catolicismo para toda a sala de aula, de modo compulsório, porque esse assunto só interessa aos católicos, a mais ninguém.
Suponho que o governo Lula pretenda que a escola ensine religião como uma abordagem geral de todas as religiões. Bobagem. Isso já é feito pelo professor de História, que aborda a Reforma, a Contra-Reforma, o Islamismo etc. - além das outras religiões, como Judaísmo, Budismo, Hinduísmo etc.. Não há necessidade de se arcar com mais custos, contratando mais professores.
Resumindo: se é para ensinar "religião" do tipo "Nova Era", em que tudo é relativizado e nivelado por baixo, é melhor não ensinar nada, para não criar confusão na cabeça das crianças e dos adolescentes. A Educação no Brasil está um desastre só e é melhor aplicar o dinheiro em necessidades mais urgentes.
Atenciosamente,
F. Maier
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Date: Thu, 13 Nov 2008 08:17:18 -0200
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Subject: Ensino Religioso
Caro colunista,
O que você acha da notícia divulgada em primeira mão na CBN ontem, em entrevista? Veja link.
Lula assina acordo com Estado do Vaticano sobre ensino religioso
Escola pública não é lugar de ensino religioso.
Se esse acordo realmente for assinado, será um retrocesso. Ensino religioso obrigatório nas escolas públicas é coisa de ditaduta (vejam a era Vargas). O que ocorre no Rio de Janeiro é inconstitucional e amoral. Onde fica a tão propalada diversidade? Eu, como evangélico, sou radicalmente contra ensino religioso em escolas, pois os professores jamais vão conseguir ser imparciais, principalmente se forem evangélicos. Em grandes centros isso é inviável, fere a dignidade de nossas crianças, uma vez que a opção por uma religião é pessoal, e deve ser respeitada.
Leiam o texto abaixo.
Um retrocesso na luta histórica pelo Estado Laico no Brasil. Lula deve fechar acordo com o Papa Bento XVI para implementar o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras. Escute a entrevista de Heródoto Barbero com com Roseli Fischmann, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo*
Na Constituição do Brasil está claro que o Estado não pode promover qualquer tipo de crença. A investida da Igreja Católica sobre o governo brasileiro, aproveitando-se do credo do presidente da República e de seus assessores é uma afronta às demais religiões e ao Estado Laico.
A forma em que igrejas de caráter fundamentalista atuam sobre os Estados é, geralmente, para instrumentalizá-los em favor de sua ideologia, afastando as demais igrejas e credos e fazendo com que a sociedade, mesmo aquelas pessoas que não acreditam nos mesmos princípios religiosos, tenham que seguir o comportamento determinado pelos chefes das igrejas. Isso aconteceu recentemente com os talibãs, no Afeganistão, e ocorre nos países dominados pela igreja católica romana, que proibia o divórcio (hoje continua proibindo mas não faz alarde) e agora quer proibir as mulheres de terem acesso aos direitos sexuais e reprodutivos e ao direito ao se próprio corpo. Além disso, geralmente as religiões afro-brasileiras são discriminadas nessa subordinação do Estado à idéia de que o ensino religioso é um direito da igreja católica.
As pessoas devem ter direito a ter sua própria religião. Mas isso não pode significar a dominância de uma religião sobre as outras e até sobre o direito a não ter religião alguma. É um afronta ao estado de direito que uma religião receba recursos públicos para fazer sua propaganda. Religião é um direito que se exerce individualmente ou nos espaços que as pessoas criarm para isso, espaços privados, como igrejas, templos, sinagogas, terreiros, casas.
Assinar uma concordata ou acordo com o Vaticano e acatar as pressões da igreja católica já mostra a intenção do governo em excluir as demais igrejas cristãs, as religiões afro-brasileiras, as religiões asiáticas e o direito a não ter religião, especialmente porque a igreja católica tem mostrado, por seus líderes, que deseja que recursos públicos sejam alocados para a contração e manutenção de padres e professores que ela indicar, como o faz com capelões nas Forças Armadas e polícias.