Estava na fila do caixa eletrônico que, morosa como sempre, ia se arrastando pelo banco.
A maioria das pessoas não se encontrou, ainda, na era eletrônica.
Morro de pena de gente idosa, ou com cara de quem "não sabe das coisas", entregar seus segredos para o funcionário do banco, que está sempre "a postos" para ajudar... Digitam a senha, sem nenhum cuidado. Dá até para perceber as mãos trêmulas no andamento da operação.
Outro dia, fiquei tão engasgada... Estava à minha frente uma jovem, com uma criancinha ao colo e uma sacola em uma das mãos. Toda enrolada: não tinha como passar o cartão magnético ou empreender qualquer operação. Dei uma olhada ao redor e não havia nenhum funcionário que a pudesse socorrer. Ela virou-se para trás e olhou-me com olhos suplicantes. Não necessitou dizer-me nada. Foi entregando um papel amassado onde se liam o número da conta bancária, senha e os demais dados pessoais.
Indagada do que desejava, respondeu: "tirar dez reais".
Tentei a operação, mas o sistema de saque não atendia.
Olhei para ela e percebi que não lia o painel do monitor. Seus olhos estavam voltados para o escaninho de saída do dinheiro, à espera de uma única nota.
DEZ REAIS...
Olhei para a criancinha no colo, que no momento adormecia, deixando cair a chupeta. Aproveitei quando a mãe se abaixou e, sem que ela notasse, tirei de minha bolsa uma nota de DEZ e entreguei-lhe, juntamente com a folha amassada.
Creio que esta época de Natal judia muito da gente...