Empresário quer medidas mais duras do BC para impedir que os grandes bancos retenham dinheiro que deve ir para o crédito
Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diz que a sua "paciência está esgotada".
Durante as inúmeras reuniões com os dirigentes do Banco Central (BC) nas últimas semanas, ele ouviu insistentemente que era preciso paciência para que as medidas adotadas pela autoridade monetária surtissem efeito no restabelecimento do fluxo de crédito para as empresas. "Só que a paciência agora se esgotou, porque a situação está se agravando." O que falta, na opinião de Skaf, para que a crise de crédito seja debelada é o BC punir os grandes bancos privados e públicos que estão "dormindo em cima do dinheiro e estão ganhando com a crise". A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o sr. avalia o impacto da crise financeira na indústria?
Até setembro a atividade da indústria foi absolutamente normal, com setores batendo recordes de faturamento e de rentabilidade. Mas, a partir da primeira quinzena de outubro, começamos a sentir a falta de crédito, primeiro nos setores dependentes de financiamento. Na segunda quinzena, notamos que outros setores não dependentes diretamente de crédito começaram a se ressentir.
A crise atual de crédito é a pior dos últimos tempos?
O crédito no Brasil nunca foi farto. O que assistimos agora foi a redução repentina e um aumento de custo muito grande. Não me lembro que tenho ocorrido algo parecido nos últimos 20 anos.
Por que ninguém quer emprestar?
É uma boa pergunta para ser feita aos bancos. Certamente eles devem estar numa situação cômoda porque têm como aplicar em títulos do Tesouro com taxa Selic, obviamente uma taxa mais baixa do que pegariam no mercado, mas com segurança absoluta.
O que falta para irrigar o mercado de crédito?
O que está faltando é o Banco Central pressionar o setor financeiro, principalmente os grandes bancos. Não posso culpar os pequenos bancos porque eles não estão com recursos disponíveis. Por isso, uma saída seria uma forte redução na taxa Selic, não a manutenção da taxa em 13,75% ao ano, como ocorreu na reunião da semana passada. Com isso, a remuneração ficaria pouco atrativa. Outra alternativa seria o governo penalizar o banco que não estiver emprestando no mercado. Vai custar caro essa atitude de o setor financeiro não emprestar e continuar nessa situação cômoda, dormindo em cima do dinheiro, emprestando dinheiro para o governo e o governo aceitando essa situação. É hora de o BC reagir fortemente, pressionando os grandes bancos. Quando falo em grandes bancos incluo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a emprestarem a custos razoáveis. O Banco do Brasil está cheio de dinheiro, a Caixa Econômica Federal está cheia de dinheiro, grandes bancos particulares estão cheios de dinheiro e o mercado, não só a indústria, está com muita dificuldade de obter crédito, sejam empresas grandes ou pequenas.
Os bancos estão em situação melhor na crise?
Nesse momento eu diria que os grandes bancos só estão ganhando.
O BC acaba de editar uma medida que pune os bancos que não comprarem a carteira de instituições menores. Isso resolve?
Isso não irriga o mercado, só ajuda o banco pequeno. É uma medida para preservar o sistema financeiro e algum banco pequeno que esteja desencaixado. Os recursos não chegam à indústria, ao comércio e ao consumidor. Esse mesmo espírito de penalidade deveria ser usado pelo BC para obrigar os grandes bancos a emprestarem. É hora de o BC reagir fortemente. Faz três semanas que tivemos várias reuniões com o BC e inúmeras vezes eu disse que não adiantava somente as medidas serem tomadas se os recursos não fossem repassados às empresas. O que eu ouvi nessas reuniões era que tivéssemos paciência, porque as medidas eram muito novas e havia necessidade de alguns dias para que elas fossem efetivadas e virassem realidade. Só que a paciência agora se esgotou porque a situação está se agravando.
Como o sr. avalia a intenção de 57% da indústria de cortar investimento em 2009?
Se houver crédito, será possível atenuar a redução dos investimentos.