Com vídeo de apoio de Lula e a presença de ministros nos comícios, o ex-deputado Severino Cavalcante canta vitória em sua cidade natal.
Severino usa Lula como cabo eleitoral
Presidente gravou mensagem para o hoje candidato a prefeito
Letícia Lins
JOÃO ALFREDO (PE). Três anos depois de renunciar ao mandato na Câmara para fugir da cassação, por causa da acusação de envolvimento no escândalo do mensalinho, o ex-deputado Severino Cavalcanti (PP) conta agora com o presidente Lula para se eleger prefeito de João Alfredo, cidade de 30 mil eleitores, a 106 quilômetros de Recife. E não apenas: Severino alardeia ter também o apoio do governador Eduardo Campos (PSB) e já se considera eleito. Na terça-feira, ele fez um comício que contou com a presença de um ministro e dois secretários de governo. Calcula ter reunido 11 mil pessoas, multidão que comparou aos devotos que seguiam Frei Damião, o falecido missionário capuchinho que os nordestinos veneram tanto quanto ao Padre Cícero:
- Foi um comício grande. Só Frei Damião conseguiu botar tanta gente na rua aqui. Estou disputando com ele em popularidade.
Severino reuniu o ministro das Cidades, Márcio Fortes, e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, que integra o primeiro escalão do governo estadual. Na impossibilidade da presença de Lula, um telão ao lado do palanque exibiu um vídeo do presidente. Na tela, Lula lembra que a oposição elegeu Severino presidente da Câmara e diz que ele foi vítima de preconceito:
- Quando perceberam que ele não seria oposição ao meu governo, derrubaram ele. Parte da elite paulista, se encontrar com ele, não cumprimenta. Eu cumprimento Severino onde o encontrar - diz Lula na gravação.
- Não podia pegar testemunho melhor. Lula tem uma popularidade muito grande; 80% é muita coisa - disse, contando que o depoimento do presidente foi exaustivamente utilizado nos carros de som que circulam pela cidade.
Severino começou a vida política em 1964, como prefeito de João Alfredo. Em 2006, tentou voltar à Câmara dos Deputados, mas não se elegeu. Ele disse que, mesmo sem mandato, nunca se afastou:
- Nunca deixei de dar assistência a prefeitos de minha região. Com minha ajuda, conseguiram verbas substanciais não só no Ministério das Cidades como em outros ministérios.
Ele nega estar de olho em 2010:
- Vou ser prefeito por quatro anos e, se duvidar muito, vou me reeleger.
Severino acha que, com o trânsito que tem em Brasília, conseguirá verbas suficientes para implantar um distrito industrial na cidade, que tem um pólo moveleiro com 80 indústrias.
Os dois filhos de Severino, a ex-deputada Ana Cavalcanti e José Maurício Cavalcanti, tiraram férias dos seus empregos para ajudar na campanha do pai. Para um dos mais fiéis seguidores do ex-deputado, o vereador Wilson França (PP), ele tem um fôlego surpreendente para os seus 77 anos.
- Ele parece incansável. No comício, até dançou. Parecia um menino.
Ontem, pelas ruas de João Alfredo, Severino abraçou eleitores, visitou a igreja e recebeu cumprimentos.
Na reta final da disputa, Severino pareceu esquecer as acusações que o tiraram de Brasília - receber propina para renovar a concessão de restaurantes da Câmara - e partiu para o discurso moralizador. Promete que, se eleito, vai "varrer" os marajás da prefeitura. Marajás, explica, são os funcionários que ganham salários de R$1 mil sem trabalhar. Alguns seriam candidatos a vereador que não conseguiram se eleger. Ele disse que não sabe ainda o número de servidores que a prefeitura tem, mas, ao assumir, promete fazer um cadastramento.