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Artigos-->Curió: Cadê o livro sobre a Guerrilha do Araguaia? -- 01/09/2008 - 12:10 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/1999/artigo73233-1.htm



Este homem sabe onde estão os cadáveres do Araguaia





O militar que preparou o ataque final à Guerrilha do PCdoB rompe um silêncio de 35 anos, revela segredos do combate e indica o local de um suposto cemitério clandestino



Por ALAN RODRIGUES - Pará



Aos 73 anos, ele é vaidoso. Não sai de casa antes de fazer sessões de levantamento de peso, se lambuzar de fartas porções de protetor solar 60, mexer e remexer os cabelos tingidos de loiro. Ao chegar ao portão, ele empluma o corpo, despede-se da mulher, uma jovem de 26 anos, e do filho de cinco, dá meia dúzia de ordens, em tom de confidência, e sai para a caminhada com dois seguranças armados. Sebastião Rodrigues de Moura é mineiro de São Sebastião do Paraíso, mas é popularmente conhecido como “Curió” – um pássaro brigador. Qualquer desinformado que cruze o caminho deste senhor de olhar triste e passos cadenciados pelas ruas da cidade que leva seu próprio nome, Curionópolis, e da qual ele é prefeito pelo terceiro mandato, não saberá jamais que este homem é uma espécie de lenda na Amazônia. Curió virou mito encarnado no codinome “Dr. Luchini”, o mais temido militar brasileiro que se embrenhou na selva amazônica no início dos anos 70 para pôr fim a um movimento de jovens idealistas que buscavam convencer colonos a transformar o País numa pátria socialista. Conhecida como Guerrilha do Araguaia (1972/1975), foi a maior ação militar do País depois da Segunda Guerra Mundial. O combate colocou de um lado quatro mil soldados das forças de segurança contra cerca de 70 insurgentes. Quase todos os guerrilheiros foram mortos – mas apenas um corpo foi encontrado até hoje. A batalha aconteceu às margens dos rios Araguaia e Tocantins, na fronteira dos Estados do Pará e Tocantins, e deixou um rastro de barbárie, sangue e terror.





REVELAÇÕES



“Eu não tenho o direito de levar para a sepultura os dados que tenho e que sei”

Curió virou mito para muitos, justamente porque foi ele e sua tropa que aniquilaram os guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) depois de duas derrotas vexatórias impostas a duas expedições militares em 1972. Ao final da Guerrilha do Araguaia, havia 59 guerrilheiros, dez posseiros e três militares mortos. Dezenas de pessoas foram torturadas. Como os militares protegem como segredo de Estado tudo o que se refere ao Araguaia, a história desse confronto segue repleta de perguntas sem respostas. Onde estão as ossadas dos guerrilheiros? Os corpos foram decapitados? Os cadáveres, incinerados? Eles estão em valas comuns? Um militar chegou a dizer que participou de uma Operação Limpeza, na qual os guerrilheiros mortos foram jogados, um a um, de helicóptero, pela imensidão da Floresta Amazônica. Essa informação é correta? O homem na fotografia ao lado tem as respostas. Curió era major do Centro de Inteligência do Exército (CIE) e foi o autor do mais completo dossiê de arapongagem sobre a guerrilha. Chamado de relatório 01 da Operação Sucuri, ele precedeu o combate que exterminou a guerrilha.



No domingo 10 de fevereiro, embalado por duas latas de Coca Zero, depois de traçar uma galinhada, Curió deu as primeiras pistas para perguntas que se transformaram em mistério. Após 35 anos, sua versão lança a oportunidade de esclarecer os destinos de mortos e desaparecidos da Guerrilha do Araguaia. Outros detalhes irão fazer parte de um documentário e um livro que sairão em breve (promessa, aliás, que já conta 20 anos). “Tenho 73 anos de idade cronológica, 45 de idade física e psicológica e 32 de idade mental”, disse ele à ISTOÉ. “Eu não tenho o direito de levar para a sepultura os dados que tenho e que eu sei.”



Curió começa sua imersão no passado revelando que, com o cerco dos militares, os guerrilheiros foram empurrados para um recuo no Castanhal dos Ferreira. De lá, eles se dirigiram para a região da Palestina (ver mapa). Neste local, no Natal de 1973, iniciou-se a fase final do combate na qual as forças do governo mataram mais de 20 guerrilheiros antes do Réveillon. “O pessoal dos direitos humanos fica procurando corpos em Xambioá (base militar), mas muitos corpos estão enterrados na Palestina, que na época era uma vila com uma rua de terra”, revela. Contra essa declaração, existe o fato de que sua comprovação custaria caro. Daquela vila, a 286 quilômetros de Belém, nasceu uma cidade que hoje conta com 7.500 habitantes. E para revirar o solo seria preciso demolir casas e esburacar ruas.



O segredo contado por Curió, contudo, ganha força graças a uma revelação feita na semana passada à ISTOÉ pela ex-guerrilheira Criméia Almeida. Segundo ela, foi justamente nessa região que, em 2001, a comissão dos familiares dos mortos e desaparecidos políticos tentou investigar a existência do que seria o cemitério clandestino da Guerrilha do Araguaia. Mas não se conseguiu porque o grupo recebeu ameaças de morte. “Estivemos na região rural dessa cidade, onde moravam alguns guerrilheiros, mas não pudemos pesquisar porque, além de ser muito difícil o acesso, fomos ameaçados pelos moradores”, diz Criméia, uma das poucas sobreviventes e parente de um dos mortos. Há sete anos, a comissão não levou o caso ao Ministério Público por dois motivos: primeiro, foi à Palestina informalmente. Depois, não conseguiu nenhuma evidência – um caso que muda completamente a partir de agora com o depoimento de Curió à ISTOÉ. “O Estado tem de dar uma resposta a isso”, cobra a ex-guerrilheira.



Um fato surpreendente na história contada por Curió e que, de acordo com ele, causa urticária entre seus pares de farda é o reconhecimento que ele faz da bravura de alguns militantes. “Queria ter enterrado a guerrilheira Sônia com honras militares”, conta. “Ela foi a melhor combatente dos comunistas. Aliás, as mulheres eram muito melhores do que os homens”. Sônia era o codinome de Lúcia Maria de Souza, morta pela tropa de Curió com uma saraivada de balas espalhadas pelo corpo. Antes de tombar, Sônia – que estava ferida com um tiro na perna – manteve o seguinte diálogo, segundo revela agora Curió:



– Qual o seu nome?

– Guerrilheira não tem nome, tem causa.





Obs.: Há 20 anos, Curió promete escrever o livro sobre a Guerrilha. Para conhecer a verdadeira história da Guerrilha do Araguaia, sugiro acessar http://www.usinadeletras.com.br/exibetextoautorp3.php?user=fsfvighm (F. Maier).







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