"Contato" das FARC leva uma vida pacata em Brasília.
Escrito por Josias de Souza às 18h00
02/08/2008
Casado com servidora do governo ele, Olivério Medina cultiva a discrição.
O ex-padre colombiano Olivério Medina vive num modesto apartamento de classe média baixa.
Fica na Asa Norte de Brasília, na sobreloja de um prédio comercial.
Cultor da discrição, Olivério Medina como que perdeu a invisibilidade na última quinta (31/07/2008).
Foi mencionado em reportagem de uma Revista colombiana – Cambio — que teve éco instantâneo no Brasil.
Para os companheiros de armas das Farc, Olivério Medina é "Padre Camilo". Ou "Cura Camilo".
Atribui-se a ele a condição de embaixador informal dos interesses da narcoguerrilha da Colômbia no Brasil.
Alcançado pelo repórter Robson Bonin, o contato das Farc em terras brasileiras esquivou-se de recebê-lo.
Abriu a porta do apartamento e, com o corpo parcialmente recoberto, justificou-se:
"Desculpe, mas não posso falar. Sou um refugiado neste país (???). Não dou entrevistas."
Em 2005, quando já vivia no Brasil havia 8 anos, Olivério Medina foi preso em São Paulo.
O governo colombiano solicitara sua extradição. Livrou-se de ser deportado graças às boas relações que mantém com o petismo e a um detalhe: Ele é casado com uma brasileira, a gaúcha Angela Maria Slongo. (O ministro Tarso Genro é gaúcho, lembram-se?). Com ela teve uma filha, Leonarda.
De seus contatos no PT Olivério Medina obteve ajuda para ganhar o status de os refugiado.
O casamento com a brasileira, ocorrido há dez anos, serviu de argumento para sensibilizar o STF a negar o pedido de extradição para a Colômbia.
Deve-se a Angela Maria, de resto, o sustento da família. Professora, ela foi empregada, em dezembro de 2006, na secretaria da Pesca da Presidência da República.
Uma repartição que, na semana passada, foi convertida por Lula em mais um ministério.
Professora, a mulher de Olivério Medina foi acomodada num projeto de alfabetização de pescadores. Recebe R$ 1.500 por mês. Abordada pelo repórter Carlos Wagner, Angela Maria mostrou-se apreensiva com a repercussão da reportagem que deu ao marido e a ela própria súbita notoriedade.
"Tenho receio de prejudicar as pessoas que me ajudaram. E também de causar mais danos a minha própria família..." "...Fui colocada em uma posição muito incômoda pela repercussão que a reportagem publicada na Colômbia teve no Brasil". "...Posso dizer que [a reportagem] causou um enorme transtorno para nós..."
"...As coisas foram colocadas de uma maneira que causam constrangimento a todos aqueles se aproximam de nós."
Angela Maria evita mencionar os nomes das pessoas que a levaram para a folha de salários da gestão Lula.
Diz apenas que recebeu o auxílio de amigos.
Na notícia do semanário Cambio, Olivério Medina é apontado como autor de vários e-mails enviados a lideranças das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
"Um dos e-mail diz: “Na segunda-feira, dia 15, a ‘Mona’ começou em seu novo emprego e, para garanti-la ou impedir que a direita em algum momento a hostilize, a colocaram na Secretaria da Pesca, trabalhando no que chamam aqui de cargo de confiança ligado à Presidência.”
Se isso não é uma evidência, então o que será? Mona é servidora pública do Paraná. Foi transferida por solicitação de Dilma Rousseff, que assina o ofício ao governo paranaense. Quando a revista diz que o governo Lula deve, ao menos, uma explicação, diz o óbvio. Ou não?"
Alguns dos personagens citados nas mensagens atribuídas a ele trabalham na presidência.
Entre eles estão: Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula; Paulo Vanucci, secretário de Direitos Humanos; Marco Aurélio García, assessor internacional de Lula; e Selvino Heck, assessor especial.
Os passos de Olívério Medina vêm sendo monitorados pela PF há anos. Em 2001, foi impedido de discursar numa reunião do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
Agora, soube-se que seus contatos no Brasil serão objeto de uma investigação da Abin.