22/mai/08 (AER) – No momento em que a questão indígena no País evoluiu para uma situação de crise, desencadeada, em grande medida, pela sucessão de incidentes envolvendo a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol e outros correlatos, é relevante analisar-se o 2º Encontro Nacional dos Povos da Floresta, realizado em abril passado em Manaus (AM). O primeiro encontro, em 1987, foi presidido por Chico Mendes.
O encontro seria mais um dentre vários outros similares não fôra pela convocatória que vincula reservas indígenas a um esquema financeiro internacional para reduzir emissões de CO2, o vilão do ‘aquecimento global’ antropogênico. Em síntese, a proposição é estabelecer um fluxo regular de dinheiro internacional para abastecer diretamente o que poderia ser o ‘caixa inicial’ de uma futura nação indígena autônoma. Veja-se que os ‘contratos’ de pagamento em discussão duram nada menos que 60 anos!
O esquema é o REDD, formalmente conhecido como ‘Reduzindo as Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal’ (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation), e foi lançado durante a Conferência do Clima, da ONU, realizado em novembro passado em Bali, Indonésia.
Em Manaus, reuniram-se representantes de ‘povos da floresta’ de 11 países da América Latina e, após deliberações, emitiram uma ‘Carta de Manaus’ e criaram a International Alliance of Forest Peoples para tratar dos seus interesses e negociações diretas com os corretores internacionais do ‘mercado de carbono’.
O evento mereceu um artigo no New York Times que comentou sobre a atuação do aparato ambientalista por apontar a América do Sul como ‘alvo preferencial’ para as negociatas com os voláteis créditos de carbono: [1]
‘O governo da Indonésia vem promovendo a idéia da comercialização do carbono em reuniões sobre mudanças climáticas. Contudo, os ambientalistas enxergam a América do Sul, onde as populações nativas (sic) têm grandes pleitos sobre questões territoriais, como local preferencial para a construção do conceito (REDD, ed.)
‘Diferentemente do Sudeste da Ásia, onde a terra é controlada com muito mais rigor pelos governos nacionais, o Brasil separou enormes faixas de terras da Amazônia para as populações nativas que possuem agora direitos permanentes sobre 12% do território do País e 21% do território da Amazônia. Cerca de 49 milhões de acres (aprox. 20 milhões de hectares, ed.) de ‘reservas extrativistas’ foram destinadas para seringueiros, catadores de castanha e comunidades ribeirinhas que vivem lá’.
Adiante, a matéria revela que a ONG americana Woods Hole Research Center (WHRC) já fez até as estimativas de quanto os ‘grupos nativos’ brasileiros receberiam: cerca de dez dólares por quilômetro quadrado do ‘perímetro defendido’.
O Encontro de Manaus foi armado pela WHRC e sua filial brasileira, o IPAM, uma das consorciadas ‘vip’ da USAID para monitorar a floresta amazônica, e outras ONGs socioambientais do pedaço. Uma das estrelas do evento foi o conhecido antropólogo americano Stephan Schwartzman, da ONG Environment Defense Fund (EDF), e que também é membro fundador do Instituto Socioambiental (ISA). ‘Existe um sentimento real que isso (o REDD, ed.) representa uma enorme oportunidade para os povos da floresta influírem nas negociações sobre mudanças climáticas e criar incentivos em larga escala para impedir o desmatamento e, ao mesmo tempo, melhorar as suas condições de vida’, disse Schwartzman.
Ressalte-se que a EDF e Schwartzman foram elementos chave para a propulsão mundial do mito Chico Mendes. Para Schwartzman, por exemplo, Roraima não deveria existir como Estado “pois não há atividade econômica que o sustente...Considerando a atitude da classe política de Roraima para com as terras indígenas do Estado, o povo brasileiro está pagando pelo esbulho do seu próprio patrimônio. E, cabe ressaltar, que esta é a estrutura político-econômica da Amazônia como um todo”. [2]
O Encontro faz parte da estratégia alienígena de colocar em prática o conceito de soberania relativa para a Amazônia que foi magistralmente enunciado pelo ex-presidente americano Al ‘Guru Climático’ Gore ao declarar que a região não pertencia aos brasileiros, mas à toda a Humanidade. O tal REDD proposto em Manaus é uma combinação perfeita para isso: cria-se o arcabouço de futuras nações indígenas e os ‘guardiões perfeitos’ da floresta ajudam a ‘salvar’ a Humanidade do apocalíptico aquecimento global antropogênico.
Notas:
[1]Amazon’s ‘Forest Peoples’ Seek a Role in Striking Global Climate Agreements, The New York Times, 06/04/2008
[2]Establishment dos EUA não quer a Cuiabá-Santarém asfaltada , Alerta Científico e Ambiental, 05/08/2002
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Belo Monte: do “facão à construção”
Nilder Costa on 27 Maio, 2008 22:00:19
22/mai/08 (AER) – Anteontem, índios armados de facões e bordunas atacaram com selvageria o engenheiro da Eletrobrás, Paulo Fernando Rezende, que foi convidado para participar o `2º Encontro de Altamira`, organizado por ONGs ambientalistas e indigenistas, para discutir sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu.
Após a exposição de Rezende, que contrariou a maioria dos presentes ao afirmou que o impacto ambiental da usina seria menor do que os ambientalistas davam a entender, Roquivan Alves da Silva, do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), tomou o microfone e disse à platéia: : "Nós iremos à guerra para defender o Xingu se for preciso". Mencione-se que Roquivan foi o líder da violenta invasão do MAB à hidrelétrica de Tucuruí, em maio do ano passado, ocasião em que posou com arrogância para as câmeras de televisão na sala de controle da usina simulando o desligamento da mesma. [1]
Ato contínuo, índios de diversas etnias, sobretudo caiapós, levantaram-se e começaram a gritar, cantar, dançar em círculos e a se aproximar lentamente de onde estavam os palestrantes. Armados de facões e bordunas, eles cercaram Rezende e passaram a espancá-lo por dez minutos. Com os ânimos super-exaltados, o resultado não poderia ser diferente: um desses índios, ainda não identificado, atacou e esfaqueou o engenheiro, que foi ferido no braço com um profundo corte, configurando uma clara tentativa de assassinato.
O encontro foi organizado pela ONG americana International Rivers Network (IRN), juntamente com o Instituto Socioambiental (ISA), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e outras. Glenn Switkes, da IRN, é um conhecido agitador profissional que há anos vem fazendo campanhas deletérias contra a construção de hidrelétricas e outras obras de infra-estrutura na Amazônia.
Os organizadores do encontro pretendiam reviver a pajelança realizada em 1989, notabilizada pelo famoso facão esfregado por uma índia tuíra no rosto do então diretor da Eletronorte Antônio Muniz Lopes (atual presidente da Eletrobrás) e que, de fato, desembocou no cancelamento dos projetos de hidrelétricas de grande porte na Amazônia. Por isso mesmo, este Alerta e outros meios têm intitulado o episódio como ‘do facão ao apagão’. Mas eles cometeram o erro primário de linearizar acontecimentos humanos, que não são estáticos, e o resultado foi o oposto do almejado. [2]
As cenas de selvageria tiveram uma repercussão negativa tão grande que podemos agora usar o mote ‘do facão à construção’, no caso, de Belo Monte e outras hidrelétricas na região.
Notas:
[1]Contra usina, índios ferem engenheiro, Folha de São Paulo, 21/05/2008
[2]Do bagre ao coquetel molotóv, Alerta Científico e Ambiental, 24/05/2007