Somem esta notícia à mensagem enviada anteriormente sobre notícia do NYT e tirem suas conclusões. Não esqueçam as notícias sobre o emprego do EB no policiamento de reservas naturais e verifiquem se são fantasiosas as pretensões do Diálogo Interamericano de transformar as Forças Armadas sul-americanas, em especial o EB, em mera milícia. Esse governo de esquerda é internacionalista demais para o meu gosto (muito embora esteja se lixando para isso, é verdade).
Osmar JB Ribeiro
Procuradoria apura confronto entre índios e Exército em Roraima
O Ministério Público Federal apura confrontos de índios da reserva Raposa/Serra do Sol (RR), ligados ao CIR (Conselho Indígena de Roraima), com o Exército. Na investigação em curso, aberta em 2002 pela Procuradoria, além de relatos de confrontos, consta uma comunicação de crime ambiental, de janeiro deste ano, contra o Exército feita pelo Ibama.
O Exército construiu, em 2001, sem licença ambiental, segundo o Ibama, o quartel do 6º Pelotão Especial de Fronteira na cidade de Uiramutã (RR), vizinha à Raposa/Serra do Sol.
É com militares desse quartel que ocorreram confrontos, alvos de apuração da Procuradoria. O CIR acusou o Exército em 2005 de causar dano ambiental. O Exército afirma que apenas não aceitou pagar pela licença ambiental, como quer o Ibama, porque é órgão público.
A Folha apurou que o Exército em Roraima avalia que o CIR é uma ONG cuja atuação deixa mais vulnerável a soberania nacional na área indígena.
"Somos uma organização indígena. Eu considero ONGs as que são dos brancos", afirma o coordenador do CIR, o macuxi Dionito José de Souza, 40.
A investigação da Procuradoria começou com uma carta de líderes indígenas enviada pelo CIR. Relata que em 20 de março de 2002, oito soldados do pelotão de Uiramutã "começaram a filmar e a fotografar a maloca". O líder indígena Valdir Clementino não permitiu a filmagem. "Ali era posto de fiscalização indígena, que tem o objetivo de controlar a entrada de pessoas não-índias", diz a carta. Segundo o relato, no mesmo dia, um helicóptero trouxe 40 soldados que deixaram "crianças horrorizadas".
Ainda segundo a carta, "havia (...) soldados com suas armas apontadas para os índios e os índios com suas flechas armadas e apontadas para os soldados". Não houve conflito, mas os oficiais fizeram as filmagens, disseram os índios.
A Funai foi à aldeia e escreveu que os indígenas "não são contra o Exército, mas sim ao local onde está localizado o quartel. São contra as atitudes do Exército, com relação à entrada na área sem avisá-los".
Em sua resposta ao Ministério Público, o Exército diz que uma patrulha atualizava mapas da região filmando e fotografando. "A patrulha foi impedida de transitar na área da maloca."
Então, segundo o Exército, foi enviado um helicóptero com nova patrulha "recebida de forma hostil, com indígenas empunhando arcos e flechas".
De acordo com o Exército, a tropa manteve as armas, durante toda a ação, "com canos voltados para o chão". Também informou que não houve pânico entre índios e crianças.
Por fim, o Exército cita que um decreto de 2002 dá liberdade de trânsito ao Exército em terras indígenas. Mas, em janeiro de 2003, o CIR comunicou ao Ministério Público Federal que índios barraram de novo uma equipe de soldados.
Estrada da Raposa/Serra do Sol evidencia marcas do conflito de índios e arrozeiros
A estrada da reserva Raposa Serra/Sol é cheia de pedras que ficam cada vez maiores quando se avança. O vale do arroz, local de conflito entre fazendeiros e índios, tem a terra mais fértil.
Na reserva, os índios se dividem em 194 comunidades espalhadas em 1,7 milhão de hectares. São 18 mil índios que vivem da pecuária, diz o CIR (Conselho Indígena de Roraima), que luta pela demarcação contínua da Raposa/Serra do Sol e, conseqüentemente, pela expulsão dos arrozeiros.
O vale do arroz começa a se mostrar em Vila Surumu, centro do conflito e onde está a fazenda Depósito, de 4.000 hectares, de Paulo César Quartiero, líder dos arrozeiros. Lá é a porta de entrada da reserva. Para Quartiero, Surumu é distrito da cidade de Pacaraima, da qual ele é prefeito pelo DEM.
Para chegar à Raposa/Serra do Sol, deixa-se a rodovia federal BR-174 em um ponto a 180 km de Boa Vista. São 26 km de estrada de chão até a vila que, segundo a prefeitura, tem 900 habitantes. No caminho há uma ponte destruída no confronto iniciado em março entre arrozeiros e índios.
Na vila, há um acampamento do CIR para vigília na fazenda de Quartiero. A 20 km dali, outra vila. A Folha foi informada pela Prefeitura de Pacaraima que lá existem 600 eleitores.
Mais à frente, nova ponte destruída. A estrada chamada Transarrozeira, que dá acesso a outras fazendas de produtores de arroz, fica a 40 km dali. Por lá, Quartiero tem uma segunda propriedade chamada Providência (5.000 hectares).
À frente, os índios montaram um "posto de fiscalização" para impedir que equipamentos cheguem de Boa Vista às fazendas. Seguindo a viagem, a paisagem volta a ficar árida sem o verde das fazendas. (HC E SL)