Operação com cerca de 700 homens abordou grupo de manifestantes em acampamento na RS-630
Na madrugada de ontem, uma megaoperação da Brigada Militar, com mais de 700 homens de várias cidades do Estado, preparava-se para cumprir um mandado de busca e apreensão na Fazenda São Paulo 2, às margens da RS-630, onde um grupo de centenas de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está alojado. A ordem judicial, dada pelo juiz José Pedro de Oliveira Eckert, de São Gabriel, pretendia identificar os sem-terra e encontrar armas de fogo, munição e objetos que pudessem ser usados como armas. No final, foram várias apreensões e cinco detidos. Como reação, militantes do MST bloquearam trechos de rodovias no Estado.
O cerco começou a se armar a quatro quilômetros do acampamento dos sem-terra. Policiais militares e homens do Batalhão de Operações Especiais (BOE) e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) iriam agir a qualquer momento. Todos os trechos da estrada de acesso à Fazenda São Paulo 2 foram bloqueados.
Por volta das 8h, foi dado sinal verde para o começo dos trabalhos. Os policiais rumaram em direção à São Paulo 2. O grupo é o mesmo que invadiu a Fazenda Southall, a 15 quilômetros da São Paulo 2. Ela estava na mira do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para desapropriação, mas foi considerada produtiva. A propriedade foi invadida em 14 de abril e desocupada quatro dias depois, por ordem judicial. Na ocasião, os sem-terra deixaram a área depois da garantia de que não seriam revistados e identificados. A invasão queria pressionar o governo federal a assentar famílias.
A instalação das famílias na São Paulo 2 foi em caráter provisório. Segundo a assessoria de imprensa do Incra, a fazenda deve ser transformada em assentamento.
A ação - Quando foi liberado o acesso da imprensa até a fazenda, quase duas horas depois do início das atividades, os militantes do MST já estavam sendo revistados.
- Antes, cercamos o lugar. O mandado foi lido e demos um tempo para eles se organizarem - explicou o subcomandante geral da Brigada, Paulo Roberto Mendes.
Homens foram colocados de um lado, e mulheres e crianças, de outro. Enquanto aguardavam para fazer a identificação, alguns acampados não gostaram da atitude dos policiais com um militante que estava mais exaltado. A situação ficou só na agressão verbal. Mesmo com o incidente, o ouvidor-geral da Segurança Pública do Estado, Adão Paiani, garantiu que tudo aconteceu de forma tranqüila. A advogada do movimento, Cláudia Ávila, que estava no local, discordou:
- É uma atrocidade o que está sendo feito aqui.
Conforme o coronel Mendes, a justificativa para todo o aparato utilizado foi para a "segurança de todos".
Estrutura - Além dos mais de 700 policiais, foram usados cães e um helicóptero. O aparato incluiu três antenas de comunicação via satélite, laptops e impressoras, que possibilitaram a identificação mesmo de quem não tinha documentos. Tudo ao ar livre e alimentado por um gerador.
Por volta das 13h, vários policiais começaram a se retirar da São Paulo 2. Mesmo assim, a identificação dos sem-terra continuou. No retorno, ruralistas que estavam na RS-630 saudaram o coronel Mendes, que desceu do carro para cumprimentá-los.
- Gostaríamos de ter assistido. - afirmou a vice-presidenta do Sindicato Rural de São Gabriel, Roselba Mozzaquatro.
Depois de identificados, os sem-terra foram liberados. Por enquanto, eles ficam no mesmo acampamento.
(homero.pivotto@diariosm.com.br )
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Visita
Por volta das 12h45min, a Brigada Militar recebeu uma determinação judicial que autorizou a entrada do deputado federal Adão Pretto (PT), do assessor técnico do Incra Leonardo Melgarejo e do ouvidor-geral da Segurança Pública do Estado, Adão Paiani, que já estava no local. O acesso da imprensa foi supervisionado por um policial militar, que orientava repórteres e fotógrafos. Os ruralistas não puderam entrar na Fazenda São Paulo 2
Multimídia
Policiais militares revistam minuciosamente os sem-terra na Fazenda São Paulo 2. Enquanto isso, as mulheres e os outros homens (ao fundo) esperam em fila para passar pelo pente-fino dos brigadianos
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Aparato tecnológico ajudou a identificar todos do MST
Tudo o que estava dentro das barracas foi inspecionado
Alvos de estratégia que costumam empreender em invasões, sem-terra acampados em São Gabriel tiveram de passar por revista inesperada
Acostumados a entrar de surpresa nas propriedades, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram alvos da mesma tática, ao amanhecer de ontem em São Gabriel. Às 6h, 765 PMs de diversos pontos do Estado chegaram marchando à Fazenda São Paulo 2 e cercaram a área onde estão alojados 800 sem-terra há 20 dias, desde que deixaram a Fazenda Southall. Em represália, o movimento promoveu bloqueios em 10 pontos de rodovias no Estado (veja quadro).
O aparato, um dos maiores já empregados nesse tipo de ação, contava com helicóptero, computadores portáteis conectados via satélite, ônibus, viaturas e cães farejadores. É a nova estratégia da Brigada Militar para enfrentar as invasões de terra.
Conforme o coronel Paulo Roberto Mendes, subcomandante da BM, a ofensiva foi necessária "para restabelecer a ordem pública" na região, onde está o acampamento:
- Agiremos assim sempre que for preciso. Não adianta protestar.
A ação começou a ser desenhada na segunda-feira, quando Mendes colheu relatos de produtores rurais que teriam sofrido supostas ameaças por parte do MST e estariam com dificuldades de transitar pela RS-630.
- Fizemos uma reunião com o ouvidor agrário do Estado (Adão Paiani), com autoridades locais, promotores, e todos ouviram as mesmas queixas de quase uma centena de produtores rurais - lembrou o comandante.
No mesmo dia, Mendes montou uma base da BM na região com 30 PMs em tempo integral e solicitou uma mandado de busca e apreensão à Justiça para revistar o acampamento.
A ordem do juiz José Pedro de Oliveira Eckert chegou a Porto Alegre na tarde de quarta-feira. No Quartel-general, a BM decidiu mobilizar o maior número de PMs possível para São Gabriel. Até o efetivo escalado para o jogo Inter e Sport Recife, no Beira-Rio, na noite de quarta-feira, foi alterado.
Durante a madrugada de ontem, comboios de PMs rumaram para São Gabriel. Pela primeira vez seguiu junto uma equipe do Instituto-geral de Perícias. O objetivo: identificar todos, revistar barracas e apreender objetos que pudessem servir de armas.
Sob olhares do ouvidor-geral da Secretaria da Segurança Pública (SSP) e ouvidor Adão Paiani e de uma advogada do MST, os sem-terra foram obrigados a deixar as barracas. Em fila indiana, foram revistados e identificados. Por meio de 10 laptops, os PMs acessavam dados do sistema da SSP. Quem não tinha documento foi fotografado e submetido à coleta de impressões digitais. Enquanto isso, barracas eram vistoriadas.
Cinco pessoas foram presas na operação
O resultado: um caminhão-baú cheio de foices, facões, machados, escudos de madeira e garrafas de coquetel molotov, cinco presos (três foragidos e dois por desacato e resistência), 16 adolescentes sem responsáveis, 28 crianças sem registro de nascimento e a localização de uma jovem de 19 anos com registro de desaparecimento.
Os presos e o material recolhido foram apresentados à Delegacia da Polícia Civil de São Gabriel, que investiga a invasão da Fazenda Southall.
Durante a operação da BM, o deputado estadual Dionilso Marcon (PT) tentou entrar na área, mas foi impedido pela Brigada, que só permitiu o ingresso de quem tinha a licença da Justiça. Os documentos da caminhonete de Marcon foram vistoriados, e o deputado teve de voltar para casa de carona. O carro foi apreendido pois estava com o licenciamento vencido.
Para o deputado federal Adão Pretto (PT), que teve acesso à São Paulo, as atitudes da BM foram "descabidas".
- O Carandiru foi café pequeno frente à humilhação que aqueles trabalhadores passaram. Eles ficaram das 8h até as 15h sentados na grama e pelo menos duas horas com as mãos na cabeça. Os brigadianos rasgaram os barracos e acabaram com a comida - divulgou Pretto em nota oficial.
Adão Paiani se disse surpreso com as declarações:
- A ação da BM foi impecável. Acompanhei desde a madrugada.
Eldorado do Sul - O MST interrompeu o trânsito por três horas no km 130 da BR-290, à tarde.
Hulha Negra - Os bloqueios foram feitos no km 160 da BR-293 das 9h30min às 16h10min. O trânsito era liberado de hora em hora. Filas se formaram na rodovia.
Júlio de Castilhos - O protesto começou às 10h com bloqueios da BR-158. Com troncos de árvores e um trator, o MST impedia a passagem nos dois sentidos. A manifestação terminou às 16h.
Lagoa Vermelha - Entre 13h40min e 14h, manifestantes bloquearam o km 201 da BR-285, localizado na área urbana do município.
Nova Santa Rita - A BR-386 foi bloqueada pela manhã no km 432 pelo MST. O grupo permaneceu no local até as 15h30min e só permitia a passagem de ambulâncias e carros-fortes, causando congestionamento na região.
Piratini - Entre 10h e 14h, a pista da BR-293 foi interrompida por pedras, paus de madeira e pelos próprios manifestantes, que liberavam o trânsito a cada 10 minutos. Em razão disso, o bloqueio gerou congestionamentos de, no máximo, um quilômetro.
Pontão - Os manifestantes impediram o trânsito de veículo das 14h30min às 16h30min, na RS-324.
Santana do Livramento - A passagem de veículos na BR-158 foi bloqueada até as 17h. Além de formar uma barreira humana, os sem-terra estacionaram tratores no meio da pista. Os bloqueios duraram entre meia hora e uma hora, gerando filas.
São Luiz Gonzaga - Com troncos, grupo ligado ao MST trancou parcialmente a pista da BR-285, no km 578.
Viamão - O protesto ocorreu no km 19 da RS-040, perto da praça de pedágio, das 10h30min ao meio-dia.
Multimídia
Mais de 750 policiais militares provenientes de diferentes pontos do Rio Grande do Sul foram deslocados para área onde estão acampados 800 sem-terra