Ministro Nelson Jobim pede paciência à tropa. Percentual de reajuste pode ser maior
Ananda Rope
9/4/2008 01:12:00 - jornal "O DIA"
BRASÍLIA - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem hoje reunião decisiva com o colega do Planejamento, Paulo Bernardo, para definir o percentual de reajuste dos soldos das Forças Armadas, que será dividido em mais de duas parcelas. Diante da possibilidade de o aumento não atender imediatamente às expectativas da tropa e de seu anúncio sofrer novo adiamento, Jobim pediu paciência aos militares.
“Há pretensão de um alongamento maior, inversões de percentuais”, disse Jobim ontem, após a cerimônia de apresentação dos novos oficiais-generais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A fixação vai acontecer, mas nós ainda temos que conversar com o presidente Lula”, completou.
Em seu discurso durante a cerimônia, Jobim disse que está “em sintonia” com os comandantes das três Forças. O ministro ressaltou ainda que a modernização das Forças Armadas está diretamente vinculada ao desenvolvimento econômico, científico e tecnológico do País. “O presidente Lula tem pressa na solução dos problemas orçamentários e na definição do almejado reaparelhamento da Marinha, Exército e Aeronáutica”, afirmou.
Na próxima semana, Jobim viaja para Venezuela, Guiana e Suriname para discutir a criação do Conselho Sul-Americano de Defesa, que terá como base a soberania, a não-intervenção em assuntos internos e a inviolabilidade territorial. “A indústria nacional de material de defesa necessita de um mercado regional para se desenvolver. É hora de pensar grande. Com arrogância e audácia”, discursou.
REMUNERAÇÃO ADEQUADA
O vice-presidente José Alencar, que foi ministro da Defesa e conhece a dificuldade que ronda a negociação do reajuste dos soldos, disse que, mesmo com os recursos orçamentários sendo escassos, as Forças Armadas precisam ser reconhecidas pelo trabalho que fazem e que merecem remuneração adequada. “As Forças Armadas defendem a soberania, os direitos, o patrimônio brasileiro e devem ser tratadas com muito respeito e dignidade. Não podemos deixar que os soldos fiquem inadequados”, advertiu, pouco depois de ter ressaltado as dimensões e riquezas do Brasil, segundo ele, “um país visado”.
Mesmo diante de tantas sinalizações sobre a possibilidade de o reajuste dos soldos sair hoje e próximo do valor esperado pelas tropas, oficiais ouvidos por O DIA não se mostraram confiantes. Afinal, a discussão sobre o aumento se arrasta há dois anos, seu anúncio já sofreu nove adiamentos e os valores variaram de 8%, em duas vezes de 4%, a 37,04%.
“Hoje acompanhei a minha esposa numa feira e constatei algo desalentador: esposas de militares, contando migalhas e os esposos cabisbaixos, envergonhados, cada qual refém de uma lorota sobre aumento de salário, plantada nos veículos de comunicação”, escreveu um deles ao jornal.
Dividir para garantir um aumento maior
Militares do alto escalão apontam que voltou à mesa de negociação o estudo que garante aumento de até 37,04% para os soldos. Para viabilizar o índice, o governo sinalizaria agora com parcelamento além de 2009. “Nesse caso, cabe até discutir uma atualização monetária do índice”, aponta um oficial, lembrando que os 37,04% chegaram a ser apresentados por Jobim em audiência pública na Câmara Federal no ano passado, gerando expectativa na tropa que teria que ser atendida.
“São meses e meses de angústia”, resume um militar, para, em seguida, fazer um apelo aos comandantes das Forças Armadas: “Já perdemos nestes dois anos sem reajuste a inflação, que reaparece para ficar. Nossa passividade e tolerância garantem-lhes crédito e autoridade moral para recusarem propostas insatisfatórias. Não nos decepcionem”.
A discussão sobre o reajuste das tropas se arrasta desde 2006, quando o Ministério da Defesa ainda estava sob o comando de Waldir Pires. De agosto do ano passado para cá, a briga foi comprada pelo atual ocupante da pasta, Nelson Jobim, que tem negociado percentuais com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Embora a fonte pagadora seja a mesma, o Planejamento já negou a possibilidade de equiparar o soldo das Forças Armadas aos dos integrantes da Polícia Militar de Brasília — a mais bem paga do País – e disse que “cada caso é um caso”.
PM de Brasília já teve reajuste
Enquanto as Forças Armadas aguardam a definição sobre o reajuste, a PM de Brasília (PMDF) tem o aumento de suas gratificações garantido e corre atrás de mais 14% para este ano e 3%, em 2009. O aumento da PMDF foi dado em setembro na Medida Provisória 401/07, que virou o Projeto de Lei de Conversão 4/08 aprovado pelo Senado na semana passada. Se a MP não tivesse a tramitação concluída até o dia 24, perderia a validade, e os salários dos policiais teriam que ser reduzidos.
Como justificativa para a aprovação da MP, o ministro Paulo Bernardo afirmou, em mensagem encaminhada ao presidente Lula, que a proposta tinha por objetivo tornar a carreira mais atrativa, irritando os militares das Forças Armadas, que passaram a comparar seus vencimentos com os pagos aos PMs.
“Não quero de forma alguma que os salários da PMDF sejam diminuídos. Sou a favor que policiais ganhem muito bem e não quero atacar seus ganhos. Eles e seus chefes foram competentes em reivindicar e conseguir melhores vencimentos”, diz um praça do Exército.