Levantamento virou "troco" contra investigação de cartões
O dossiê montado e divulgado para tentar intimidar a oposição e expor gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso tem dia, hora e mês de nascimento. O levantamento foi gerado em 1º de fevereiro, por volta das 14h, durante a entrevista de demissão da então ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), no rastro das notícias sobre gastos irregulares com cartões corporativos da República.
Diante da demissão e da pressão da oposição para arrancar do Congresso uma CPI, a base governista cristalizou a idéia de que era preciso buscar dados para mostrar que os gastos do governo Lula com cartão corporativo e as contas tipo B eram iguais aos do governo anterior. Mas o que era para ser um levantamento de dados em defesa do governo transformou-se numa peça para "dar o troco ao governo FH".
No dia 6 de fevereiro, ministros traçaram o roteiro. Nos dias seguintes, em reuniões no Planalto, os ministros Dilma, Paulo Bernardo (Planejamento) e Franklin Martins (Comunicação) coordenaram os trabalhos de mobilização da tropa da coleta de dados nos ministérios e dentro do Planalto.
A política dos dossiês
No momento em que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a deslanchar na promoção do desenvolvimento, respaldado pela estabilidade da economia e pela extrema popularidade do chefe da nação, uma bomba de efeito político imediato explode no colo da administração. Além de ter desviado o foco do país para uma pauta negativa, o dossiê saído da Casa Civil, aparentemente com o propósito de constranger a oposição, acabou se transformando numa dor de cabeça para o governo, obrigando a ministra Dilma Rousseff a se explicar em entrevista coletiva, na última sexta-feira.
Fez bem, pois até então os integrantes do primeiro escalão da República vinham reagindo de forma equivocada, tentando negar evidências e buscando transferir a responsabilidade unicamente para a oposição. Esta estratégia já se revelou desastrada no passado. Basta lembrar o célebre episódio dos aloprados - denominação dada pelo próprio presidente da República aos petistas que negociaram um dossiê falso contra o então candidato José Serra, no primeiro turno das eleições de 2006. E agora o filme parece se repetir.
As planilhas copiadas do sistema de computadores da Casa Civil e divulgadas na última sexta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo não deixam dúvida de que tanto as informações conhecidas quanto os dados sigilosos foram compilados de modo a comprometer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a ex-primeira-dama e ministros da administração anterior. Uma revelação como essa, no momento em que a oposição pressionava a CPI dos Cartões Corporativos para investigar membros da atual administração, só podia ser interpretada como tentativa de chantagem, o que a oposição tratou de alardear.
O governo demorou a entender que deveria prestar contas à nação. Sua primeira reação foi negar a existência do dossiê sob o pretexto de que não passava da formulação de um banco de dados para atender a pretensa solicitação do Tribunal de Contas da União, que nunca foi feita. Em seguida, ou concomitantemente, integrantes do alto escalão procuraram desacreditar os veículos de comunicação que divulgaram o suposto dossiê. Por fim, buscaram responsabilizar um senador oposicionista pelo repasse das informações à imprensa, como se a divulgação fosse mais grave do que o fato.
Só na última sexta-feira, depois da publicação de imagens das planilhas dos computadores da Casa Civil, é que o governo agiu com firmeza e anunciou uma auditoria para apurar o vazamento das informações. É uma decisão sensata. Os brasileiros não querem saber se a administração passada fez mais gastos indevidos do que a atual. Querem, isto sim, que seus governantes, independentemente da coloração partidária, sejam íntegros, honrem seus mandatos e coloquem os interesses da nação acima de disputas políticas e partidárias. A política dos dossiês não serve ao país, apenas retrata o descompromisso ético de quem insiste em utilizá-la.
Obs.: Com ministros-guerrilheiros-terroristas no governo Lula, não se podia esperar outra coisa, a não ser terrorismo em estado puro contra desafetos políticos. Para quem tem memória curta, quero lembrar que Franklin Martins, membro do grupo terrorista MR-8, foi o mentor do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick (com auxílio de Fernando Gabeira e outros terroristas), e Dilma Rousseff foi membro da VAR-Palmares, um dos grupos terroristas mais violentos das décadas de 1960/1970. De "mãe do PAC", Dilma na realidade transformou-se na "madrasta do dossiê anti-FHC". Se Lula tivesse um pouco de compostura, já teria despedido a guerrilheira-chefe da Casa Civil (F. Maier).