Rio - Apreensão e expectativa no 23º andar da Avenida República do Chile, 65, Rio de Janeiro. A presidência da Petrobras tem uma informação que pouquíssimos brasileiros conhecem; entre os que têm a mesma informação, o presidente da República, Lula, e quem investiga o caso instalado no 3° andar do número 1 da Avenida Rodrigues Alves, Praça Mauá, no departamento de Inteligência da Polícia Federal, Rio de Janeiro. O que sabem o presidente da República, a presidência da Petrobras, e quem investiga o caso, classificado como ultra-confidencial?
Sabem, com mais ou menos detalhes, que entre uma plataforma da Petrobras em Campos e uma sede da empresa em Macaé - também Rio de Janeiro - foram furtados um dísco rígido e dois notebooks com informações detalhadas e os dados de pesquisas que levaram às recentes megadescobertas de petróleo e gás em águas profundas.
O furto de tão valiosas informações tem contornos e desdobramentos ainda imensuráveis. Inclusive por conta de alguns dos personagens e instituições que, mesmo involuntariamente, fazem parte do enredo.
Arrombamento e furto
No dia 1º de fevereiro, a presidência da Petrobras recebeu a notícia através do seu setor de segurança. Um container despachado desde uma das plataformas de pesquisa na bacia de Campos para a superintendência da Petrobras em Macaé teve violado um cadeado de segurança.
Quando se tentou abrir o cadeado, a chave não funcionou. Na seqüência de tentativas, aberto na marra, a segurança descobriu: o cadeado original havia sido trocado por outro, dados e informações absolutamente estratégicas e confidenciais sobre as recentes descobertas da Petrobras haviam desaparecido do container.
Como a empresa dispõe de cópias da documentação contida nos notebooks e no disco rígido, não reside nisso o maior problema; melhor dizendo, a cadeia de graves problemas e seus desdobramentos.
Quanto a esta teia de problemas e desdobramentos possíveis, comecemos pela empresa contratada pela Petrobras para o transporte de tão confidenciais informações: é a norte-americana Halliburton, uma das maiores corporações do mundo nos serviços de pesquisa e exploração de petróleo.
Linkada às gigantes Energy Services Group (EGS) e Kellogg Brown & Root (KBR), a Halliburton teve como presidente Dick Cheney, o atual vice-presidente dos Estados Unidos. Cheney deixou o cargo na Halliburton, empresa presente em mais de 100 países, para ser o vice de George Bush Júnior.
HIPÓTESES
A Inteligência da Polícia Federal já investiga o arrombamento e furto. São várias as hipóteses.
Sabotagem, uma delas, é pouco provável. Outra, levaria a um furto comum; algum pobre diabo teria arriscado o pescoço apenas para levar dois computadores e um dísco rígido, sem saber o tamanho do poço em que se metia.
Hipóteses mais prováveis, até o momento, são:
- Ação isolada de um serviço secreto estrangeiro.
- Espionagem - com a participação ou não de Serviços de Inteligência estrangeiros - por parte de empresa concorrente no trilhardário mundo do petróleo.
Para constar, apenas isso e nada mais do que isso, um perfil dos envolvidos; até que se saiba mais, diga-se, envolvidos involuntariamente.
Envolvidos por serem instituições ou personagens que, ainda que à revelia, não têm como não freqüentar este rocambolesco enredo.
PETROBRAS: Tinha reservas estimadas em 14,4 bilhões de barris, o que colocava o Brasil em 24º lugar no ranking das maiores reservas mundiais. Isso até as descobertas de Tupi - a partir da bacia de Santos. Supõe-se que o Brasil salte agora para a 8ª ou 9ª posição neste ranking.
A Petrobras é a quinta empresa do mundo entre as que têm grandes reservas e operam em Bolsas de Valores. Com as descobertas recentes deve saltar para o terceiro lugar.
O lucro da Petrobras em 2006 foi recorde: R$ 25,9 bilhões, um aumento de 9% em relação aos R$ 23,7 bilhões em 2005.
HALLIBURTON: é tida como a maior empresa de serviços em campos de petróleo mundo afora.
Com a Petrobras a Halliburton já assinou um contrato de US$ 2,5 bilhões, considerado, à época, o maior do mundo no setor.
Entre outros itens, o contrato previa a entrega de dois navios-plataforma para exploração de petróleo na Bacia de Campos.
Houve desentendimentos e o banzé foi bater na Comissão das Nações Unidas para Lei do Comércio Internacional (Uncitral), mas a questão foi resolvida e essa é outra conversa. É aqui relatada de passagem apenas para que se tenha uma dimensão da parceria e dos atores.
Certamente tudo caminha bem, uma vez que, em agosto passado, Petrobras e Halliburton fecharam novo contrato, este na ordem dos US$ 270 milhões.
DICK CHENEY: Ex-presidente da Halliburton, atual vice de Bush Júnior, é um expert em energia.
Antes de ser o vice de Bush - e batalhar ardorosamente pela invasão do Iraque onde, aliás, atua a Halliburton -, Dick Cheney dizia que a Petrobras ainda dominaria o setor petroleiro na América Latina.
Em tempo, e ainda sobre o arrombamento e furto de informações sobre descobertas recentes da Petrobras.
O campo de Tupi, anunciado no dia 8 de novembro de 2007, está localizado na bacia de Santos e tem capacidade estimada entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo.
Tupi é um acréscimo de quase metade da produção atual brasileira, que é de 14,4 bilhões de barris. O campo se espalha desde o litoral do Estado do Espírito Santo até Santa Catarina, ao longo de mais de 800 km de extensão por até 200 km de largura.
Resposta da Petrobras
A Petrobras respondeu oficialmente à Terra Magazine na manhã desta quinta-feira, 14:
- Houve um furto de material e equipamentos que continham informações importantes para a companhia. A Petrobras tem a integralidade das informações furtadas.
Diz ainda a estatal:
- O material não estava sob guarda da Petrobras. A Petrobras tomou as providências cabíveis e o assunto está sob investigação.