A Folha deu notícia insólita, porém verdadeira: “Funcionário do Ministério das Comunicações paga com cartão reforma de mesa de sinuca”.
Dizia o Barão de Itararé que de onde menos se espera é que não sai nada. No nosso caso a situação se inverte: de onde menos se espera é que sai o fato novo, a reforma de uma mesa de sinuca do Ministério das Comunicações paga com cartão corporativo.
De fato, quem imaginaria que há uma mesa de sinuca no Ministério das Comunicações? Há mais mesas no ministério? Quem joga sinuca no Ministério das Comunicações? Joga-se durante ou fora do expediente?
Mais curioso é o pagamento com o cartão corporativo. Como foi amplamente divulgado pelo governo, o cartão distribuído aos mais de onze mil funcionários destina-se ao pagamento de despesas inesperadas e urgentes. O que teria ocorrido com a mesa de sinuca? Algum jogador de primeira viagem teria rompido o pano verde, inutilizando a mesa para a prática do esporte?
Se assim foi, de fato a ocorrência deve ter sido inesperada, o que talvez indique que a mesa fosse anteriormente apenas utilizada por mestres da arte da sinuca, tendo um amador contrariado as normas e, desastrado, causado o dano inesperado.
Contudo, fica a pergunta: por que a urgência do conserto? Teria sido interrompido um torneio, justificando o uso do cartão e dispensada a tomada de preços? Por que o conserto da mesa de sinuca não pode esperar até que essa formalidade fosse atendida?
Com relação ao funcionário que providenciou o conserto, pagando com o cartão, louve-se a criatividade em parcelar em duas vezes o pagamento, já que de outra forma não seria possível usar o cartão: o limite de despesa teria sido ultrapassado. Isso apenas reforça o argumento da urgência, ficando apenas no ar a dúvida quanto à natureza do imperativo.