A situação partidária brasileira está ficando cada vez mais difícil. Já não bastava o PT ter imerso na corrupção, abandonando a bandeira tão estimada da ética na política. O PSDB, agora, com o desvio de recursos públicos para a campanha de reeleição do então governador, e hoje senador, Eduardo Azeredo, exibe, por sua vez, um comportamento igualmente condenável. Causa estupor que o partido esteja se defendendo com os mesmos parcos e esgotados argumentos utilizados pelos petistas. O atual presidente do PT, Ricardo Berzoini, ironicamente, chegou a declarar que compreendia as dificuldades dos adversários. Quem não entende, por certo, é o eleitor, que vê, cada vez mais, se restringir o seu leque de opções partidárias.
O mensalão petista teria tido sua origem, senão um ensaio geral, no esquema utilizado pelo Senador Azeredo, com o auxílio do agora ex-ministro Mares Guia, do PTB, aliado, hoje, do Presidente Lula. Embora pareça não ter havido naquele então o pagamento regular de parlamentares para a aprovação de projetos na Assembléia Legislativa, o relevante consiste no desvio de recursos de empresas estatais ou no uso indevido de doações privadas por parte do então candidato. O símbolo, político, não pode tampouco ser desprezado, pois o publicitário Marcos Valério seria também o seu operador. O operador tucano é também o operador petista, num esquema de corrupção em todos os pontos semelhantes. Trata-se bem disto: corrupção. Um partido aprendendo com o outro!
Quando confrontado a esse problema, há dois anos atrás, o PSDB tergiversou e foi incapaz de tomar qualquer decisão. Deixou a situação se deteriorar. O Senador Azeredo era, naquele momento, o presidente do partido e, no entanto, nem foi obrigado a renunciar. Alguns parlamentares, naquela ocasião, chegaram a dizer que não queriam constrangê-lo. Ora, constrangidos ficaram aqueles que apregoam por uma renovação ética da política brasileira.
A oportunidade, contudo, era de ouro. O partido poderia ter se diferenciado do PT, exibindo, naquele momento delicado, todo o seu comprometimento com a ética na política. O senador Azeredo deveria ter sido imediatamente afastado da presidência do partido até o final das averiguações. O Conselho de Ética do partido deveria ter sido acionado e tomado as medidas atinentes. Advertência, suspensão partidária e expulsão seriam possibilidades que deveriam ter sido cogitadas. O partido teria demonstrando a sua retidão e se diferenciado do PT. O que fez? Nada, deixando o tempo transcorrer, como se assim o problema fosse por si mesmo se solucionar. A bomba, no entanto, estava armada e o tempo concorria para a sua explosão. Explodiu, com efeito, no colo do partido, no dia do seu III Congresso, que ficou, desta maneira, ofuscado. Como resgatar a ética na política como bandeira, se o próprio partido mostra o seu pouco comprometimento com ela?
A denúncia do Procurador-Geral da República é uma peça séria, que não pode ser, de maneira nenhuma, menosprezada. Ela segue o mesmo rigor utilizado quando da denúncia apresentada a propósito do mensalão. Concessões políticas não são lá feitas. Os indícios e provas são consistentes, já tendo, inclusive, produzido um resultado imediato, a renúncia do agora ex-ministro Mares Guia.
É risível o PSDB querer agora dizer que ninguém é culpado até ser julgado. A denúncia, repitamos, é muito consistente e não se trata de algo frívolo ou partidário. Ademais, não foi esta a atitude tucana quando do mensalão petista, pois, naquele momento, os tucanos partiram diretamente para a crítica acerba. Assinalaram, com razão, o envolvimento dos parlamentares, ministros, dirigentes partidários e do próprio governo no esquema do mensalão. Agora, repetem a atitude dos petistas, como se os papéis tivessem apenas se invertido. O PT age como se fosse o PSDB e este age como se fosse aquele. Fica difícil escolher!