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Artigos-->Como Endireitar um Esquerdista -- 19/11/2007 - 15:26 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Como Endireitar um Esquerdista



Frei Betto



Ser de esquerda é, desde que essa classificação surgiu na Revolução

Francesa, optar pelos pobres, indignar-se frente a exclusão social,

inconformar-se com toda a forma de injustiça, ou como dizia Bobbio,

considerar aberração a desigualdade social. Ser de direita é tolerar

injustiças, considerar os imperativos do mercado acima dos direitos humanos,

encarar a pobreza como nódoa incurável, julgar que existem pessoas e povos

intrinsecamente superiores a outros.



Ser esquerdista - patologia diagnosticada por Lênin como "doença infantil do

comunismo"- é ficar contra o poder burguês até fazer parte dele. O

esquerdista é um fundamentalista em causa própria. Encarna todos os esquemas

religiosos próprios dos fundamentalistas da fé. Enche a boca de dogmas e

venera um líder. Se o líder espirra, ele aplaude; se chora, ele entristece;

se muda de opinião, ele rapidinho analisa a conjuntura para tentar

demonstrar que na atual correlação de forças...



O esquerdista adora as categorias acadêmicas da esquerda, mas iguala-se ao

general Figueiredo num ponto: não suporta cheiro de povo. Para ele, povo é

aquele substantivo abstrato que só lhe parece concreto na hora de cabalar

votos. Então o esquerdista se acerca dos pobres, não preocupado com a

situação deles, e sim com um único intuito: angariar votos para si e/ou sua

corriola. Passadas as eleições, adeus trouxas e até o próximo pleito!



Como o esquerdista não tem princípios, apenas interesses, nada mais fácil do

que endireita-lo. Dê-lhe um bom emprego. Não pode ser trabalho, isso que

obriga o comum dos mortais a ganhar o pão com sangue, suor e lágrimas. Tem

que ser um desses empregos que pagam bom salário e concedem mais direitos

que exige deveres. Sobretudo se for no emprego público. Pode ser também na

iniciativa privada. O importante é que o esquerdista se sinta aquinhoado com

um significativo aumento de sua renda pessoal.



Isso acontece quando ele é eleito ou nomeado para uma função pública ou

assume cargo de chefia numa empresa particular. Imediatamente abaixa a

guarda. Nem faz autocrítica. Simplesmente o cheiro do dinheiro, combinado

com a função do poder, produz a imbatível alquimia capaz de virar a cabeça

do mais retórico dos revolucionários.



Bom salário, função de chefia, mordomias, eis os ingredientes para inebriar

o esquerdista em seu itinerário rumo à direita envergonhada - a que age como

tal mas não se assume. Logo, o esquerdista muda de amizades e caprichos.

Troca a cachaça pelo vinho importado, a cerveja pelo uísque escocês, o

apartamento pelo condomínio fechado, as rodas de bar pelas recepções e

festas suntuosas.



Se um companheiro dos velhos tempos o procura, ele despista, desconversa,

delega o caso à secretária, e à boca pequena se queixa do "chato". Agora

todos os seus passos são movidos, com precisão cirúrgica, rumo a escalada do

poder. Adora conviver com gente importante, empresários, ricaços,

latifundiários. Delicia-se com seus agrados e presentes. Sua maior desgraça

seria voltar ao que era, desprovido de afagos e salamaleques, cidadão comum

em luta pela sobrevivência.



Adeus ideais, utopias, sonhos! Viva o pragmatismo, a política de resultados,

a cooptação, as maracutaias operadas com esperteza (embora ocorram acidentes

de percurso. Neste caso, o esquerdista conta com o pronto socorro de seus

pares: o silêncio obsequioso, o faz de conta de que nada houve, hoje foi

você, amanhã pode ser eu....).



Lembrei-me dessa caracterização porqu, dias atrás, encontrei num evento um

antigo companheiro de movimentos populares, cúmplice na luta contra a

ditadura. Perguntou se eu ainda mexia com essa "gente da periferia". E

pontificou: "Que burrice a sua largar o governo. Lá você poderia fazer muito

mais por esse povo".



Tive vontade de rir diante daquele companheiro que, outrora, faria um Che

Guevara sentir-se um pequeno-burguês, tamanho o seu aguerrido fervor

revolucionário. Contive-me, para não ser indelicado com aquela figura

ridícula, cabelos engomados, trajes finos, sapatos de calçar anjos. Apenas

respondi "Tornei-me reacionário, fiel aos meus antigos princípios. E prefiro

correr o risco de errar com os pobres do que ter a pretensão de acertar sem

eles."





Correio RioGrandense - 31/10/2007





Obs.: É fácil "endireitar" um esquerdista: dê-lhe poder, que logo ficará rico, como muitos petistas por aí, a começar por Lula, que ficou milionário desde que assumiu a Presidência, por conta, principalmente, das diárias que recebe por suas viagens inúteis pelo Brasil e ao redor do mundo. Só falta Lula visitar o Alaska e vender geladeiras aos esquimós. Afinal, com o aquecimento global... (F. Maier)

















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