http://www.jblog.com.br/gustavoalmeida.php?itemid=4028 c
Para mim, medalha do mérito sempre foi redundância. Havendo medalha, há mérito. Medalha pro guerreiro que voltou, para a família do que tombou valentemente, pro inventor, pro cientista, pro operário que salvou uma família, pro policial, pro médico, pro professor, para o empreendedor. Medalha só é ornamento na visão daquele cachorrinho que falava "Medalha, medalha, medalha".
A vulgarização desta premiação já não é novidade, principalmente por parte do Legislativo. As medalhas Tiradentes, da Alerj, e Pedro Ernesto, da Câmara Municipal, não falta muito e aparecerão nos camelôs da Uruguaiana. Cópias não-piratas.
Dia desses, registrei na coluna 24 Horas, no JB, a frase que ouvi de camelô: "Chaveirinho do Pan? O nosso é legítimo, é sério. Parece que até proibiram pirataria de negócio do Pan". "Proibiram a pirataria do Pan", disse o cara, como se o restante estivesse liberado.
Enfim, em curtas palavras, virou zona. Outro dia recebi um email (é sério) um release anunciando que a senhora vereadora Leila do Flamengo dava a medalha Pedro Ernesto a um roteirista, jornalista e publicitário. Quem assinava o release era o próprio agraciado. O mais interessante é que no tal release vinha anexado ... um curriculum vitae, o cara dando aquela tradicional cavadinha (nada contra, faz parte). Nem só de medalha vive o homem. O cara só foi inábil: deveria pedir a publicação de uma notinha sobre a medalha em um dia e mandar o currículo (com a nota anexada) no outro.
A última papagaiada feita com medalha foi agora, com a Santos Dumont. Já era meio esquisito o pessoal da Agência Nacional de Aviação Civil receber a tal medalha com 360 mortos em menos de um ano em acidentes aéreos. Que recebessem no ano que vem, sei lá, discretamente, que apagassem a luz do país inteiro, enfim, que o cara que entregasse a medalha estivesse pelo menos assoviando A ponte do Rio Kwai. Em dó sustenido.
Agora, resolveram esculhambar e entregar a dita quatro dias depois de um acidente tenebroso.
A ficha não demorou a cair não: na mesma hora eu achei absurdo baseado nisso. No entanto, o coronel aviador Raul Carvalho Gonçalves me dá mais um motivo para eu achar absurdo. A medalha não poderia jamais, legalmente falando, ter ido para o peito do povo da Anac. Segue o relato do coronel aviador:
Criada pelo Decreto nº 39.905, de 5 de setembro de 1956, alterada pelo Decreto nº 66.815, de 30 de junho de 1970, e regulamentada pela Portaria nº 106/SCC, de 20 de fevereiro de 1998.
Personalidades civis e militares, brasileiros ou estrangeiros, podem receber a medalha “Mérito Santos-Dumont”, desde que tenham prestado destacados serviços à Aeronáutica brasileira ou, por suas qualidades ou seu valor, em relação à Aeronáutica, forem julgados merecedores.
A entrega das condecorações aos agraciados será efetuada no dia 20 de julho, aniversário de Alberto Santos-Dumont, Pai da Aviação e Patrono da Aeronáutica Brasileira.
Caso essa data coincida com um sábado ou domingo, a solenidade será realizada na sexta-feira anterior.
Entre outras condições básicas, o agraciado, se Oficial ou Graduado, deve já ter recebido, respectivamente, a “Medalha Militar” ou a “Medalha Bartolomeu de Gusmão” há mais de dois anos.
Os servidores civis devem ter, no mínimo, dez anos de serviço na Aeronáutica ou possuir a “Medalha Bartolomeu de Gusmão” há mais de dois anos.
A apreciação do mérito dos militares e civis em condições de serem agraciados fica por conta do Conselho do Mérito Santos-Dumont.
Esta medalha que foi colocada no meu peito sempre foi motivo de orgulho para mim. Agora o comandante da Aeronáutica a colocou no peito de um grupo de incompetentes e corruptos que só prestou desserviços à Aeronáutica Brasileira e ao Brasil.
O orgulho que eu sentia foi transformado em revolta e decepção, pois acabo de ser equiparado aos desqualificados que a receberam.
Esta mensagem pode ser repassada e distribuída para quem quiserem, inclusive publicada em qualquer meio de comunicação de massa desde que mantido o meu nome como remetente.