Acusa-se, ainda que preliminarmente, o piloto do Airbus da TAM acidentado em Congonhas, de ter errado no posicionamento da manete aceleradora e provocado a tragédia. Mesmo que isso fique comprovado, a busca das reais causas do acidente não deve parar aí. Seria muito simples (até irresponsável) culpar um só indivíduo, principalmente quando ele também é vítima e, morto, não pode se defender. A aeronave era conduzida por dois pilotos masters; será que ambos erraram ou ocorreu algum travamento ou outro defeito mecânico?
Os apuradores têm obrigação de pesquisar todas as variáveis como, por exemplo, se o treinamento que a companhia aérea e o fabricante do avião oferecem a seus operadores previne quanto à posição da manete. Se a manutenção recebida dos aviões da empresa é adequada. Se os órgãos fiscalizadores têm sido eficientes para garantir que, ao adquirir seu bilhete, o passageiro encontre uma tripulação bem treinada, aeronave íntegra, aeroportos em boas condições e controle de vôo seguro.
Concluir apenas pelo erro do piloto - como nas velhas novelas onde o mordomo era sempre o culpado - não tranqüiliza as famílias das vítimas e nem livra a população e os usuários do transporte aéreo de novos acidentes da mesma natureza. Para a sociedade, o residual positivo estará na lição a ser tirada da tragédia, pois não há como devolver a vida às vítimas.
O ministro Nelson Jobim e a equipe que deve estar formando têm de desfazer eficientemente as interrogações e propiciar as necessárias correções. Verificar até onde a falta das ranhuras na pista, de área de escape ou a má operação podem ter contribuído com o acidente, e punir os responsáveis. E não esquecer que o piloto, se errou, primeiro porque é humano e, segundo, verificar se recebeu instruções compatíveis com as situações de risco que poderia encontrar em vôo. Saber também se, quando ocorreram no exterior dois acidentes análogos com Airbus, a TAM questionou o fabricante sobre possíveis salvaguardas, se informou as autoridades sobre o assunto e as providência adotadas. E, ainda, se a empresa relata habitualmente aos órgãos de controle os problemas com seus aviões, particularmente se o fez sobre o reverso do Aibus acidentado.
Cabe ao Governo, como titular das concessões e dos órgãos fiscalizadores, fazer uma vasta inspeção nas companhias aéreas - principalmente na TAM, de várias outras ocorrências - e checar a infra-estrutura aeroportuária e de vôo. Se ficar confirmado o erro do piloto decorrente da falta de informações do fabricante sobre o comportamento do avião, lembrar que o presidente da República também viaja num Airbus. Seus pilotos teriam sido treinados em relação à posição da manete?
O progresso à custa de vidas humanas é imoral. As vidas de 200 passageiros e atingidos pelo Airbus são irreversíveis. Além de garantir toda a assistência às famílias, as autoridades têm o dever de investigar todas as causas e variáveis para evitar que os mesmos problemas se repitam, custando novas vidas e mais sofrimento. Quanto ao que já passou, a Nação espera a justa punição, cível e criminal, dos agentes de governo e da empresa que tenham motivado a tragédia... Chega de impunidade!
Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e presidente da APOMI (Associação dos Policiais Militares do Estado de São Paulo).