Metade das empreiteiras que aparecem na lista das 20 entidades melhor contempladas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estão entre as maiores doadoras das eleições gerais do ano passado. Juntas, as 20 maiores empreiteiras do PAC receberam um total de R$ 726 milhões neste ano — o equivamente a 56% do total pago pelo programa: R$ 1,3 bilhão. Entre as maiores doadoras estão as construtoras Camargo Corrêa, OAS e Andrade Gutierrez. Só a campanha para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou R$ 6,7 milhões dessas três empresas. Mas elas também fizeram doações camufladas por intermédio do partido do presidente. Mais R$ 8,2 milhões.
O consórcio Camargo Corrêa/Andrade Gutierrez/Siemens executa a implantação do trecho Lapa-Pirajá, para a Companhia de Transportes de Salvador, que recebeu R$ 77,4 milhões do PAC. Outro consórcio formado pela Andrade Gutierrez, dessa vez com a Queiroz Galvão, está construindo o corredor expresso de transporte coletivo entre o Parque Dom Pedro II e Tiradentes. Essa obra é tocada pela Prefeitura de São Paulo, que recebeu R$ 32,4 milhões do programa do governo federal. O levantamento dos pagamentos feitos com recursos do PAC foi feito pelo site Contas Abertas, a partir da base de dados do Siafi (sistema que registra os gastos do governo federal).
A construção de um trecho na BR-364 no Acre, entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, é responsabilidade da empreiteira Construmil. A obra é tocada por intermédio de convênio com o governo do Acre, que recebeu R$ 38,5 milhões do PAC. Na campanha para o governo do estado, no ano passado, o candidato do PT, Binho Marques, recebeu doação de R$ 100 mil da Construmil. A Delta Construções fez doações no valor total de R$ 1,7 milhão nas eleições de 2004, sendo R$ 415 mil para a campanha de Marta Suplicy para a prefeitura paulistana. No ano passado, recebeu a maior parte das obras da Operação Tapa-Buracos, sem licitação. Neste ano, já recebeu R$ 36,6 milhões pela execução de obras incluídas no PAC.
Contribuições
A reeleição de Lula custou R$ 104 milhões, mas a arrecadação feita durante a campanha ficou em R$ 78 milhões. Um rombo de R$ 26 milhões. Contribuições feitas após definida a eleição — uma prática permitida pela legislação eleitoral — diminuíram a dívida para R$ 9,8 milhões. Entre os doadores de última hora estava a Camargo Corrêa, que contribuiu com R$ 2 milhões após o dia 29 de novembro, data do segundo turno. Até aquele momento era, aparentemente, a empreiteira que havia feito a maior doação.
As prestações de contas do partidos, ocorridas em maio deste ano, trouxeram mais surpresas. Usando uma brecha na legislação eleitoral, algumas empresas concentraram doações nos partidos, em vez de fazer doações diretamente aos candidatos ou aos comitês financeiros. Quem mais utilizou essa estratégia foi o PT, que recebeu R$ 42,2 milhões de doações de empresas. Desse total, R$ 35,3 milhões foram repassados para seu candidatos. O PSDB recebeu R$ 14,6 milhões, e o PFL arrecadou com R$ 8,5 milhões.
Entre as empresas que fizeram as maiores doações para o PT estavam a Andrade Gutierrez, com R$ 6,2 milhões, e a Camargo Corrêa, com R$ 2 milhões. O PSDB recebeu R$ 3,8 milhões da Camargo Corrêa e R$ 3,1 milhões da Andrade Gutierrez. Nas doações para o PFL, a ordem ficou invertida: R$ 2,8 milhões da Gutierrez e R$ 1,5 milhões da Camargo Corrêa.
Obs.: Como se comprova, PAC significa "Plano de Ajuda aos Companheiros" (F. Maier).