Apontado como executor de capitão dos EUA, Diógenes ainda teme ser morto pela CIA.
Ex-guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o petista Diógenes de Oliveira carrega nas costas uma série de acusações por participação na luta armada contra o regime militar. Indiciado como autor dos tiros que mataram o capitão norte-americano Charles Rodney Chandler, em 12 de outubro de 1968, ele é suspeito também de haver liderado os atentados contra o Estado e contra quartéis do Exército e da Polícia Militar, além de assaltos a bancos.
"Esse passado o aterroriza até hoje, pois ele tem a certeza de que os americanos vão matá-lo", revela um ex-amigo, o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke. Outros amigos dizem que Diógenes era um dos poucos guerrilheiros que sabiam do esconderijo do capitão Carlos Lamarca, da VPR, e que mesmo sob intensa tortura não revelou nada. Segundo o advogado Ricardo Cunha Martins, o interrogatório "inquisitorial" sofrido na Assembléia fez ressurgir o fantasma da tortura. "Houve uma anistia no País, o que significa esquecer o passado", argumenta o advogado, para justificar a opção de seu cliente em não comentar os episódios de sua participação como guerrilheiro. Preso em 1969, Diógenes foi solto um ano depois, em troca do cônsul japonês Nobuo Okuchi, que havia sido seqüestrado.
"Como um dos principais militantes da VPR, Diógenes participou de quase todos os atos terroristas praticados nessa época", afirma o coronel Erasmo Dias, então comandante do Forte Itaipu, no litoral paulista, e atualmente vereador pelo PPB em São Paulo.
O coronel diz ter certeza de que Diógenes integrou o grupo responsável pelo assassinato do capitão Chandler, mas não sabe qual foi a participação dele em outros episódios, porque era muito difícil saber o que cada um fazia no terror.
Militares e civis responsáveis do grupo Terrorismo Nunca Mais, responsável pelo site www.ternuma.com.br, garantem disporem de dados que incriminam Diógenes e outros participantes da luta armada. "Tudo que apresentamos consta de arquivos", informa o coronel-aviador Juarez Gomes da Silva, referindo-se ao dossiê em que o site traça detalhado perfil do ex-militante da VPR.
Segundo esse documento, Diógenes entrou no movimento em março de 1968, com Onofre Pinto e Pedro Lobo de Oliveira. Os três eram remanescentres do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), criado no Uruguai por Leonel Brizola. O site enumera uma série de atentados dos quais Diógenes teria participado.
Os principais:
- Explosão de bomba-relógio no consulado dos EUA na Avenida Paulista, em março de 1968.
- Atentado a bomba contra o Estado, na Rua Major Quedinho, em abril de 1968.
- Assalto ao Hospital Central do Exército, em São Paulo, em junho de 1968.
- Atentado com carro-bomba contra o QG do então II Exército e assassinato do sentinela, o soldado Mário Kosel Filho, em junho de 1968.
- Assalto ao quartel da Polícia Militar, no Barro Branco, em setembro de 1968.
- Assassinato do capitão Chadler em outubro de 1968.
- Assalto ao 4.º RI em Quitaúna, onde servia Lamarca, para roubar armas e munições, em janeiro de 1969.
- Vários assaltos a bancos.
Especialista em explosivos, Diógenes teria preparado a maioria desses atos.
No caso de Chandler, ele teria participado do grupo de execução e descarregado seis tiros de revólver contra o oficial.
"Esse relato é surrealista", reagiu o professor Ladislau Dowbor, citado pelo site como membro do "tribunal revolucionário" que condenou Chandler à morte.
Dowbor nega que tenha participado de um tribunal revolucionário.
Ao ser trocado pelo cônsul japonês, Diógenes foi banido para o México, de onde seguiu para Cuba e depois para o Chile. Com a queda de Salvador Allende, voltou ao México e dali foi para a Europa. De Lisboa, foi em 1974 para Angola e Guiné-Bissau, onde chegou a ser secretário-geral do Ministério do Planejamento.
Vítima de malária, retornou ao Brasil no início dos anos 80 e, no final da década, ingressou no PT. Embora nunca tenha ocupado cargos na estrutura partidária, Diógenes tem sua figura associada ao poder. Até 1989, era um assessor desconhecido do gabinete do então prefeito de Porto Alegre, Olívio Dutra (PT). Foi interventor de uma empresa de ônibus, ganhou destaque por sua oratória e persuasão e acabou sendo nomeado secretário municipal dos Transportes.
Com a saída da prefeitura, em 1993, Diógenes passou a assessorar a Marcopolo, maior fabricante de carrocerias de ônibus do País, e abriu uma agência de viagens. Foi através dessa agência que ele levou coronéis da Brigada Militar a Cuba, em 1997, e organizou roteiros turísticos a acampamentos dos sem-terra.