Sabemos que São Miguel do Cajuru (o sub-burgo que me viu nascer!) é um dos cinco distritos de São João del-Rei/MG e que a sede do arraial fica no leito de uma das variantes da Estrada Real, distante cerca de 36 km desta cidade. A origem do local remonta-se à segunda década do séc. XVIII, quando em 1719, na antiga Fazenda do Engenho de São Miguel, afazendou e aquartelou-se o rixento padre Manoel Cabral Camello à espera de ações da Justiça Eclesiástica e/ou Civil, devido as suas graves censuras direcionadas ao então Ouvidor da Comarca do Rio das Mortes. O topônimo São Miguel do Cajuru está ligado à devoção migueliana dos proprietários de uma antiga fazenda (infelizmente já demolida) e ao vocabulário Tupi, onde Caá (mata) e yuru (boca) são indicatórios de que aquele local seria a boca ou entrada da mata, isto é, a altura em que, vindo das matas do sul, o Caminho Velho atingia os campos limpos, deixando para trás, fechada, a boca-do-mato, ou seja, o Cajuru.
Um povoado, também como nome de Cajuru, deu origem a Carmo do Cajuru, município localizado no centro-oeste de Minas Gerais, a 113 quilômetros de Belo Horizonte e que é limitrofe com Igaratinga, S. Gonçalo do Pará, Divinópolis, Cláudio, Itaguara, Itatiauçu e Itaúna. Historiadores relatam que o Cap. Manoel Gomes Pinheiro foi o fundador do povoado do Cajuru, origem do Município. Cajuru, como escrito acima, é palavra indígena que significa entrada da mata. No caso específico de Carmo do Cajuru o nome certamente se deu "em virtude de começarem lá as matas que margeiam o rio Pará e o rio Itapecerica".
Quanto ao fato de ter se chamado originariamente "Cajuru", corre em Carmo do Cajuru uma tradição oral muito antiga: “dizem que dois rapazes de São Miguel do Cajuru , perto de São João del-Rei, vieram para cá em época remota e tomaram posse de uma fazenda atrás do Morro da Cruz, para lá da Água Espalhada e para baixo da Mangonga. A fazenda deles passou a se chamar "Cajuru", por causa desses "Cajurus". Os dois rapazes eram gente fina, e passaram a exercer grande influência nos moradores do lugar. Quando eles apontavam, o povo dizia: — Lá vêm os Cajuru! Com o tempo, o povoado acabou se chamando Cajuru. Este caso, conforme registro, “era contado por Chico Jota (Francisco Batista Jota), nascido em 1884 e filho de João Batista dos Santos Jota, que foi morador, comerciante e político influente em (Carmo do) Cajuru, em 1882. O filho de Chico Jota, Lyrio do Valle, em 1971, gravou estas palavras do pai sobre os primórdios de Carmo do Cajuru”.
Muitos no local afirmam que José Dias Barbosa, ex-agente do IBGE de Carmo do Cajuru, também sabe do caso: "é do conhecimento dos nossos mais dedicados ao assunto que a palavra ‘Cajuru’ se originou da vinda de dois senhores de São Miguel do Cajuru, município de São João del-Rei, que se radicaram no lugar denominado, atualmente Cajuru Velho, deste Município. Posteriormente, um deles, o mais novo, transferiu-se para esta localidade, então chamada "Arraial dos Teixeiras", cujo nome se aprende no Grupo Escolar local, embora não haja documentos que o comprovem. Por serem ambos vulgarmente denominados de "os Cajurus", o primeiro lugar onde se acomodaram tomou a denominação de Cajuru, mais tarde mudada para Cajuru Velho".
Os dois irmãos "Cajurus", segundo informações, devem ter sido descendentes de Domingos de Araújo Barbosa. Seriam Fortunato Ferreira de Araújo, o mais novo, casado com Maria Teixeira de Carvalho, em1843; o outro seria Ezequiel Ferreira de Araújo. Fortunato era alfaiate e exerceu o cargo de Escrivão Interino do Cartório de (Carmo do) Cajuru, em 1857.
Como se vê, entre o distrito são-joanense de São Miguel do Cajuru e o Município de Carmo do Cajuru, existe uma relação toponímica que pode não ser apenas mera coincidência. Há também a possibilidade da antiga existência de ligaçôes pessoais entre as duas localidades. Este é um assunto que deve merecer a nossa atenção e sobre o qual doravante este escriba promete debruçar-se...
Havendo novidades, voltarei ao tema!
Fonte:
DIOMAR, Oswaldo. História de Carmo do Cajuru (1747 a 2000). 2ª Ed., ano 2000.