Usina de Letras
Usina de Letras
66 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63775 )
Cartas ( 21381)
Contos (13320)
Cordel (10372)
Crônicas (22598)
Discursos (3256)
Ensaios - (10855)
Erótico (13606)
Frases (52281)
Humor (20238)
Infantil (5697)
Infanto Juvenil (5061)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1389)
Poesias (141192)
Redação (3388)
Roteiro de Filme ou Novela (1066)
Teses / Monologos (2446)
Textos Jurídicos (1983)
Textos Religiosos/Sermões (6434)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->A moral em declínio? -- 04/07/2007 - 15:52 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A moral em declínio?



Jarbas Passarinho (*)



Jornal do Brasil, 3 de julho de 2007



Quando major, ainda jovem, tive em mão um ensaio psicológico que dizia ser inevitável o choque de gerações, que a ética e a moral que havíamos aprendido na família e na escola fatalmente já não seriam estruturadas segundo os mesmos valores axiológicos de nosso aprendizado. Menosprezei o argumento do psicólogo que profetizava o declínio progressivo da ética e da moral e as definia: a ética dividida em dois ramos fundamentais: o teleológico, que julga as ações por suas conseqüências, e o deontológico, que julga as ações conforme regras formais, em função da distinção entre o bem o mal.



A moral não é mais que um código de conduta admitida em certa época e numa sociedade determinada, variável, pois, com a aceitação da conduta das pessoas numa sociedade em permanente mutação. Fui tomado de uma reação simplória, ao comparar os valores em que fora educado e aqueles que regiam a sociedade de meu tempo, não fortemente colidentes. Considerei, então, o autor do ensaio um teórico pessimista.



O tempo se encarregou de revisar o que julguei mera hipótese de futurologia. Não porque fosse nova a fraude de provas escolares, a conhecida cola. Há muito era praticada por uma minoria que se jactava de ser esperta e prescindia do estudo acurado das disciplinas de seu curso. Nem novel essa espécie imoral de esperteza na sonegação de impostos, por parte de não poucos integrantes do patronato. Mas havia fatos novos.



Leitor de Harold Laski, impressionou-me, na sua Crise da democracia, a crítica aos políticos que gastavam, na campanha eleitoral muito mais do que receberiam de vencimentos, em todo o mandato, se eleitos. Transmiti, em conversa com um político honesto, essa crítica de Laski. Ele discordou. Disse-me que a comparação não tinha cabimento, porque havia grande diferença, ética e moral, entre o político que vivia para a política e o que vivia da política. O primeiro - e era o caso dele - era um idealista que desejava eleger-se para ajudar seu povo, lutando por obter maior participação do Orçamento da União, nas Casas do Congresso ou no exercício de governador honesto, em projetos para os quais os recursos estaduais eram escassos. Muito depois, li essa diferença ética em Max Weber.



Infelizmente, porém, as gerações que se seguiram à minha dão razão ao psicólogo que eu lera e julgara ser um delirante. Entre a minha geração e a dos meus filhos, os valores não eram discrepantes em grau levado. Mas entre a minha geração que vai se acabando e a que domina hoje o país, o choque, mais que indiscutível, chega a níveis escabrosos. E, o que é desalentador: atinge os famosos três poderes que Montesquieu elegeu para a divisão dos poderes e não da independência de qualquer deles em relação aos outros dois.



Furta-se ou rouba-se com tal desenvoltura que, comparando com o passado, firma-se a idéia de que a moral está em declínio. As proezas da Polícia Federal - nem todas realizadas com o cuidado de não exceder-se tomando indício por prova - esgotaram o conhecimento mitológico das denominações dadas às Operações, expondo a corrupção generalizada. Ora são políticos legisladores que enriquecem sem jamais terem tido outra atividade que não a política. Vivem da política, como define Weber, freqüentemente. Ora são militantes de um partido que ascende ao poder iludindo-nos como porta-bandeira da ética e mostram sua verdadeira vocação de corruptos na descarada apropriação dos dinheiros públicos.



A própria Polícia Federal, que se nos mostra como o bisturi que corta a porção putrefata da sociedade, deixa de aprofundar seu trabalho saneador porque - segundo um ex-ministro da Justiça - "podia respingar no presidente da República". Ou porque um dossiê forjado, se apurada a origem, comprometeria figurões do partido no poder, na disputa eleitoral recente. O corporativismo toma ares de regra que não faz inveja à máfia italiana.



Juízes há que vendem liminares, pagas por traficantes de drogas. Claro que não se trata da conduta generalizada, mas vem à mente a velha comparação com Pompéia, rejeitada por César, porque, sendo honesta, não parecia ser. Certos magistrados vão mais longe: não são sérios mesmo, mas a grande maioria o é. Um irmão do presidente da República cai na rede investigativa da Polícia Federal. Comportando-se como magistrado, o presidente lastima, mas é isento: "Doa a quem doer, a investigação deve continuar". Os ares da Índia, porém, não são os mesmos destas latitudes e o pobre aprendiz de lobista, indiciado pela Polícia Federal, não o é pelo Ministério Público.



Candidatos ao Legislativo que têm o mais profuso currículo de corrupção, o povo os reelege e, às vezes, com a mais consagradora votação. O Brasil mostra a sua cara, como disse alguém de cara suja, e a conclusão é de que, entre a ética que julga entre o Bem e o Mal, e a moral, que muda com os costumes, a preferência é por esta, especialmente quando declinante. Por que, então, remar contra a maré, como se diz no Pará? Prefiro esta comparação àquela da festejada ministra Marta Suplicy...





(*) Jarbas Passarinho foi ministro, senador, governador e é escritor.











Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui