Há uns dois meses atrás fui contatado pela secretária do jornalista Paulo Henrique Amorim, que me solicitava uma entrevista em seu programa “Domingo Espetacular”.
Em princípio, disse-lhe que proporia algumas condições para conceder a entrevista, pois imaginei que seria sobre o meu livro.
Assim, como primeira condição, combinei que remeteria o livro para que ele o lesse e julgasse se seria conveniente me entrevistar. Após a remessa, fui informado, também pela sua secretária, que o jornalista continuava julgando oportuna a entrevista.
Então, solicitei que me enviasse, por escrito, as perguntas que faria no seu programa, para que eu tivesse tempo para me preparar, já que, 35 anos depois, muitos fatos e nomes não são mais lembrados.
A outra condição que propus, foi a de ser o único entrevistado.
Em resposta recebi a informação que a entrevista não seria sobre o livro e sim sobre o processo a que estou sendo submetido e que, durante o programa, a família Teles, que está me processando, também seria entrevistada.
Informei-lhe, então, que não tinha interesse em fazer uma entrevista nesses moldes. Portanto, não me neguei a dar entrevista como o jornalista afirmou no programa.
No “Domingo Espetacular”, 03/06/2007, pessoas da família Teles foram entrevistadas a respeito do processo e das pretensas torturas que teriam sofrido durante o período da prisão no DOI/CODI/II Exército.
Infelizmente, quando fui avisado da entrevista, já estava encerrando o relato sobre a prisão dos Teles em São Paulo. Nesse momento, o senhor Paulo Henrique Amorim sacudia uma bandeja de talheres, que não entendi bem o porquê.
A seguir, em tom dramático, ele mostrava as celas onde as crianças teriam estado presas, e uma cela solitária onde elas teriam visto os pais serem torturados.
Continuando a dizer os maiores absurdos, a senhora Criméia passou a contar como teria sido o tempo em que permaneceu presa em Brasília.
Disse que esteve presa no prédio do Ministério do Exército, na Esplanada dos Ministérios, onde as baratas subiam pelo seu corpo e ela as retirava a tapas e que, deitada de bruços sobre uma barriga de quase nove meses, escondia o rosto de lâmpadas fortíssimas que ofuscavam seus olhos. Além disso, contou que tomou banho de sol apenas duas vezes, em pleno fevereiro, ao meio dia, descalça, e que o calor do chão queimava os seus pés.
O parto, segundo ela, foi uma tragédia.
Primeiro, levada ao Hospital de Base de Brasília, disseram que ainda não havia chegado a hora e a mandaram de volta à cela infectada de baratas, onde a bolsa se rompeu e as baratas, enlouquecidas pelo líquido, a atacaram sem dó nem piedade. Os outros presos é que a socorreram, começando a gritar para buscar atendimento.
Finalmente, a levaram, segundo ela, ao Hospital da Guarnição do Exército, onde depois de imaginar que seu martírio havia terminado, uma médica disse-lhe que só poderia fazer o parto no dia seguinte, pois seu plantão estava no final.
O médico militar que fez o parto a teria tratado com brutalidade. Os pontos que lhe colocaram na vagina teriam sido aplicados sem anestesia e o material usado não era adequado, pois a absorção deles pelo organismo durou vários meses e, durante esse período, sentia na vagina uma dor constante, como se lá estivesse colocado arame farpado.
Segundo ela, apesar de todos essas torturas e 24 horas de trabalho de parto, a criança nasceu saudável, mas como os torturadores não a deixavam amamentar , a criança perdeu peso , chegando a pesar, 52 dias depois de nascida, pouco mais de 2 quilos. O menino parecia, segundo ela, com aquelas crianças africanas, magras e desnutridas, que o mundo horrorizado vê na TV.
Quanto ao senhor Paulo Henrique Amorim, que se propôs a vir a Brasília fazer a entrevista comigo, bem poderia, se tivesse interesse em apresentar versões que levassem o tele espectador a tirar suas próprias conclusões, ter mandado alguém a Brasília para verificar em que situação a gestante chegou nessa cidade, como foi tratada, como nasceu a criança. Deveria, também, ter procurado entrevistar o irmão de César Augusto Teles, que acolheu as crianças em sua casa em Belo Horizonte.
Estou tentando conseguir uma gravação do programa para poder rebater as mentiras que foram ditas e, para que o meu advogado possa estudar se cabe um pedido de resposta.
Criméia foi presa, em 28/12/1972, no 7º mês de gravidez, pelo DOI/CODI/IIEx, onde permaneceu por 24 dias, até ser encaminhada para Brasília, que era a área encarregada de combater a Guerrilha do Araguaia.
Seu filho, João Carlos Schimidt de Almeida Grabois, atualmente com 34 anos, nasceu no Hospital do Exército de Brasília, em 13/02/1973. Em 2005 foi indenizado porque estava no útero de sua mãe quando ela foi presa, segundo consta na sentença.
Julguem os leitores pela fotografia tirada no Hospital Militar de Brasília, após o parto, onde Criméia aparece com o filho recém nascido.
Reparem as suas roupas, o seu olhar de felicidade junto com o filho.
Pela fotografia seu filho parece estar esquálido e desnutrido, como ela afirma no programa da Record?
Será que essa moça, pela sua aparência, parece ter sido torturada há pouco tempo?
Reparem nas roupas de seu filho, bem vestido. Pois o enxoval dessa criança foi comprado pelo Exército, por ordem do General Antonio Bandeira, comandante da Brigada de Infantaria, em Brasília, onde Criméia estava presa.
Aliás, esse enxoval foi entregue a Criméia por D. Léa, esposa do General Bandeira, quando foi visitá-la no Hospital.
Criméia se refere a essa visita como sendo da esposa do General Kruel e que, segundo ela, se “tornou mais tarde a prova do episódio tenebroso”.
Pelos móveis pode-se ver que Criméia está num hospital e não em uma cela.
Analisem a fotografia do batizado do filho de Criméia, feito pelo Capelão Militar. Vejam o semblante dos padrinhos, familiares de Criméia.
Será que o Exército que a “torturou” teria a preocupação de organizar o batizado?
Fotos da Revista ISTOÉ - 04/09/1985
Para que esse e-mail não se torne longo e cansativo, aqueles que tiverem a curiosidade de saber a verdadeira versão desse episódio, acessem o site
www.averdadesufocada.com
Obs.: As fotos citadas acima podem ser vistas no endereço http://www.averdadesufocada.com/index.php?option=com_content&task=view&id=440&Itemid=28 (F.M.).