Para uma redemocratização mental nas universidades
“Não existem verdades absolutas, assim como não há mentiras eternas”.
Friedrich Wilhelm Nietzsche
Sempre me pergunto: o que vem a ser a universidade no Brasil, particularmente na América Latina? Problemas numéricos desestabilizam o mundo acadêmico. Mas gostaria de registrar minha aversão para com esta palavra. Sinto uma decepção com as doutrinas científicas pouco interessadas no desenvolvimento comunitário. Sinto um desprezo particular pela “cartelização” do ensino nas estruturas “paredais” sob muros intransponíveis da arquitetura mental. A dor no âmago de quem sente a exclusão latente e duradoura da falta de oportunidades, pouco interessa aos colonialistas da educação superior. Às vezes, seu vínculo nos núcleos de pesquisa (mesmo assim, subdivididos em parcos e meritórios interesses) restrito a instabilidades políticas, mas contendo em seu bojo a ditadura do pensamento revelando o que há de melhor no Iluminismo europeu. Penso, inclusive, na produção científica. Na maioria das vezes, o que há de tão especial nela? Outra provocação banal: exilar-se institucionalmente significa resguardar inúteis erários do serviço público? Desculpe-me, não me refiro as universidades privadas (surgidas a todo instante, na era dos modismos capitais), pois estas não gozam do respaldo governamental exercido pela verba pública. Aliás, se o povo tivesse melhor dicernimento sobre o uso do dinheiro pago com seus altos impostos, pediria uma auditoria nacional sobre o real uso deste – que poderia estar sendo utilizando em outra coisa, certo? – nos cofres da União. É claro que pesquisa sempre foi sucateada no país, porém, acuso o uso egocêntrico dos recursos, a falta de sensibilidade com problemáticas populares, não priorizadas pela maioria dos projetos universitários. Colóquios, simpósios, seminários, mini-cursos, servem de vitrine para a fogueira-vaidade dos títulos “honoris-causa”, os doutores exclusivos, as matriarcas e patriarcas do conhecimento.
Existe uma ditadura do pensamento científico. Os muros da instituição são cidades-Estado independentes dos anseios populares. Em grande parte, instituem o que está assegurado desde o processo da redemocratização, com a Constituição escrita por “moderados” progressistas, inclusive por figurões favoráveis ao Regime Militar e presentes na sua elaboração em 1988.
Entre a prática do discurso e a execução prática da teoria, seguramente, esta não é consumada nas universidades – pelo menos como deveria realmente ser. Estudar as dificuldades humanas isolando-se de atitudes reais não muda a situação. Universidades precisam aliar uma idéia contundente ao exercício eficiente. Ou seja, uma redemocratização mental de sua função na sociedade.