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 | Artigos-->Sopbre o uso de Hormônios em Travestis e Homens em Geral -- 23/05/2000 - 19:17 (Maite Schneider) |  |  |  |  |  |
 | Hormônios é sempre um assunto que interessa, pelo tanto que falam, pelas 
 coisas que dizem...
 
 
 
 Vou começar pela minha própria história. Comecei a tomar hormônios aos 16
 
 anos (meados de 16 anos), sempre é assim com a maioria que faz uso de
 
 hormônios para alterar sua constituição física, mudando caracteres que não
 
 agradam em sua forma "natural"...
 
 
 
 Iniciei com a ingestão de hormônios seguindo os conselhos médicos de uma
 
 amiga formada em matemática, isso mesmo... "Matemática"... não foi erro de
 
 digitação, se foi o que pensou. Aos poucos aquela dosagem não me
 
 satisfazia.... Eu notava as mudanças em meu corpo e achava que se aumentasse
 
 a dose no uso de hormônios, como também sua freqüência, iria me aperfeiçoar
 
 cada vez mais e atingir rapidamente o meu objetivo. Ou seja, adquirir o
 
 maior número possível de caracteres secundários do sexo que eu tentava
 
 parecer, perdendo ao máximo também os caracteres que eu tanto odiava em meu
 
 corpo quando me tocava ou quando saia do banho e me observava no espelho.
 
 
 
 Foi então que comecei a tomar um verdaderio "coquetel" de hormônios em
 
 farmácias da vida. Conhecia todas as marcas, sabia que efeitos teriam em meu
 
 corpo, o que mudariam no meu comportamento e no meu dia-a-dia. Foi mágico
 
 perceber que o meu corpo estava ficando condizente com minha cabeça e com o
 
 meu modo de pensar.
 
 Foi mágico perceber que as formas começaram a se arredondar. Perceber que a
 
 textura de minha pele começava a ficar mais aveludada. Perceber que meus
 
 cabelos e unhas cresciam com mais vigor e com outro brilho. Perceber que eu
 
 estava começando a ser realmente "EU". Sei que pode parecer difícil - para
 
 alguém que não vive isso - entender o que eu digo, mas é como se pela
 
 primeira vez você estivesse se vendo, se tocando, se sentindo. Eu olhava, e
 
 olho até hoje, minhas fotos de antes da hormonização e não consigo me ver
 
 nelas... mesmo sabendo que sou eu que ali estou.
 
 
 
 Mas o mais incrível de tudo isto foi a exteriorização deste meu "eu". Os
 
 "outros" começaram a notar a mudança, notar que não era uma coisa somente da
 
 minha cabeça. Até então, eu não tinha certeza se tudo que eu via e sentia
 
 era fruto de minha imaginação ou fantasia.... Se era um sonho que eu criei
 
 de tanto querer aquela transformação... Passei a ter uma nova noção de mim
 
 mesma... Quando saía na rua, e dava meu nome masculino, as pessoas falavam:
 
 "Não, não... você deve ter um outro nome". Elas não viam mais o Alexandre
 
 ali. Lógico que quem me conhecia antes continuava a me tratar da mesma
 
 maneira, mas isso já não importava tanto neste momento.... O que realmente
 
 importava era que quem me conhecia à partir dali me via como eu sou de
 
 verdade.... sem mentiras... sem meia verdades..... sendo eu mesma... sendo
 
 Maitê. Que é quem eu sou... Mas isto é uma outra história... sou assim
 
 matraquinha mesmo... liga não....
 
 
 
 Bem, como dizem por aí que tudo tem dois lados.... o bom e o ruim, o preto e
 
 o branco, o yang e o yin... estas coisas todas... parece que com os
 
 hormônios não poderia ser diferente... Dentro desta magia toda em que te
 
 coloquei, a história de minha vida, tem também coisas ruins. Devido ao uso
 
 freqüente e não medicamentoso de hormônios comecei a ter tonturas,
 
 enxaquecas diárias, vômitos, cólicas, sonolências. Passei a engordar muuuito
 
 e também perdi a vontade de fazer várias coisas, inclusive tive afetada a
 
 libido - perdi o "TESÃO" por certas coisas....
 
 
 
 Tudo seguia seu curso normal até o dia em que perdi uma amiga, minha
 
 muuuiito próxima, por problemas de trombose. Ela usava hormônios da mesma
 
 maneira que eu, sem controle nenhum. Isso era um vício, não conseguimos
 
 ficar somente num único comprimidinho diário... Na ânsia de mudarmos o que
 
 tanto nos insatisfaz, nosso corpo, queremos mais... Quer queira ou não, é o
 
 nosso corpo que nos mostra para o mundo lá fora... O corpo é nosso cartão de
 
 visita... Não olham muito nossas atitudes e pensamentos num primeiro
 
 momento... Você precisa parecer o que é para depois poder mostrar quem você
 
 é... É assim, pelo menos por enquanto... Pode até ser que um dia isso
 
 mude... Eu espero que sim.... Aí não ficaremos tão presas nesta maldita
 
 convencionalidade dos papéis...
 
 
 
 Como estava relatando, senti imensamente a morte desta querida amiga. Minha
 
 vida sempre foi marcada por acontecimentos relativamente fortes, que me
 
 fizeram parar, refletir e analisar certas posturas em relação aos meus
 
 hábitos... Fiquei quase um ano sem tomar nada de hormônios, criei aversão a
 
 eles... Comecei a ver meu corpo perdendo suas formas, ganhando de presente
 
 coisas que eu não queria e não gostava... Neste momento senti um desespero
 
 muiiiito grande... grande mesmo... do tipo "Tudo ou Nada"... "Agora ou
 
 Nunca"... radical assim... Até que mais uma vez, um anjo chamado "Meu pai",
 
 apareceu em minha vida... Ele me mostrou coisas que eu não via... que nem
 
 ele entendia... mas mesmo assim ele conseguiu me explicar... Com esse anjo
 
 me falando ao ouvido, tomei a mais correta atitude - sendo também o que dou
 
 de conselho a todo mundo que me pergunta sobre hormônios, suas causas e
 
 efeitos -, procurei um endocrinologista.... Isso mesmo... um médico
 
 especializado no estudo de hormônios... Meu pai fez um plano de saúde, coisa
 
 que não tínhamos na época, somente para que eu pudesse ter uma boa
 
 assistência, haja visto que não somos abastados e não temos condições de
 
 financiarmos médicos bons e infelizmente caros... como os que vemos nos dias
 
 de hoje...
 
 
 
 Com o endocrinologista, comecei, de forma corresta, todo o processo... Ele
 
 fez exames de progesterona, estrogênio... enfim... todos os exames possíveis
 
 e cabíveis no caso... Fez a taxação de cada um deles... Perguntou como eu me
 
 sentia, o que eu sentia... Tornou-se meu amigo... Eu confiei nele.... E à
 
 partir daí voltei a tomar hormônios com indicação médica...
 
 
 
 As dosagens logicamente diminuíram, pois eu estava tomando hormônios de
 
 maneira cavalar e também muito diversificada. Não tinha rotina nenhuma na
 
 ingestão destes produtos. Aos poucos, fui recuperando o meu equilíbrio... o
 
 meu centro da coisas... voltando a fazer as pazes comigo mesma e com os
 
 hormônios do meu corpo...
 
 
 
 Não vou aqui ficar citando nomes de hormônios que tomei ou tomo, como também
 
 não vou ficar indicando o que é bom ou ruim... O que eu tinha para dizer e
 
 falar eu já disse e falei... Espero que você me entenda, não estou querendo
 
 ir contra nada que você acredita ou espera... mas não crie espectativas por
 
 coisas que você não sabe ou por coisas que você ouviu dizer por aí... Eu não
 
 tenho porque estar aqui fazendo tua cabecinha de nada....
 
 
 
 Tudo o que é estranho ao nosso corpo... tudo que seja químico ... não deve
 
 ser encarado como "normal"... Hormônios são como uma espécie de droga
 
 (farmacológica)... que podem ser bem vindos quando usados com cautela e,
 
 principalmente, com a ajuda de uma pessoa que entenda deles... ou podem ser
 
 um vício que te consome em injeções e comprimidos, podendo levar a um final
 
 nada desejado por você... "Pode ser fatal"...
 
 
 
 Os hormônios atuam em cada organismo de uma maneira, portanto, o que é bom e
 
 faz um determinado efeito para uma amiga ou conhecida sua ... pode não fazer
 
 ou ter o mesmo efeito em você. O que dá peito numa, pode dar quadril
 
 noutra... O que dá perna numa, pode levar à morte outra... Pense nisso não
 
 como um conselho ou dica... mas como uma experiência de vida... Uma
 
 experiência verdadeira de quem viveu e vive ainda este processo... Uma
 
 pessoa que não quer o teu bem, nem o teu mal... quer somente que você saiba
 
 o ponto de vista de alguém que vive esse processo...
 
 
 
 Se precisar de mim... para alguma... para qualquer coisa... eu estarei
 
 aqui... :))) querendo ajudar sempre... pois é disto que eu gosto... e é isso
 
 que eu sei fazer..:)))
 
 
 
 Maitê Schneider
 
 
 
 
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