Vivemos uma crise de autoridade sem precedentes em todos os níveis e não poderíamos esperar que assim não fosse, porque a virtude da autoridade, essencial em qualquer sociedade organizada, tem sido, nas últimas décadas, maliciosamente confundida com o vício do autoritarismo. Com efeito, nossa esquerda – jurássica, mas muito mais bem organizada do que os telespectadores e leitores, tratados, durante duas gerações, como bonecos de ventríloquos, sequer imaginam – conseguiu transformar o termo “autoridade” em uma palavra maldita, própria da “ditadura militar” que alguns pegaram em armas para derrubar. Só que – mas isso eles não dizem - para implantar em seu lugar um regime verdadeiramente autoritário, como fez Fidel e como Chávez e Morales vêm fazendo, abertamente e sem pudor, na Venezuela e na Bolívia, seguidos de perto, com a inveja dos que correm atrás, pelo novo presidente do Equador...
Já escrevia São Tiago (3; 10) que a boca que louva é a mesma que amaldiçoa. E a cavidade bucal presidencial, habitualmente mais descontrolada do que carro sem freio descendo ladeira, mostrou a verdade deste ensinamento. No dia da inadmissível greve dos controladores de vôo, falando pela boca do ministro do Planejamento, passou a mão na cabeça dos insubordinados, massacrou a hierarquia militar e a própria Constituição, aceitando negociar com os que paralisaram o país e prometendo que o setor seria desmilitarizado (decerto, para ser “petetizado”, como outros). Deixou em posição incômoda a Força Aérea, seu comandante e as demais armas, que, por sinal, vêm sendo tratadas há bastante tempo a pão e água, por conta de um revanchismo evidente, embora disfarçado. No dia seguinte, a boca que abençoara os insubordinados passou a maldizê-los, afirmando que sua atitude fora absurda, ao mesmo tempo em que tentava benzer os chefes militares, amaldiçoados na véspera, agora com promessas de liberações de verbas e com o anúncio de que a tal desmilitarização (“petetização”?) do Sindac seria adiada.
A Nação precisa e quer saber o que existe de fato por trás desses lamentáveis episódios em nossos aeroportos. Falta de autoridade tem um nome, bastante claro: baderna! Já não basta o crime desrespeitar as forças de segurança interna e aterrorizar os cidadãos? Já não chega a ocupação dos pontos estratégicos das principais estradas do país pelos baderneiros dos “movimentos sociais”, sob a complacência benevolente das pseudo-autoridades? Já não é suficiente que responsáveis por esquemas de desvio de recursos públicos não tenham ainda sido punidos, desde o episódio Waldomiro Diniz e passando pelos mensaleiros e sanguessugas?
É preocupante, em qualquer país, quando um partido que está no poder ocupa espaços que transcendem a órbita normal de governo, o que vem ocorrendo de forma bastante clara, embora silenciosa. Se muitos dos espaços não estão sendo preenchidos com membros do PT, o estão com “movimentos sociais”, “entidades” e Ongs milionários, muitos até mais radicais em seu socialismo retrógrado do que alguns setores do partido do presidente.
Será que a lição de 63 não foi aprendida? Nem o que ocorreu em 64? Ou nos anos seguintes? A quem, a esta altura, pode interessar a instauração da baderna, com a democracia consolidada e com as costas calejadas pelos estragos provocados por aqueles episódios, se nem direita organizada existe mais e seções da CNBB parecem escritórios de partidos de esquerda?
Com a insubordinação tolerada dos controladores de vôo, um de meus filhos, que está morando em Brasília, não pode vir ao Rio para assistir ao sepultamento da avó materna. Como este, poderemos encontrar milhares de outros transtornos que seu levante causou.
Autoridade, leitor, não é “autoritarismo” e é fundamental! A Nação está a clamar: “autoridade, ainda que tardia”!
Obs.: Esse texto, cortesia do Prof. Iorio, será publicado no JB, em 9/4/2007 (F.M.).