Resumo: No fundo, Collor é um trouxa: depois de derrotar Lula pensou que era sopa enfrentar uma gente que desde os tempos de Stalin só pensa em tomar o poder em nome da igualdade e da justiça social, mas sempre de olho na grana fácil, nos cargos públicos e nas mordomias sem fim.
1 - Quinze anos depois de ter perdido os direitos políticos, Fernando Collor de Mello, agora senador, voltou ao palco do Congresso para explicar à nação por que foi destituído do poder central: não teve, diz ele, a mínima chance de se defender. Numa fala que durou três horas, o ex-presidente considerou sua cassação uma farsa manobrada pela oposição e consentida pelo deputado Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara, contando com a conivência do ex-senador Almir Lando, o relator da CPI de Paulo César Farias (que Collor tinha o dever de mandar prender - e não o fez).
Na tribuna, ao fazer o levantamento cronológico do jogo de cartas marcadas que o levou ao impeachment, o relato de Collor foi preciso, minucioso e verdadeiro. O ex-presidente não julgou necessário dar explicações sobre as "sobras de campanhas" da Operação Uruguai, sobre o livre trânsito de PC Farias pelos ministérios e "miudezas" tais como a compra da Fiat Elba, denunciada pelo motorista Eriberto. Na certa, imaginou que o fato do Supremo Tribunal Federal julgá-lo inocente, depois de anos de averiguação, era por si uma explicação evidente. Não era e, para os seus opositores, continua não sendo - embora o ex-presidente, na lógica da política, tenha comido o pão que o diabo amassou.
Sob o rolo compressor da esquerda, do centro e da "direita", Collor foi triturado e chutado do poder sem dó nem piedade, num massacre sem precedentes nos anais da nossa tumultuada história política. E não apenas ele, mas toda uma geração que o acompanhou e sempre pensou em fazer do Brasil uma república democrática e liberal. Eu próprio, dentro do governo, imaginava aprofundar no Brasil a tradição do cinema de livre mercado que se mantém sem bater a carteira do contribuinte - coisa em que ainda acredito.
Na minha visão, Collor é o exemplo vivo da vítima que se deixa seduzir pelo algoz (os casos de Prestes com Getúlio e da terrorista de São Paulo que se apaixonou em 1970 pelo delegado Fleury, são outros exemplos). O fato é que no seu pronunciamento, Collor, vítima do massacre conduzido pelo petismo, se disse "soldado de Lula e do seu projeto de governo". Do mesmo Lula que o recebeu no Planalto e que, de fato, foi um dos principais articuladores de sua queda, em 1992, manobrando dia e noite com Zé Dirceu et caterva para derrubá-lo do poder, no pressuposto de que o então presidente era um "débil", com perfil mental estigmatizado pela "ganância, vontade de roubar e a corrupção".
Não sei se Collor acha estratégico, por enquanto, tornar-se um "soldado de Lula", ao tempo em que projeta hipotético retorno à Presidência da qual foi desalojado. Na América Latina cabe tudo e, recentemente, Alan García, depois de escorraçado do poder, no Peru, voltou à Presidência, lépido, com a mesma conversa nacionalisteira. Quem sabe lá o que se passa na cabeça de um político?
No fundo, Collor é um trouxa: depois de derrotar Lula pensou que era sopa enfrentar uma gente que desde os tempos de Stalin só pensa em tomar o poder em nome da igualdade e da justiça social, mas sempre de olho na grana fácil, nos cargos públicos e nas mordomias sem fim. O fato de se considerar "um soldado de Lula", soa como um deboche aos que o apoiaram e um desrespeito aos que repudiam o populismo totalitário posto em marcha no Brasil.
2 - Ao nomear Tarso Genro como ministro da Justiça, o presidente Lula, segundo o político César Maia, "repete o ato de Hitler" ao promover, na Alemanha nazista, a figura de Heinrich Himmler à chefia da Gestapo. Não é despropositada a associação que o prefeito do Rio faz entre Himmler, figura de destaque do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), e Tarso Genro, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), quem sabe nomeado por Lula para fomentar no Ministério da Justiça a "revolução legal", via o "darwinismo institucional" capaz de legitimar, por exemplo, as invasões criminosas promovidas pelo "movimento social" do MST.
No seu "ex-blog", o prefeito dá como certa a ação petista dentro da Policia Federal, que, nas mãos de Genro, um militante obstinado, não terá limites em passar informações sigilosas ao setor de Inteligência do PT, sem falar na plausibilidade do uso de grampos contra os adversários políticos e dos riscos que a mídia em geral correrá com o aparelhamento ideológico da Justiça.
O perfil do homem público Tarso Genro é suficientemente conhecido pelo "engajamento". Para "servir à causa" ele inverte, subverte, negaceia e até mesmo justifica, com a retórica da duplicidade própria às mentes "comprometidas", qualquer ação mais atrevida no rumo do "socialismo". Principalmente agora: com o renascer de Fidel e o avanço da revolução bolivariana de Chávez, a saída de Lula será atravessar a "lama burguesa", ao de leve, mas a todo vapor.
3 - Ninguém pode negar ao senador Zé Sarney, o "bengalinha", a pecha de estar sempre escorado em projetos que visam dificultar a vida dos contribuintes a partir de leis lesivas e discriminatórias. É dele, por exemplo, a idéia, chupada dos franceses, de criar o Ministério da Cultura, bem como a de copiar dos democratas americanos a lei das cotas na educação, considerada por muitos como inoperante e de teor racista.
Agora Sarney, que depois de 40 anos de mando perdeu o feudo do Maranhão, quer criar o Estado do Maranhão do Sul, fonte de empreguismo, para achatar o governador Jackson Lago que derrotou Roseana, sua filha, nas últimas eleições.
Sarney, como disse o candidato Lula, em 1989, é um impostor. Quer passar a imagem de um estadista, quando na verdade não passa de um coronelão nordestino. E dos piores: o Maranhão, durante o seu prolongado suzeranato, atingiu alarmantes índices de analfabetismo, mortalidade infantil e baixa qualidade de vida.
PS - Collor, Genro e Sarney têm um elo que os une: alimentar Lula e o seu projeto populista totalitário.
(*) O autor é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.