ffdd11>Importado da estranja (quanto terá custado?), o programa «Os Grandes Portugueses» (que ironia!) serviu à RTP para relançar, em inoportuníssimo erro quanto a mim, o retorno da apresentadora Maria Elisa que, num país em aflitiva míngua de emprego para os que deveras mais carecem de trabalho, não lhe falta «que fazer», seja o patrão qual for: na RTP, na Gulbekian, no Estado. Porquê?!... Porque, em Portugal de Abril esticado ao extremo, as oportunidades são sem «sombra de dúvida para todos sem excepção».
A Maria Elisa reentrou e, sem respeito e pejo algum pela memória do inequívoco grande estadista, a nível mundial reconhecido, que foi António de Oliveira Salazar, de imediato, com instante e persistente preocupação, lhe tratou de mais um funeral. Os telespectadores que desde o princípio vêm seguindo a fraude psicológica (e não só) que é o programa, viram e ouviram Maria Elisa impedir que José Hermano Saraiva se pronunciasse em defesa do antigo primeiro-ministro. Ainda se lhe ouviu referir que «o programa que decorria estava a ser feito sob o magnífico tecto que o falecido ditador mandara zelar».
Para Maria Elisa e «obviamente» para a RTP, o Infante e o Marquês foram estadistas. Salazar, o «botas», o «inepto fascista» de Santa Comba Dão, foi um vulgaríssimo político que, pelo exercício em evidência, nunca deveria ter existido. Ponto final e parágrafo.
Trata-se apenas de um programa de entretenimento (ó se entreteu!), uma brincadeira à guisa dos casos sérios «à-la-Herman-José», independentemente dos largos milhares de euros que os famigerados «60 cêntimos + IVA» custarão aos incautos do voto alado, os apelados que entraram na «jogataina da Maria Elisa». Mais um «programa original» da dinâmica e inventiva apresentadora!...
O medíocre evento televisivo disparou em cima do joelho e desde logo com o Salazar enterrado sob as eminentes sugestões que a RTP oferecia. Como os protestos falaram mais alto, lá se trouxe o Salazar aos solavancos para a superfície, mas sempre a dar-lhe com a pá na cabeça para que o «nefasto defunto» continue a repousar em paz e sequer vislumbre como o compadrio, quase na mesma lógica ortográfica, deu em corrupção.
Havia disponível um fórum RTP na Internet para os portugueses comentarem «livremente» o programa e o seu decurso em exclusivo. Ora então pois, em face da catadupa de coices - eu, por exemplo, dei mais de duzentos em todas as possíveis direcções - a RTP eliminou-o sorrateira, empurrando os protestantes para o fórum-geral, algo onde os coices dão muito menos na vista e podem ser geridos com oportuníssimo corte de pata, ferradura e tudo.
Logo, Domingo, após três meses de votação pública sem freio e o apuramento de dez figuras históricas, surgirá o maior de todos os portugueses, o «mais grande», aquele que vem entreter toda a gente. Estou ansioso à espera que, advindo da actividade de «especializada empresa isenta», o nosso gigante surja na voz da Maria Elisa. Claro, vai ser osso que tão cedo largarei. Já preparei casota e máquina de rilhar (já não tenho dentes) para deliciar-me a roer com as gengivas.
António Torre da Guia Som = Popcorn |