Permita-me que à boleia do seu texto e, desviando-me da pormenorização que aborda, eu me exprima muito rapidamente sobre o contexto envolvente, buscando a origem da anómala e estranha crise que afecta os portugueses há anos sucessivos e para qual os diversos ministérios em maioria, ainda que com a passagem de sucessivos ministros, também estão em inepta crise, que não conseguem, está visto, debelar.
A senhora acredita no exemplo? Se acredita, também eu?
A senhora também se lembra decerto dos fantásticos "batmans" que apareceram na nossa Assembleia da República? Quem diria que alguns bastantes dos nossos deputados eram pessoas capazes de se locupletarem habilidosa, fraudulenta e subrepticiamente do herário público?
Os portugueses em geral, ao contemplarem o suavizante e balsamico desfecho, caíram em natural cogitação colectiva, dizendo assim para dentro: "- Ah, aqueles melros, a ganharem como ganham, ainda por cima se andam a abotoar?". E pimba, dona Natália, começou a festa em todos os arraais, incentivada por outros escândalos mais.
A senhora está de acordo comigo sobre a força do exemplo nos dois sentidos extremos que contempla? Claro, "onde faz um português, fazem logo dois ou três".
O engº. José Sócrates bem pode sacudir o saco na tentativa de operar o desentrelace do enlace tácito, que muito-muito pouco adiantará. Aliás e pelo contrário absoluto, corre o risco de desorganizar por completo o que já de si estava em estado sofrível. O nosso primeiro-ministro, se algo quiser mesmo fazer de límpido, tem de voltar-se para trás de si, porque é lá que está latente e emana o mau exemplo que se propaga à velocidade do som.
É, dona Natália, o título deste texto constitui o slogan que é necessário colocar quanto antes em curso, reinstituindo o exemplo sem sombra de dúvida.
A senhora decerto está de acordo comigo que um, dois, três, quatro e cinco padeiros a fabricar mau pão, num ápice, dão cabo do pão todo que os outros padeiros fabricam...
Agradeço-lhe desde já antecipadamente a boleia que me proporcionou. Não me digam que Portugal vai como vai por causa da conjectura internacional. Isso é treta absoluta de quem come, bebe, sexualiza e dorme esplêndidamente sem qualquer merecimento.