Sendo possivelmente a mais batida das frases da língua inglesa - To be or not to be: that s the question - será também, através do incontornável conceito que emana, a mais irrefutável das verdades existenciais.
Entrou-me no ouvido, quando ascendia aos 12 anos, logo que comecei a frequentar o ensino secundário. Ao cabo de quase sete décadas, perpassando pelas diversas etapas da maturação, ainda é com alguma perplexidade que me debruço sobre a amplitude do seu tão simples e singelo conteúdo, rendido à capacidade abrangente do raciocínio que a concebeu.
Sob este enunciado, desta feita, vou equacionar o estranhíssimo êxito de Cristiano Ronaldo, jovem futebolista advindo de condição assaz precária que aos 22 anos é designado capitão da selecção nacional portuguesa e é considerado um dos melhores do mundo na prática da modalidade.
Poderá dizer-se em aligeirada apreciação que se está perante um indivíduo que foi um daqueles putos arredios ao comum encaminhamento que entregou de corpo e alma os seus dias juvenis à paixão pela bola, jogando-a em qualquer sítio ou situação.
Inopinadamente o Cristiano surpreendeu-me muitíssimo mal no infeliz momento em que atiçou o seu dedo médio direito com o anelar e o indicador em vénia para a assistência que enchia o Estádio da Luz e para os telespectadores que então viam o Benfica jogar contra o Manchester United. Nunca mais este futebolista, faça o que fizer e dê no que der em mérito futebolístico, terá o meu apreço. Vendo-o integrado na selecção portuguesa, desde logo sinto que o meu portuguesismo vai pela água abaixo.
Quem o viu jogar no amigável contra o simpático seleccionado luxemburguês, reparou decerto no imperante estrangulamento que impôs ao central adversário e, logo mais adiante, como se aprestou para enfiar o cotovelo numa das órbitras do defesa-direito. De imediato Scolari não hesitou em retirar o rapazote, enviando-o para o balneário, não fosse a seguir dar-lhe para arrancar os fundilhos ao guarda-redes.
De resto, quer em Portugal, quer no estrangeiro, quem é que não está ao corrente das escandaleiras que o menino-lindo tem protagonizado tão-só porque o dinheiro aos montes é para ele muito fácil de alcançar?
Na sua visita à China, de passagem por Macau, o nosso primeiro-ministro José Sócrates distribuiu com muito agrado, entre alguns jovens macaenses, a lusa camisola nº. 17, à guisa de benquisto exemplo e de louvável portugalidade. Em atentíssimo e atempado seguimento os dirigentes da selecção colocaram-lhe na manga a braçadeira de capitão, numa medida que, para melhorar a segurança ao esquema de seriedade, lembra aquela em que se confia a chave do cofre ao ladrão.
Em face deste tão insólito cenário, Shakespeare aparece-me no palco da mente e em Fevereiro de 2007, cerca de 450 anos depois, proclama: - To be or not to be: that s the question!...
Se o que se está a passar dignifica Portugal e os portugueses, apre, vou fazer um tremendo esforço de reconversão para que passe a apoiar e a elogiar tão saudáveis e proveitosas atitudes.