A palavra ADVENTUS significa vinda, advento. Provém do verbo «vir». É utilizada na linguagem pagã para indicar o adventus da divindade: sua vinda periódica e sua presença teofánica no recinto sagrado do templo. Neste sentido, a palavra adventus deve significar «retorno» e «aniversário».
Também se utiliza a expressão para designar a entrada triunfal do imperador: Adventus divi. Na linguagem cristã primitiva, com a expressão adventus se faz referência à última vinda do Senhor, a sua volta gloriosa e definitiva.
Mas em seguida, ao aparecer as festas de natal e epifanía, adventus serve para significar a vinda do Senhor na humildade de nossa carne.
Deste modo a vinda do Senhor em Belém e sua última vinda se contemplam dentro de uma visão unitária, não como duas vindas distintas, mas sim como uma só e única vinda, desdobrada em etapas distintas. Mesmo que a expressão faça referência direta à vinda do Senhor, com a palavra adventus a liturgia se refere a um tempo de preparação que precede às festas de natal e epifanía.
É curiosa a definição do advento que nos oferece no século IX Amalario de Metz: «Praeparatio adventus Domini». Neste texto o autor mantém o duplo sentido da palavra: vinda do Senhor e preparação à vinda do Senhor. Isto indica que o conteúdo da festa serviu para designar o tempo de preparação que a precede. (José Manuel Bernal Llorente/Fonte: Dominicos.org)
Durante as quatro semanas do Advento preparamo-nos para o Natal.
No Advento ouvimos as vozes sempre atuais dos profetas bíblicos, anunciando a vinda do Messias. Também ouvimos a voz de João Batista e do próprio Jesus anunciando a proximidade do Reino de Deus.
Este tempo litúrgico, próprio do Ocidente, foi instituído para que os fiéis se preparassem para a celebração do Natal. Mas, em pouco tempo, adquiriu também um significado escatológico.
"O tempo do Advento tem uma dupla característica (dupla vinda de Jesus):
•é tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se recorda a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens e simultaneamente é o tempo no qual, através desta recordação, o espírito é conduzido à espera da segunda vinda de Cristo no final dos tempos".
Esse significado não só confere a cada celebração seu colorido litúrgico particular, mas determina, pelo menos para esse grande tempo do ano, a escolha de leituras ductilmente harmonizadas com ele.
Desta forma, os domingos exprimem uma continua progressão partindo do segundo advento, ligado ao último domingo do ano, embora sempre sublinhem o nascimento de Jesus, para chegar à encarnação do Verbo.
Tais leituras conferem à celebração do Advento uma riqueza teológica incomparável.
Observe-se a discreta harmonização entre as três do mesmo domingo. Somos pois convidados a ler e a estudar os textos na sua recíproca ligação no âmbito da celebração de um mesmo domingo, mas também na sua ligação com os textos dos domingos seguintes.
Com isso, o Advento apresenta-se como um tempo de alegre expectativa, momento de forte mergulho na liturgia e na mística cristã.
É tempo de espera e esperança, de atenção e vigilância, durante o qual nos preparamos alegremente para a vinda do Senhor.
ORIGEM DO ADVENTO
Há relatos de que o Advento começou a ser vivido entre os séculos IV e VII em vários lugares do mundo, como preparação para a festa do Natal. No final do século IV, na Gália (atual França) e na Espanha, este período tinha caráter ascético, com jejum e abstinência durante seis semanas.
Este caráter ascético era também uma fase da preparação dos catecúmenos para o batismo. Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor.
No Concílio Vaticano II, após a reforma litúrgica, o Advento passou a ser celebrado nos seus dois aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, mantendo a tradição das 4 semanas.
TEOLOGIA DO ADVENTO
O Advento recorda a dimensão histórica da salvação, evidencia a dimensão escatológica do mistério cristão e insere-nos no caráter missionário da vinda de Cristo. Jesus encarna-se de fato e torna-se presença salvífica na história, confirmando a promessa e a aliança feita ao povo de Israel. Deus, ao se fazer carne, plenifica o tempo (GI 4,4) e torna próximo o Reino (Mc 1,15).
O Advento recorda também o Deus da revelação, Aquele que é, que era e que vem (Ap 1, 4-8), que está sempre realizando a salvação, cuja consumação se cumprirá no "dia do Senhor", no final dos tempos.
O caráter missionário do Advento manifesta-se na Igreja pelo anúncio do Reino e a sua acolhida pelo coração do homem até a manifestação gloriosa de Cristo.
As figuras de João Batista e Maria são exemplos concretos da missionariedade de cada cristão, quer preparando o caminho do Senhor, quer levando as pessoas ao encontro de Cristo.
Não se pode esquecer que toda a Humanidade e a Criação vivem em clima de advento, de ansiosa espera da manifestação cada vez mais visível do Reino de Deus.
ESPIRITUALIDADE DO ADVENTO
Deus é fiel a suas promessas: o Salvador virá! Desta certeza resulta a alegre expectativa da renovação da vida, pois a fé cristã acredita que aquilo que se espera acontecerá com certeza. Portanto, não estamos diante de algo irreal, fictício, passado, mas diante de uma realidade concreta e atual.
A esperança da Igreja é a esperança de Israel já realizada em Cristo, mas que só se consumará definitivamente na parusia do Senhor. Por isso, o brado da Igreja característico nesse tempo é “Marana tha”! Vem Senhor Jesus!
O tempo do Advento é "tempo de esperança" porque Cristo é a nossa esperança (1Tm 1, 1); esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna, esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante das perseguições.
O Advento também é "tempo propício à conversão".
Sem um retorno de todo o ser a Cristo não há como viver a alegria e a esperança na expectativa da Sua vinda.
É necessário que "preparemos o caminho do Senhor" em nossas próprias vidas, através de uma maior disposição para a oração e mergulho na Palavra.
AS FIGURAS DO ADVENTO
ISAÍAS
É o profeta que, durante os tempos difíceis do exílio do povo eleito, levava a consolação e a esperança. Na segunda parte do seu livro, nos capítulos 40-55 (Livro da Consolação), anuncia a libertação, fala de um novo e glorioso êxodo, e da criação de uma nova Jerusalém, reanimando assim os exilados. As principais passagens deste livro são proclamadas durante o tempo do Advento num anúncio perene de esperança para os homens de todos os tempos.
JOÃO BATISTA
É o último dos profetas e, segundo o próprio Jesus, "mais que um profeta", "o maior entre os que nasceram de mulher", o mensageiro que veio diante d Ele a fim de lhe preparar o caminho, anunciando a sua vinda (Lc 7,26-28), pregando aos povos a conversão, pelo conhecimento da salvação e perdão dos pecados (Lc 1,76s). A figura de João Batista encarna o espírito do Advento. É o modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são chamados a ser também profetas e profecias do reino, vozes no deserto e caminho que sinaliza para o Senhor, permitindo, na própria vida, o crescimento de Jesus e a diminuição de si mesmos, levando por sua vez os homens a despertar do torpor do pecado.
Hoje em dia também temos profetas - são todos aqueles que ajudam o povo a perceber a presença e atuação de Deus dentro dos acontecimentos (chamam a conversão e denunciam as injustiças, e têm palavra animadora para o povo).
Como Isaías, João Batista, todos nós devemos viver atentos aos acontecimentos, participar ativamente da vida de nosso povo e perceber na nossa vida os apelos de Deus.
MARIA
Não há melhor maneira de se viver o Advento que unindo-nos a Maria como mãe, grávida de Jesus, esperando o seu nascimento. Assim como Deus quis o sim de Maria, Ele também espera o nosso sim para poder nascer e se manifestar no mundo; assim como Maria se "preparou" para o nascimento de Jesus, nós precisamos preparar-nos para vivenciar o Seu nascimento em nós mesmos e no mundo.
REFLEXÕES:
O Tempo Litúrgico do Advento nos faz viver profundamente este aspecto da presença-ausência do Reino:
• Reaviva em nós a esperança de um futuro melhor, dentro de um mundo que parece estar se acabando por suas próprias mãos.
• Reanima a nossa coragem, nossos esforços por uma vida digna, por uma sociedade fraterna.
• Reaviva o nosso amor.
• Ajuda-nos perceber a vida como uma grande rede. Ajuda-nos a compreender que é preciso tecê-la juntos.
Advento é tempo de voltar-nos para o Deus que nos ama e que está bem perto de nós.
É tempo da fé nas coisas novas, no novo céu e nova terra onde habita a justiça e a paz.
É tempo de limpeza e arrependimento, de opção por uma vida saudável em que sobra espaço para a solidariedade, a verdade, a paz e a comunhão.
É tempo da construção da esperança e da vida comunitária que rompem os nossos limites e entendimento.
É tempo de alegria, de festejar o amor de Deus por nós Hoje é a palavra-chave para entendermos a Celebração Litúrgica: o passado se torna presente e já carrega dentro de si o futuro.
O Natal anuncia a vida que renasce com equilíbrio, justiça e piedade (Tito 2,11-14).
Que o tempo de advento seja em nossa vida um tempo de preparo para voltarmos ao que é mais pleno e puro na vida desejada por Deus.
Alguém espera por nós no ponto de chegada e se faz presente como companheiro de caminhada.