A situação em que o centro da capital dos gaúchos se encontra é lamentável. Qualquer cidadão que tente circular pelas vias centrais, a pé ou não, deve tomar cuidado para não tropeçar ou atropelar os vendedores ambulantes e sua inesgotável variedade de produtos falsificados. Sinceramente, não sei se o que falta para resolver esse problema é coragem ou vontade por parte dos nossos governantes.
Cabe aqui salientar que o quadro é idêntico na maior parte das grandes cidades brasileiras. O comércio ilegal conta com a simpatia de milhões de brasileiros que percebem nele a possibilidade de consumo com custos menores, e talvez esteja exatamente aqui um dos incentivos para que as autoridades não encarem com seriedade o problema: já que milhões de brasileiros consomem e sobrevivem do comércio informal, e a parte da sociedade que é prejudicada pela informalidade não consegue se fazer ouvir, é lógico que acomodar a situação é a opção mais atraente.
Nessa história existem alguns fatos muito intrigantes, que têm na incoerência um ponto comum. Por exemplo: muitos dos que defendem os “camelôs” são os mesmos que se posicionam radicalmente contra qualquer alteração na legislação trabalhista. Fica difícil entender tal fato, tendo em vista que nenhum vendedor ambulante tem carteira assinada, férias, 13º, salário-mínimo ou qualquer outro benefício dessa natureza. O “camelô” tem sua remuneração atrelada exclusivamente à sua produtividade, isto é, se vender, recebe sua parte, caso contrário, nada de dinheiro.
Nessa mesma linha de raciocínio, é importante lembrar que os defensores dos “pseudo-excluídos” estão normalmente associados aos combatentes do capitalismo, que enxergam os verdadeiros empresários como “bandidos” da nossa história maluca. Resumindo: quando o empresário assume o risco, investe, gera empregos, paga impostos e consegue lucrar, se transforma em um monstro. Mas quando uma pessoa qualquer falsifica produtos ou consegue “importar” sem pagar impostos, contrata pessoas sem respeitar nenhum tipo de legislação trabalhista, se apropria de vias públicas nos melhores locais dos grandes centros, vende seus produtos (novamente sem pagar impostos), e consegue facilmente lucrar muito mais do que a concorrência formal, é visto pelos defensores dos “pseudo-excluídos” como herói.
Mas a história maluca é mesmo doida e não acaba por aqui. Os absurdos são tantos que recorrentemente surgem “idéias” para solucionar o problema. Uma das mais festejadas é a construção de “camelódromos”, sempre com localização privilegiada e com dinheiro da sociedade, que mais uma vez deve pagar a conta do “fantástico mundo brasileiro”. O mais impressionante nessa idéia é que, quando se tenta colocar em prática, os verdadeiros bandidos da nossa história maluca se posicionam contra, tendo em vista que suas vendas serão reduzidas, e os “pseudo-excluídos” vão perder seus “empregos”. Quando o “camelódromo” sai do papel, um dia após a inauguração os espaços estão sendo negociados, e as vias públicas mais uma vez invadidas pelos ambulantes. Difícil de acreditar!
A informalidade é um crime pequeno perto do contrabando e venda de produtos falsificados.
A solução ideal seria que a população se conscientizasse e não consumisse nenhum tipo de produto falsificado, cortando o mal pela raiz. No entanto, acreditar nessa possibilidade é ingenuidade ou má-intenção. Se faz urgente a flexibilização de leis trabalhistas, a redução da burocracia estatal, a reforma tributária e o aumento da fiscalização de nossas fronteiras e das localizações onde a venda de produtos falsificados ocorrem.
O Brasil está perdendo inúmeras oportunidades, condenando pelo menos mais uma geração de brasileiros a assistir o crescimento e o desenvolvimento de países que anos atrás estavam em situações piores do que a nossa. Isso é omissão. Isso é triste. Isso é a nossa história maluca, onde o bem é o mal.