PRIMEIRA-INVASÃO FRANCESA
Em 20.11.1807, após ter atravessado o território espanhol em marcha acelarada sob outono assaz rigoroso, um exército de Napoleão Bonaparte, comandado pelo General Junot, alcançou a fronteira portuguesa nas imediações de Marvão. Sem encontrar resistência, uma grossa coluna invasora avançou, tendo atingido Abrantes quatro dias depois, em busca de provisões e retemperamento. Desgastadas pelo percurso, fustigadas pelas intempéries e também famintas, as tropas francesas prosseguiram e, em dificuldade para uiltrapassar o rio Zêzere, entraram em Santarém no dia 28. De imediato, continuando rumo a Lisboa, a 30 de Novembro dois regimentos em muito mau-estado atingiram a capital do país.
No dia antecedente, a Família Real e grande parte da Corte, cerca de 15 mil pessoas, largaram do Tejo em 34 embarcações rumo ao Brasil, tendo deixado o governo a um colégio regente com instruções de não resistência militar. À época, no trono de Portugal reinava D.Maria I, que então, já em adiantado estado de incapacidade mental, delegara em seu filho, futuro D.João VI, a representação do Estado.
Em Agosto do ano seguinte, uma força britânica, sob o comando do General Arthur Wellesley, mais tarde Duque de Wellington, desembarcava na costa portuguesa e marchou sobre Lisboa. Em consequência, travaram-se sucessivamente as batalhas de Roliça - 17.8.1808 - e do Vimeiro - 21.8.1808, levando de vencida os sitiantes franceses, o que forçou à Convenção de Sintra, assinada a 30.8.1808 no Palácio de Queluz, desiderato que permitiu a retirada do que restava do corpo invasor em navios ingleses.
Ditado em conclusão:
Se a lagosta está à brocha,
desde sempre em sucessão,
quando o mar bate na rocha
quem se lixa é o mexilhão...
SEGUNDA-INVASÃO FRANCESA
Napoleão Bonaparte, apesar do insucesso do General Junot na primeira séria tentativa para colocar Portugal sob seu domínio, não desistia de almejar a conquista da Península Ibérica.
Assim, forçando em Baionne, em 1808, a abdicação de Carlos V de Espanha, bem como do seu herdeiro D.Fernando, colocou no trono espanhol seu irmão José Bonaparte e continuou com o seu plano conquistador.
Os espanhóis, em levantamento contra os usurpadores, obtendo o apoio das tropas britânicas estacionadas no norte de Portugal, no início de 1809, enfrentam os franceses na Corunha sob o comando de John Moore, mas foram derrotados pelo exército do Marechal Soult, o que os obrigou a retirar e ao mesmo tempo a desguarnecer a fronteira portuguesa demarcada pelo rio Minho.
Em Março do mesmo ano, sem resistência, os soldados de Soult avançam e no dia 24 desse mês ocupam a cidade do Porto, fixando fronteira na margem esquerda do rio Douro
Em Maio seguinte, recompostas as tropas luso-britânicas, o General Arthur Wellesley retorna e sob as ordens do comandante-em-chefe Marechal William Carr Beresford, vence a chamada batalha do Douro e reconquista a cidade do Porto no dia 29, expulsando os invasores, que se retiraram para a Galiza. Proseguindo para o sul, as forças de Wellesley, derivaram para Talavera e, já em território espanhol, infligiram uma pesada derrota ao inimigo.
No contexto beligerante, foi estrategicamente muitíssimo importante a escaramuça de Serém, no concelho de Vouga, região pantanosa do rio Vouga e do rio Marnel, que actualmente pertencente ao concelho de Águeda. Então, o Capitão-Mor da área José Pereira Simões e seus operários, opuseram-se heróica e vigorosamente ao avanço do Marechal Soult, até terem recebido auxílio do Coronel Nicholas Trant e do seu Batalhão Académico, posteriormente, incluído entre os homens de Wellesley. Como consequência, a soldadesca de Soult não conseguiu atravessar o rio Vouga.
JOSÉ PEREIRA SIMÕES, último Capitão-Mor do concelho do Vouga, extinto em 1854 e integrado no concelho de Águeda, foi um dos maiores industriais de "Ferraria" da região do centro de Portugal. Fazia tachas, pesos, pingentes e armamento. Em 1800 havia cerca de 2000 operários fabris em Portugal e este destacado industrial era proprietário de cerca de vinte tendas de fabrico artesanal, empregando à volta de duas centenas de pessoas, o que correspondia a 10% da população fabril nacional, dimensão que à época constituía uma invulgar situação de cidadania. As "Ferrarias do Vouga" deram mais tarde origem à indústria de ferragens de Águeda. |