Vice-Almirante(Reformado) Sergio Tasso Vásquez de Aquino
Quem assistiu ao debate do último domingo, 8 de outubro, entre os dois candidatos a Presidente da República, pela Rede Bandeirantes de Televisão, deve estar perplexo com as interpretações conflitantes sobre o resultado. Mais ums vez, ficou demonstrado que estão fazendo da verdade uma categoria relativa, como tudo o mais nestes tempos de abandono moral!
Assisti a todo o evento, em companhia de pessoas da minha família, todas adultas e no gozo do juízo perfeito. Temos certeza do que vimos e ouvimos: Geraldo Alckmin cobrando firmemente respostas de Lula, em nome do povo brasileiro, sobre o emaranhado de malfeitos, agressões à lei e ao patrimônio comum da nação, comprovada participação de membros do seu governo, do seu partido e do seu círculo de amigos mais chegados em ações delituosas e atentatórias à ética e à moral, tornadas públicas por denúncias de antigos sócios no aparelho do poder e por sucessivas CPI, havendo algumas já tendo sido acolhidas pelo Ministério Público e os fatos e feitos de outras estando sujeitos a investigação policial. O atual presidente, duramente confrontado sobre os escândalos que têm tisnado sua gestão, pareceu desnorteado, perplexo, incapaz de defender-se e aos seus de forma satisfatória. Visivelmente abatido e sem ter como responder, pôs-se na defensiva, tergiversou, mudou de assunto, deliberadamente nada esclareceu sobre o que lhe era indagado... E mostrou muita raiva, pelo fato de estar sendo cobrado por atos da sua esfera de responsabilidade, responsabilidade que sempre teima em colocar sobre outros ombros, na cansativa insistência do “nada sei, nada vi, nada ouvi, nada é comigo”... O alcance e a gravidade dos crimes perpetrados , a proximidade das pessoas envolvidas ao gabinete presidencial, a decisiva influência e o poder de comando e decisão que Lula sempre teve sobre o PT, que se criou e cresceu à sombra da sua pessoa e das suas qualidades de comunicador, a quase adoração e o endeusamento que seus integrantes sempre devotaram ao “ companheiro maior” tornam impossível de aceitação a versão, por ele e seus associados difundida, de que tudo se deu sem seu conhecimento ou à sua revelia... De qualquer sorte, como aprendemos na Marinha, tudo o que acontece a bordo do navio é da responsabilidade do Comandante, do mesmo modo que tudo o que acontece no governo, na intimidade dos gabinetes palacianos e dos círculos internos do poder, só pode ser da responsabilidade do presidente!
Apesar dos negaceios iniciais, Lula teve de admitir a ocorrência seguida de corrupção entre membros do seu governo e correligionários. E vangloriou-se de não ter “ varrido o lixo para debaixo do tapete”, mas sim “tomado a providência de demití-los, afastá-los”. Em verdade, não foi assim: quando chegou a permitir que tantos envolvidos em maracutaias (alguns permanecem ainda no governo e todos privam da amizade e da consideração presidenciais) se exonerassem “ a pedido”, o fez premido pelo clamor público e pelo receio de mal maior à sua imagem e à do seu governo, não deixando jamais de ter uma palavra amistosa, justificatória, de promoção para o “ companheiro que cometera um pequeno erro (na sua acepção)”, por maior e mais evidente que houvesse sido o desvio praticado! E embora tenha declarado o contrário, para efeitos propagandísticos e eleitorais, ele e seus correligionários tudo fizeram para tentar impedir, tumultuar e distorcer a ação das CPI, para impedir que a verdade dos fatos viesse à tona. Daí a recorrente blindagem do apelo a “ habeas corpus “ preventivo, a negativa judicial à abertura do sigilo de contas bancárias e telefônicas, a obstruções...
Um tanto zonzo com o tom inesperado das cobranças que teve de enfrentar, Lula pouco a pouco voltou ao roteiro que trazia pronto, passando a enumerar as “realizações” do seu governo, sempre comparando-se com FHC e seu período de governo e apelando para, em suas palavras, um “ debate propositivo de plataformas”. Evidentemente, pois o que menos lhe interessa é a focalização sobre os aspectos éticos e morais da sua gestão e do PT! Geraldo Alckmin, com muita propriedade, enfatizou que não é FHC, nem seu governo será cópia do daquele; ao contrário, apresentou sua obra no governo de São Paulo, que o fez merecer o aplauso de 69% da população local no final da sua administração, e linhas gerais do que pretende fazer, na Presidência da República e para resgatar o Brasil, procurando aproveitar-se dos poucos minutos concedidos a cada um dos contendores, em cada oportunidade.
Ficou claro que o debate, com as limitações de tempo e demais regras impostas e seguidas, apenas concede que se toquem pela rama os projetos governamentais. É essa uma oportunidade valiosa para o candidato demagogo, que não está muito seguro de números e programas e que se vale mais de promessas e de versões sobre a realidade “real”. Foi isso que Lula fez, lendo uma sucessão de dados estatísticos e fazendo propaganda de projetos governamentais pretensamente em andamento. Diante do fato, foi confrontado por Geraldo Alckmin, no sentido de que estava lançando mão de dados “virtuais” (melhor teria sido que houvesse dito de “faz-de-conta”, para entendimento geral do povo). Mais adiante, Lula reconheceu que muitos projetos importantes, de infra-estrutura, inclusive, que havia declarado em andamento, só terão início em 2007! Usou do expediente de auto-atribuir-se, uma vez mais, realizações de outros ou por outros grandemente implementadas, como o projeto do biodiesel, antigo de mais de 20 anos, e a auto-suficiência em petróleo, corolário dos esforços de gerações e gerações de brasileiros. Voltou a gabar-se de que ninguém havia feito mais que ele por “esse país”, como se refere ao Brasil, nos últimos 400 (?) anos e fez intensa propaganda das “obras e realizações do seu governo”, em verdade começadas há um ano, para efeitos eleitorais, já que o período anterior, de três anos, foi um grande vazio, autêntico deserto.
Um momento muito tenso, sobre assunto que poderia (e poderá) merecer amplo esclarecimento, teve a ver com a indagação de Alckmin sobre o uso dado aos cartões corporativos, cartões de crédito pagos com recursos públicos e do uso da Presidência da República, ministérios e pessoas gradas do aparato governamental e do poder. A pergunta riscou o ar, como um raio em noite de lua, eletrizando o ambiente...
Os comentários petistas, após o debate, procuraram desmerecer Alckmin e sua atuação, como forma de tentar amenizar o impacto negativo da noitada sobre o projeto de reeleição, visivelmente sentido e demonstrado pelo próprio Lula. Nisso, Marta Suplicy, falando à Rede Bandeirantes, foi imbatível: parecia que ela e eu, mais todas as pessoas que estavam comigo em minha casa e possívelmente todos os brasileiros não contaminados pela alteração sensitiva e sensorial provocada pelo fanatismo ideológico ou pela incapacidade de discernir entre o certo e o errado, havíamos assistido a dois episódios diferentes, na luta pelo poder que hoje se trava e cujo resultado condicionará o Brasil e seu futuro.
A luta política em que estamos engajados será muito dura. Aquilo que identificamos como o mal tem muita força, mas o bem e a justiça são maiores e, ao fim, com a graça de Deus, haverão de triunfar! Continuemos em vigília, confiantes na força da oração e pedindo que Geraldo Alckmin seja iluminado com as bênçãos da fé, da esperança, da caridade e que o Senhor lhe conceda os dons de coragem, sabedoria, fortaleza, humildade, amor pela justiça e despojamento de si mesmo, em proveito do Bem Comum. As circunstâncias o levaram a ser, na conjuntura, o campeão do lado da virtude e do bem. Que possa ser sempre temente a Deus e, com amor a Ele e aos semelhantes no coração, se lance resolutamente e com sucesso na grande jornada em defesa do Brasil e do povo brasileiro e de suas instituições.
Esperemos que a atitude de vestal injustiçada, assumida pelo presidente, e as versões sem base na verdade que faz veicular, contra Alckmin, sobre pretensos cortes de programas sociais e privatizações, não mudem o ânimo dos eleitores, brasileiros sedentos de justiça e cansados do lamaçal revelado a partir de meados de 2005. Apesar das interferências e das influências espúrias, que teimam em promover o engano e a mentira, só existe uma Verdade, e confiamos em que ela haverá de impor-se e de triunfar, sobre a livre Terra de Santa Cruz! Em proveito do Bem, da Justiça e da Paz!