A campanha vinha tépida. Desalentada, parecia transparecer que o brasileiro estava anestesiado, estonteado, conformado com a vigarice, cansado de lutar contra os desmandos dos poderosos, enfarado. Estava, pois, dando tristeza, um banzo generalizado.
Mas eis que o PT – partido generoso, esse – nos deu mais uma prova de sua incompetência, de seu desamor ao Brasil, de sua paixão pelo poder; e o povo, enfim, acordou. Ou alguém acha que nosso povo, essa brava gente brasileira, vai votar num candidato que escolhe seus melhores amigos entre o que há de pior no sindicalismo, que permite que seu marqueteiro roube a ovação dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que foge de um debate com medo de um pingo de gente, de uma mulher franzina, mas corajosa?
Lula enfeitiçou o Brasil por um longo tempo. Mas o gigante adormecido acordou e contemplou atentamente a galeria de fotos do governo Lula: Dirceu, Palocci, Delúbio, Silvinho, Genoíno, Marcos Vinícius, Valdomiro, Freud, Lorenzetti, Gedemar, Lacerda, e mais uma dezena de nomes. Ligou a TV e viu o candidato do PT beijar a mão do Jader Barbalho, confraternizar com o Newtão, dar um abraço no Humberto Costa, passar a mão na cabeça dos meninos, uns aloprados, uns ‘descuidados’.
Esse homem, que nada vê, nada ouve, nada percebe, que se quer pai dos pobres, mas sofre com a ingratidão dos ricos, ainda se dá ao desplante de querer cindir a nação: a elite e os outros. Por elite ele entende, e quis fazer o povo acreditar nisso, os instruídos, os que se deram ao trabalho de estudar, de ler, de aprender. Pois bem, cresci admirando a elite de meu país: os bons escritores, os bons juristas, os políticos que sabiam falar, os poetas que apaixonavam a nação, os jornalistas que com sua pena inflamavam multidões.
Um país que é a pátria dos textos de Antonio Vieira, Machado de Assis, Ruy Barbosa, Guimarães Rosa, Gilberto Freyre, Érico Veríssimo, Alceu Amoroso Lima, Drummond, Rubem Braga, João Cabral, e tantos outros, não pode, de repente, se envergonhar de sua elite. Tenho certeza que os brasileiros preferem olhar para as estrelas, a olhar para a lama.
Por isso, confio nos meus conterrâneos. Sei que votarão bem. Sei que escolherão com muito cuidado os governadores, deputados estaduais e federais, senadores, e que não reelegerão, para Presidente da República, um homem que não teve pulso, que em nome de uma estranha amizade permitiu que um Bando de Aloprados freqüentasse com intimidade os Palácios onde reside, e o Palácio onde exerce o poder.
Poder que vai terminar no final de outubro. Teremos segundo turno, para que os debates, que então serão obrigatórios, mostrem ao povo, definitivamente, que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve ser reeleito, e que o mito Lula já deu o que tinha que dar.
Nós não somos Macunaíma. Nós não somos ‘ixpertos’. Nós não somos, sobretudo, aloprados. Nós fazemos parte da elite do mundo. Se nos deixarem trabalhar e viver em paz, com leis justas e firmeza no comando, sem esquecer que o Poder é do Povo, o Brasil ocupará, altivo e soberano, naturalmente, sem roubar palmas de ninguém, seu verdadeiro lugar entre as nações.
