Episcopado brasileiro repudia pressões à Arquidiocese do Rio de Janeiro
No contexto das eleições no Brasil, cardeal do Rio foi notificado a não falar de aborto
BRASÍLIA, quinta-feira, 28 de setembro de 2006 (ZENIT.org).- A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou que «lamenta profundamente» as pressões sofridas pela Arquidiocese do Rio de Janeiro no âmbito da campanha eleitoral nesse Estado.
Em nota difundida esta quinta-feira, o organismo episcopal «estranha e repudia o cerceamento da livre manifestação da opinião de cidadãos e a intromissão em campo próprio da competência da Igreja».
O texto da nota está assinado pelo cardeal Geraldo Majella Agnelo, presidente da CNBB, Dom Antônio Celso de Queirós, vice-presidente, e Dom Odilo Pedro Scherer, secretário-geral.
O cardeal do Rio de Janeiro, Dom Eusébio Scheid, e o bispo auxiliar Dom Dimas Lara Barbosa foram notificados essa segunda-feira pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) a orientarem todo o clero a se abster «de qualquer tipo de comentário ou referência político-ideológica». Nesse mesmo dia, no entanto, o Colegiado do próprio TRE cassou essa liminar.
A ordem judicial veio à tona no contexto de uma representação apresentada ao Tribunal pela Coligação “Um Rio Para Todos” (PT, PSB e PC do B), integrada pela Deputada Jandira Feghali, relatora do Projeto de Lei 1.135/91, que visa tornar a prática do aborto legal no Brasil durante todos os nove meses de gravidez.
A representação apresentada pela Coligação da Deputada Jandira Feghali, que concorre a uma vaga ao Senado pelo Estado do Rio de Janeiro, acusava a Igreja de produzir um panfleto ofensivo contra ela.
Em cumprimento ao Mandado de Busca e Apreensão, os oficiais de justiça e a advogada da Coligação vistoriaram todas as dependências da sede da Arquidiocese, inclusive o gabinete do cardeal e os gabinetes dos bispos auxiliares. Nenhum material foi encontrado.
Dom Dimas Lara qualificou a atitude da Coligação de «precipitada e equivocada», que «culminou na busca e frustrada tentativa de apreensão, na sede da Arquidiocese, de um material que não é nem de sua autoria nem de sua responsabilidade».
A CNBB, em sua nota, «reafirma o direito dos cidadãos e eleitores de conhecerem o pensamento e a posição dos candidatos sobre questões fundamentais, como a defesa da vida e da dignidade da pessoa humana, para o livre e autônomo exercício do voto cidadão».
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Defensores do aborto e da eutanásia «jamais merecem nosso voto», diz cardeal do Rio de Janeiro
Para Dom Eusébio Scheid, respeito à dignidade da pessoa humana é «ponto fundamental»
RIO DE JANEIRO, quinta-feira, 29 de setembro de 2006 (ZENIT.org).- Segundo o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, candidatos que defendem o aborto e a eutanásia «jamais merecem o nosso voto».
Para Dom Eusébio Scheid, na hora de escolher os candidatos, um ponto fundamental a ser analisado é o respeito à dignidade da pessoa humana, «que começa na hora da concepção e termina com a morte natural».
Em artigo escrito no contexto das eleições que o Brasil viverá no próximo dia 1º de outubro, o cardeal enfatiza que, em relação ao tema do aborto, «por detrás da bandeira da luta pela saúde e a dignidade da mulher, esconde-se, muitas vezes, um feminismo exacerbado e inaceitável».
«Incoerente na própria raiz --prossegue Dom Eusébio--, esta postura quer defender os direitos de alguns (no caso as mulheres), em detrimento dos direitos de outros (os fetos, nascituros), que, uma vez gerados, foram chamados à vida, como qualquer um de nós.»
O cardeal afirma que «não se pode pretender que a mulher venha a dispor, como bem quiser, da criança que está em seu ventre, pois esta não lhe pertence: ela é uma projeção da própria vida de Deus».
O arcebispo do Rio de Janeiro recorda que a Igreja Católica sempre foi uma das grandes promotoras da dignidade feminina, desde os tempos mais remotos, pois é ensinamento do próprio Jesus Cristo.
«Graças ao Evangelho, o mundo fez grandes avanços na questão dos direitos humanos. Portanto, não podemos admitir que, em nome de deturpações contra a lei natural, inscrita pelo próprio Deus no coração humano, tente-se impor uma nova forma de “respeito” à dignidade, seja do homem, da mulher ou do nascituro», afirma.