(Artigo escrito logo após o falecimento de Emilinha Borba)
No seu inexorável fatalismo, a morte tira, impiedosamente, de nosso convívio mais uma estrela dessa enorme constelação de artistas que o Brasil se orgulha de formar, no universo brilhante de ídolos, incluindo cantores, músicos, compositores, maestros, poetas, escritores, pintores, escultores, esportistas, atores, humoristas, cordelistas, repentistas, ufa!, é gente muita e boa demais.
Nessa galáxia brasileira, despontavam a voz caracteristicamente rouca, docemente bela, a talentosa interpretação e a simpatia contagiante de Emilinha Borba. Vinda de uma geração que hoje é chamada de velha guarda, começando sua brilhante trajetória nos idos de quarenta, Emilinha era, na atualidade, merecidamente idolatrada, não só por quem assistiu e viu seus sucessos do auge da carreira, mas por muitos jovens que estendem seu olhar para aquele passado onde ele encontra um manancial de belas criações musicais que soam aos seus ouvidos como sons de agora, gostosos de escutar, de curtir. Afinal, esse ajuntamento inesgotável das setes notas musicais produzem sonoridade que não se restringem a estanques temporais, a segmentações centuriais.
Ouvir os salmos salomônicos, as sinfonias de Beethoven, os chorinhos de Pixinguinha, os baiões de Luiz Gonzaga, os sambas de Martinho da Vila, como o instantâneo improviso dos repentistas, é sentir que o belo é eterno, que a arte é perene.
Nesse contexto, escutar marchinhas de carnaval, os sambas-canções, os boleros e os muitos estilos que Emilinha cantava, era receber pelos ouvidos, entender pelo cérebro e sentir pelo coração a beleza da voz e das músicas que sua garganta rouca soprava como os rouxinóis sopram seus cantos naturais em doces acordes, instintivos, espontâneos.
A morte de Emilinha, conquanto os desígnios do Criador tenham, para essa imperscrutável questão, suas razões transcendentais, deixa lacunas como deixaram já tantos outros valores de tantas outras épocas. É um processo natural. Mas, mesmo assim, deixa-nos inconformados, ainda mais quando se trata de alguém que só nos deu alegria.
É com dolorida emoção que nessa hora temos de, lamentando, dizer: