A pesquisa divulgada pelo Jornal Nacional de 01/09 apontou a primeira alteração importante para Alckmin no tabuleiro da disputa presidencial depois do início do horário eleitoral gratuito. Segundo o Ibope, a diferença entre Lula e Alckmin caiu 4 pontos. Lula caiu de 49% para 48% e Alckmin subiu de 22% para 25%. Heloísa Helena permaneceu com os mesmos 9% da pesquisa anterior; Cristovam Buarque e Rui Pimenta têm 1% cada. As manifestações de intenção de nulo ou branco somam 8% e os eleitores indefinidos são, também, 8%. Lula tem 57% dos votos válidos. A diferença entre Lula e Alckmin no segundo turno caiu 7 pontos. Agora 15 separam os dois; antes eram 22. Lula caiu de 54% para 51% e Alckmin cresceu de 32% para 36%.
Essa mexida nos números é importante, mas, ao que tudo indica, corresponde a um movimento de “volta para casa” de eleitores antilulistas que haviam saído para dar um passeio por outros candidatos de oposição, já que não viam Alckmin bater em Lula. A importância dessa alteração nas pesquisas é o efeito psicológico que ela causa nas hostes oposicionistas, ao injetar esperanças de ocorrência de um segundo turno.
No artigo intitulado “Tem que vazar de lá para cá”, publicado em 28/08, construí o seguinte raciocínio sobre o tabuleiro da disputa:
“Considerando-se a divisão do espectro do mercado eleitoral em três terços, com cerca de 35% de eleitores sendo antilulistas; cerca de 35% lulistas, e cerca de 30% sendo eleitores de centro, que estão, até o momento, optando por Lula, será preciso Alckmin desconstruir a imagem de Lula de modo a fazer com seus eleitores se movimentem de um lado para outro do espectro eleitoral. (...) passo a chamar o primeiro bloco de eleitores, no qual se agrupa a base Alckmin, Heloísa Helena e demais candidatos nanicos de bloco A; o bloco de centro, no qual incluem-se eleitores indefinidos e que estão com Lula, mas não são lulistas, de bloco B, e de bloco C, os eleitores lulistas convictos.”
A movimentação dos números que o Ibope aponta, me parece ser, ainda, interna ao bloco A e, portanto, insuficiente para impor o segundo turno. Observando os números de todos os institutos, ao que tudo indica, o potencial de crescimento de Alckmin dentro do bloco A parece ser de cerca 37% das manifestações de intenção de voto, conforme indicam seus índices nas projeções de segundo turno (que coincidem com a soma do total de votos dos adversários de Lula). Esse parece ser o teto a que Alckmin pode chegar, apenas batendo em Lula.
Mas, insisto, para vencer Alckmin precisa provocar o vazamento de eleitores do bloco B+C em direção ao bloco A. Para isso é que serve a propaganda biográfica e propositiva enfatizada na fase inicial da campanha. Para largar Lula, além de serem levados a desconfiar da honestidade do petista, esses eleitores de centro têm que perceber em Alckmin alguém confiável e que não lhes vai suprimir o “bolsa-esmola”. Não basta Alckmin dizer que vai preservar e ampliar os programas sociais do governo Lula, o eleitor precisa acreditar nele.
O melhor cenário eleitoral que Alckmin já teve a sua disposição ocorreu em dezembro de 2005, quando Lula bateu no piso de 29% das manifestações de intenção de voto e o tucano (40%) alcançou um empate técnico com o petista (41%). Esse cenário dá a medida das dificuldades que Alckmin enfrenta para derrotar Lula. Nessa mesma pesquisa Serra (50%) derrotaria Lula (36%) num virtual segundo turno.
A correlação de forças favorece Lula. Mas, como sempre digo, em política reina a incerteza e a imponderabilidade. Há quem atribua apenas à ocorrência de um fato novo a possibilidade de Alckmin vencer. Acho que suas chances são melhores. Lula está em condições de superioridade nas pesquisas e tem sua propaganda para reagir aos ataques. Logo, se Alckmin continuar crescendo e Lula confirmar tendência de queda ante os ataques que começou a sofrer no terreno da ética, os petistas irão contra-atacar.
O que foi preciso acontecer para que o cenário de dezembro de 2005 se constituísse?
Esse cenário se conformou no auge escândalo do mensalão, com uma verdadeira avalanche midiática mostrando as mãos sujas da merda (nas palavras de Paulo Betti) de Lula e do PT. O governo desistira de reagir e a correlação de forças favorecia a oposição. É difícil, mas será preciso reconstituir, na mente dos eleitores, o clima de perplexidade e indignação nacional daquele período, no momento eleitoral de hoje. A vitória do "não" no referendo das armas foi resultado daquele clima de opinião.
Tenho dificuldades em aceitar como definitivo o cenário em que a maioria do eleitorado brasileiro avalizaria a roubalheira que ocorreu sob o governo de Lula, sabendo que ela vai se ampliar se Lula for reeleito. Parece-me que falta emoção na propaganda de Alckmin, quando trata da questão da corrupção no governo. É preciso chamar o eleitor nos brios. Todo mundo sabe o que é certo e o que é errado e, fora essa gente que rouba dinheiro público, a maioria das pessoas, mesmo quando erra, fica com um problema na co