A dor de ter que lidar com o desconhecido, a dor do impacto ao receber o diagnóstico. A dor de se saber doente de fato. A dor de ter ‘contaminado’ entes queridos. A dor da rejeição. A dor da perda da labuta – sua sobrevivência. A dor do afastamento do abraço e do carinho. A dor que pode abrir caminho para a solidão. A dor da exclusão. A própria dor física. A dor de se sentir incapacitado. A dor de ser visto como ‘diferente’. A dor moral. A minha própria dor.
É tão explícita a minha impotência. O que faço com o homem. O que faço com sua dor?
Reflito:
Faço o que posso. Apuro meu ‘olhar’ e minha ‘escuta’. Misturo o que sinto com o que ele me traz. Fico ‘distante’, porém próxima. Assento-o defronte a um cenário - aquele no qual se desenrola sua própria vida. Na mesa ao lado, mil cores espalhadas. Ele as escolhe aleatoriamente. Ora opta por cores fortes, ora, por tons pastéis. Não importa, a decisão é dele. É ele que vai abrir as portas para o retorno da cor em sua vida. Com a revinda da cor ressurge a presença do calor. Com a presença do calor, a retomada do ritmo do seu coração e o compasso dos seus passos. O brilho nos olhos, uma nova expressão. Um movimento doce e suave: o caminho da esperança, da retornança para ele mesmo.
texto elaborado em 2003 para sensibilização de profissionais da área da saúde (Programa de Hanseníase/SP)