Em número oficial redondo, 170 milhões de brasileiros, dotados de uma magnífica terra que parece não ter fim, mas que, todavia, se estreita em algumas gigantescas cidades, autênticos vulcões prontos a explodir carne humana, onde, em avessa humanidade, a hediondez criminosa grassa e os cidadãos se benzem à saída de casa.
Brasil, palavra doce e cheia de sol, de luar platinado, gostinho de boca a pronunciar, a dizer-se com alma, nação de povo benquisto, alegre, paciente, patrioticamente dado e sacrificado para que o destino do seu deslumbrante país tenha promissão e se transforme num paraíso.
Como é possível que Luís Inácio Lula tenha chegado à máxima responsabilidade de uma tão bela pátria assim? De caras, dos pés à cabeça e logo que abre a boca, Lula não apresenta a mínima condição para gerir tamanho complexo. Tem algo de "abrenúncio" que a democracia do voto haja eleito um vulgaríssimo inepto. A boa vontade e a força física jamais superaram ou superarão a capacidade cerebral. Esperaria o Povo Brasileiro de Deus um milagre? Apre, até os milagres pronunciam inteligência!...
A que propósito vem pois este lamento? Vem, porque os importantes factos reais, em catadupa, começam todos, tal e qual um invisível espermatozóide, nos factozinhos que se diversificam e multiplicam aos biliões.
Um factozinho?... Só dois e quase insignificantes em face da gritante relevância que mesmo à ponta do nariz eclode!
Um cidadão e sua esposa, ambos professores, pegam seu automóvel e vão à sua vida dentro da habitual azáfama quotidiana. De repente, porque o vermelho que regula o trânsito está aceso, param e surge de pronto a intimação estupidificante:
- Oi... Velhinho, chega pra lá, encosta à velhota, vá... Agora quem vai guiar sou eu... Vamos todos dar uma voltinha.
Empurrado por um pistolão encostado à testa, o professor aconchega-se a sua mulher e desde logo começa, paralisado de espanto, intimamente a rezar aos insondáveis desígnios do espírito...
Desta feita, os energúmenos eram só de classe muitíssimo atrasada e bastante trapalhões. Levaram duas centenas de reais, dois telemóveis, as alianças do casal e, para verem as horas do próximo assalto, o relógio do professor.
- Oi, Milinha, estás bem?... Ó mulher, tivemos sorte. Entre o mal todo, logramos a parte melhor. Vá, revigora, o susto já passou...
Doutra feita, passado um mês, se tanto - quem vai andar com a mesma coisa na cabeça o resto da vida? - o professor regressa sozinho a casa após ter terminado uma palestra sobre relações humanas num recinto religioso. Os bandidos, agradados do aspecto da vítima e da marca da viatura, planeiam em cima do olho e actuam mais uma vez:
- Olá, velhão, anda, chega outra vez para lá, tem juizinho e porta-te bem... Senão!...
São três vómitos sociais, de pistolão em riste, que se presumem com direito à vida, fodendo os outros de qualquer forma e feitio.
- Olha lá, ó velho finório, como é que esta merda funciona? Tens truques no teu carrinho, tens? Toma lá... Pimba... Pimba... E pimba...
O professor sangra e, estonteado pelas pancadas, é espoliado de todos os seus objectos pessoais e do dinheiro que traz consigo. De seguida é abandonado num sítio ao jeito dos ladrões. Pede de imediato ajuda a um táxi e regressa a casa fortemente combalido. A esposa, ao vê-lo num estado assim, aflita e fora de si - pudera! - nem sabe o que há-de fazer. São uns vizinhos que acorrem e tomam a iniciativa de conduzir o professor ao hospital...
Neste preciso instante estou metendo os dedos sobre as teclas com intensidade perfurante e, ao contrário da maioria das pessoas, interrogo-me revoltada e nervosamente:
- Merda, porque será que estas coisas tão "interessantes" não acontecem a mim? Porque não terei eu oportunidade de exemplificar como se deve fazer para começar a eliminar estas "tempestades humanas" que Deus envia para os outros? Eu, merda, não tenho a quem dar satisfações ou tomar precauções por causa de outrem. Porque não virão dois ou três filhos da puta assaltar-me? Adoro uma aventura que me solicite num ápice a capacidade de improviso. Sobretudo, adoro ser provocado em nome de Deus! Torno-me de imediato num dragão a deitar labaredas.
- Senhor do céu, por favor, guarda dois ou três que sobrem para mim. Estou desejoso de te oferecer dois ou três cordeirinhos assados no altar, ou, oferecer-me todo inteirinho!...
Apre, arre, porra, chiça... E não é pão o que esses humanóides procuram e querem... O que quererão? Eu sei o que eles querem. Querem apenas uma viagem de borla para o infinito.
António Torre da Guia |