Senhor contribuinte brasileiro, esse 26 de maio de 2006 tem um signifi-cado muito especial para você. O 146º dia do ano é uma trivial sexta-feira, a igreja católica celebra entre outros santos, São Felipe Néri, consi-derado o “Santo da Alegria”.
Pois é, aproveite essa data e extravase toda a sua alegria. Pule, grite, esperneie e à moda Pelé, estufe o peito, salte e dê um soco no ar. Você merece. Não esqueça essa data. Ela é bem mais importante que o seu aniversário, o dia das mães, o dia dos pais ou o dia dos namorados. Em 2006, a partir do dia 26 de maio, você começa a trabalhar para si e para ajudar no sustento da família, pois até agora, esses 145 dias do ano, você suou apenas para pagar os tributos ao governo. Portanto, caro con-tribuinte, essa data tem um significado de Ano Novo e com muita razão.
Em troca da excelente saúde pública que nós temos (veja a excelência de atendimento dos hospitais públicos), da infalível segurança pública das grandes cidades brasileiras (São Paulo é um exemplo), das moderníssi-mas estradas que unem os mais longínquos e diferentes rincões desse belo país, dos irretocáveis padrões de ensinos públicos fundamental e superior, nós, brasileiros contribuintes, dedicamos integralmente 145 di-as do nosso trabalho para o governo. Isto pode ser explicado transfor-mando em número de dias, os 39,72% do nosso rendimento bruto que são abocanhados pelo fisco. É incrível, mas é verdade.
A fonte dos índices é o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Se você concorda que nos últimos tempos, cada ano de governo “a situação do povo” melhorou, a explicação pode estar na escala cres-cente da carga tributária. Em 2004, o fisco nos levava 37,81% da nossa renda bruta; em 2005, a taxa cresceu para 38,35% e nesse ano de 2006, as projeções indicam 39,72%.
Pode orgulhar-se contribuinte – nessa louca corrida de impostos escor-chantes, estamos à frente de nobres cidadãos de 13 países que se cons-tituem nas maiores economias do mundo. Atualmente, estamos atrás apenas da Itália e da França. Dá pra rir ou pra chorar?
Lembre-se estimado contribuinte, os salários e as mordomias do legisla-tivo (e o combustível deles entra nessa), os altos vencimentos do execu-tivo (presidente, ministros, governadores, vices, adjuntos, secretários, aspones etc) e do judiciário (agora sem o nepotismo) vêm desses 145 dias que compulsoriamente dedicamos à pátria. Eles hão de dizer: “mas os poderes são indispensáveis para a democracia”. Sim! Concordo ple-namente, sem o estado de direito, o país vira bagunça, mas... e o povo? Que democracia é esta que só têm vez, as velhas oligarquias ou os gru-pos dominantes? Para a massa o que é que sobra? Muitas vezes, so-mente as sobras chegam ao povo sob a forma de iscas eleitorais.
Praticamente, o retorno dessa vergonhosa carga tributária, em termos de benefício social, é desprezível. A educação há muito tempo foi privatiza-da. As universidades públicas sucateadas sobrevivem em estado de pe-núria; os seus professores que tiveram os seus mestrados e doutorados custeados pelo dinheiro público estão se aposentando e migrando para as universidades particulares onde existem melhores condições de trabalho. E a Saúde? Tem bom atendimento quem pode pagar os famigerados pla-nos, a cada dia com mensalidades proibitivas. Quanto à segurança, os paliativos são grades, cercas elétricas, circuitos fechados de vídeo, carros blindados, guardas particulares etc.
Sem exceção, qualquer dos últimos presidentes da República, se per-guntado para onde vai o dinheiro dos impostos, a resposta está na ponta da língua: “para pagar a dívida pública”. É, caro contribuinte, até a dívida que os “homens” do poder contraem, levam o seu nome! Isto significa dizer que embora dedicando 145 dias de trabalho por ano, ou seja, 39,72% de toda a sua renda bruta, estamos atolados em dívida até o pescoço.