Acabei agora mesmo de apagar o televisor, após ouvir o noticiário da noite, o qual se seguiu ao jogo Portugal-França em sub-21, realizado em Braga, a contar para o Campeonato Europeu da categoria.
Num dado momento do prélio decorrente, estavam os portugueses, com Quaresma e tudo, a perder por um golo, um dos símios-papagaios da farsa bolear, referiu-se aos jovens jogadores como excelente "matéria prima" para o futuro de Portugal... O que será que a enorme maioria dos portugueses irá ganhar com semelhante desiderato? Se calhar, tanto como a maioria do povo brasileiro, que já foi cinco vezes campeão do mundo e também já está olhando entusiasticamente para os cinco dedos da outra mão a fim de contar até dez com a palma sempre vazia!...
Assim, terminado o jogo, de imediato o noticiário se iniciou e, ao longo de 20 minutos, sequer se abordou uma das instantes preocupações do nosso trágico-cómico quotidiano.
O primeiro-ministro foi assistir ao jogo. Claro, o nosso timoneiro, além de todos os graves problemas que nos afectam, tem todo o direito, como qualquer cidadão comum, de fruir a relaxante emoção de ver um jogo de futebol protagonizado por bem musculados e entrosados jovens em início de carreira... Disse o nosso engenheiro falhado que, apesar da derrota verificada face aos franceses, Portugal irá recuperar nos próximos jogos. Pois... Pois... Pois...
Ainda sobre futebol, o nosso emigrante Boa Morte, declarou que, embora perpassando por um momento menos bom, iria fazer tudo para morrer gloriosamente na Alemanha. Outrossim, o fenómeno de Manchester, o tal rapazote inocente que "violou-mas-não-violou" uma moça inglesa e logo de seguida apontou o seu anelar em direcção ao "fecho da dignidade" portuguesa. afirmou que a equipa das quinas fará o impossível para não dar cabo do resto dos castelos de Ourique. Palpita-me que este miúdo ainda vai ser um craque superlativo em Espanha, terreno assaz ideal para vir a terminar a carreira com um par de cornos instalado entre os seus mais significativos troféus.
Importa ainda referir que, na qualidade de entendido comentarista do importantíssimo jogo internacional, esteve o célebre "cai-ao-chão-e-levanta" do nosso exímio futebol, o qual, após tão dignificantes exemplos futebolísticos e o despedimento do Boavista, já está a ver por que parte do testo há-de entrar na próxima panelinha.
Numa altura em que o primeiro-ministro está empenhadíssimo na redução das despesas do nosso actual estádio mental e o desemprego abre brechas em todos os cantos, a TVI colocou dois "pivots" a sincopar as notícias, ou mais exactamente, um "pivot" e uma "pivota", um papagaio com cãs brancas e uma arara morena, um par excelente que falou, falou (falou o quê e para quê?) e não disse absolutamente nada.
Portugal Zero!...
António Torre da Guia |